Central Comics

Banda Desenhada, Cinema, Animação, TV, Videojogos

Quimbé e Sintagma juntos para dar voz aos próximos talentos da dobragem nacional

Dobragem
Sintagma

O Central Comics participou numa das oficinas de dobragem que a Sintagma e o Quimbé estão a organizar. O mais difícil foi perceber se nos divertimos mais do que aprendemos, ou vice-versa!

Luz de esperança para a dobragem portuguesa

Numa era de insegurança nas artes e de assimilações culturais em Portugal, o Central Comics juntou-se ao esforço conjunto entre uma das mais acarinhadas vozes portuguesas e uma das mais icónicas empresas do setor audiovisual nacional — Quimbé e Sintagma juntaram-se para partilhar aquilo de que mais gostam e melhor fazem com todos.

Embora, na sua base, se trate de uma iniciativa para promover os nossos mais fundamentais valores culturais, desengane-se quem pensa que este se trata de um condescendente canto do cisne da dobragem portuguesa, já que aqui fala-se a sério… ou a brincar, dependendo da faixa que se está a trabalhar. Uma coisa é certa: foi-nos oferecido um vislumbre para o setor da dobragem, com profissionalismo, rigor e ainda mais humor. E é precisamente esta tríade de qualidades que a união entre Quimbé e a Sintagma produziu.

«Faço isto porque quero ajudar a malta a aprender a trabalhar nas suas paixões», comentou Quimbé num dos coffee breaks da formação. Quando quis esclarecer se estava a referir-se ao amor à indústria, respondeu-me no seu estilo inconfundível: «Estou-me pouco cagando para a indústria! Comecei a dar formação em dobragem porque percebi que era algo que a malta adorava e não havia opções para o fazer Portugal, a não ser a nível profissional ou para quem é podre de rico. Como nem todas as pessoas têm as mesmas condições, decidi ajudá-las. Ouve, isto tem o potencial de ser um dream maker e é isso que eu quero ser: um dream maker

Mais tarde, após o almoço, tive oportunidade de trocar algumas palavras com o Pedro Freitas, Diretor de Som da Sintagma, que não falhou uma única vez em responder a qualquer pergunta feita por todos os participantes antes, durante e até após o workshop. «Demos a primeira formação em dobragem em 2019. Como esta é uma especialização com a qual mais trabalhamos e não é fácil encontrar talentos profissionais, pensámos ser lógico avançarmos nós com a formação para também assim alargarmos o conjunto de artistas com quem podemos trabalhar», disse-me, antes de acrescentar: «É óbvio que nem toda a gente vem por motivos profissionais e há quem venha para ter uma nova experiência ou para desenvolver competências ao nível do discurso — é muito importante irmos adquirindo novas competências ao longo da nossa vida, seja quais forem e em que área estejamos. Há até quem venha apenas para se divertir e acabe a repetir o workshop por ter adorado».

Quimbé, o personagem.

Um nervosismo ensurdecedor

O sábado de 27 de janeiro de 2024 acordou frio e ligeiramente húmido, mas da alvorada, pouco mais me lembro desde os momentos em que saí de casa e toquei à campainha dos escritórios da Sintagma, em Carcavelos, já que cheguei com 10 minutos de atraso para o primeiro de dois dias do Módulo 1 do Workshop de Dobragem em Animação. Abriu-me a porta um tipo com um ar paradoxalmente acolhedor e assertivo, o Pedro Freitas, que transmitia uma mensagem clara: entra, meu caro. Mas, aqui, pias fininho porque quem manda, sou eu. Lá dentro, esperavam-me 12 almas tão desconhecidas e desconfortáveis quanto eu, sem dúvida, lhes parecia.

Começámos com apresentações entre indivíduos num grupo de desconhecidos com interesses cúmplices e desinteresse recíproco, sem grande capacidade discursiva além das habituais declamações de idade, ocupação e demais superficialidades, seguidas de momentos de silêncio constrangedor a denunciar os pensamentos gritados de cada um aos restantes: «****-se, mas em que é que eu me vim meter?»

Este nervosismo ensurdecedor perdurou mais 15 minutos, até que novo toque da campainha interrompeu o calvário da pobre criatura que tentava falar no momento. Quando o Pedro abriu a porta, não pude evitar pensar: «mas este gajo saiu do Boom Festival diretamente para um workshop de dobragem?»

– – Talvez esta seja a altura ideal para vos informar que eu era a pessoa ideal para participar nesta oficina com uma postura imparcial, tendo em conta que nunca tinha ouvido falar no Quimbé… Eu sei, crio conteúdo para um site de cultura pop e nunca ouvi falar neste personagem? Bom, quem sabe o que faço, sabe que sou, acima de tudo, gamer. E foi assim que (re)conheci o Quimbé — a voz de D. João III, em Civilization VI, e do Helius, em God of War, além de todas as vozes em Chimparty. – –

Obviamente acabado de cair da cama e despojado de qualquer vestígio de hesitação, prosseguiu a cumprimentar calorosamente todas as pessoas na sala como se as conhecesse há décadas, com abraços calorosos, beijos amistosos e um sorriso contagiante.

Após as apresentações e os costumários ice breakers destas andanças, passámos aos exercícios de aquecimento de voz, durante os quais notei que o silêncio e o constrangimento iniciais deram as mãos para se despedirem a título definitivo e nunca mais voltarem aos módulos em que participei. De repente, deixámos de estar num grupo de desconhecidos para fazermos parte de um grupo de amigos ansiosos por saber mais acerca uns dos outros. O nervosismo desapareceu para dar lugar à camaradagem.

Malta porreira.

Aprender dobragem

Mas o que é que se aprende (ou faz!) num workshop de dobragem?

As dúvidas depressa foram desaparecendo à medida que nos ia sendo explicado que tipo de equipamento existe num estúdio, como este funciona, as boas práticas em dobragem, os cuidados a ter com a voz, como trabalhar e treinar a voz, e muitos outros segredos da dobragem profissional.

Contudo, para mim, a melhor parte desta aprendizagem e o que mais valioso retirei desta experiência foram mesmo as histórias e as experiências pessoais e profissionais que o Quimbé e o Pedro partilharam connosco. De facto, esta foi uma das razões que me fez regressar no fim de semana de 6 e 7 de abril para o Módulo 2, em que aprofundámos os nossos conhecimentos e passámos o tempo quase inteiro em estúdio a gravar um portefólio pessoal que cada um teve oportunidade de levar consigo. Por falar em estúdio…

Há botões a serem explicados.

Quando te passam o microfone

Considero-me uma pessoa razoavelmente extrovertida e sociável, além de nunca ter tido problemas em falar em público. No entanto, perante a perspetiva de entrar numa cabine vazia para atuar para um conjunto de pessoas que nos vão ouvir apenas e só a nós, comecei a sentir algumas gotículas de suor formarem-se na testa e um formigueiro nos joelhos. Não vos minto — o nó no estômago demora a desaparecer, mas a partir do momento em que fechei a porta da cabine de som, percebi que aquele era o meu espaço e só me preocupei em desfrutar de cada segundo. O mundo lá fora ficou pequeno para a confiança que ganhei e me foi transmitida pelos meus interlocutores, Quimbé e Pedro, que iam expondo o mapa do caminho que devia trilhar, com algumas instruções e dicas que um ouvido sem treino ignora, e outras que ainda agora não percebo bem por que razão as tive de seguir, como enfiar o dedo no nariz ou apertar os «tintins». Seja como for, confio nos meus mentores, pelo que, já preparei a justificação para quando estiver a treinar vozes em casa e a minha namorada entrar no quarto enquanto eu estou a fazer a voz do Tartaruga Genial agachado e de polegar no rabo: «o Quimbé disse que é assim que se faz».

Dentro do estúdio, fomos ocupando a cabine de som à vez para trabalhar uma série de vídeos escolhidos tanto por, como para nós, incluindo tudo desde títulos como My Hero Academia e Caça-Fantasmas, até spots publicitários e apresentações empresariais. Nesta oficina, somos livres para trabalhar o que quisermos, seja numa perspetiva de começar a construir um portefólio naquilo em que nos destacamos, ou com o espírito de experimentar coisas novas e sair da zona de conforto.

A todas as técnicas novas que aprendi, defeitos que desconhecia e virtudes que ignorava na minha voz, acresce que adorei a experiência de gravar e tentei aproveitar todos os momentos ao máximo durante as cerca de duas horas de estúdio que me foram disponibilizadas.

O Quimbé disse que é assim que se faz!

Pousar o microfone para abrir as portas da dobragem

Como tudo o que é bom na vida, também esta experiência teve um final. Porém, o mundo do audiovisual é fértil em finais suspensos to be continued. Não sei se será o caso de todas as pessoas que participam nos Workshops de Dobragem em Animação da Sintagma e do Quimbé, mas, no meu caso, embora tenha pousado (por agora) o microfone do estúdio da Sintagma, vou aproveitar a porta entreaberta para a indústria da dobragem audiovisual e entrar para explorar um pouco mais.

Às pessoas interessadas em participar nas próximas edições do workshop, mas ainda indecisas quanto ao investimento, posso apenas transmitir a mensagem de que, embora não existam garantias de entrada no mercado de trabalho (nunca existem), há algo que vos garanto: diverti-me à brava e tive oportunidade de conhecer pessoas extremamente interessantes com personalidades e projetos únicos, como o Gabriel que veio da Suíça para nos mostrar como se faz a coisa, a Cindy (que, entretanto, se tornou ídolo do meu filho), a Rita e a sua boa disposição, a Teresa e a sua leveza, o Raul e o seu talento, o João com o seu vozeirão, a Sara e a sua simpatia, o Manuel e os seus alteregos, o Pedro e a Tânia com a sua divertida dinâmica, e muitos mais a quem aproveito para enviar por aqui um grande abraço. Como diria o lendário Emanuel quando inadvertidamente criou o lema do primeiro grupo ao imortalizar as palavras do João: «Obrigado… HERÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓIS!»

Mais malta fixe que fica na memória.

Estão disponíveis aqui mais informações sobre os próximos Workshops de Dobragem em animação da Sintagma e do Quimbé.

2 thoughts on “Quimbé e Sintagma juntos para dar voz aos próximos talentos da dobragem nacional

  1. Digamos que foi uma experiência de vida incrível, acredito que muitos pensam que é só falar ao microfone, mas não, é algo de outro mundo;
    Algo onde podemos nos expressar, algo onde podemos ser só nós mesmos sem nos preocupamos com mais nada.
    Entretanto aprender várias técnicas de som, com o grande Quimbé e Pedro Freitas foi das melhores utilidades e ainda me lembro de algumas delas.
    Quem tiver a oportunidade de querer e poder participar, aproveitem, não se vão arrepender, pelo contrário iram se divertir à brava!
    Obrigado… HERÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓÓIS!

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