Cinema: Crítica – Terrifier 3 – Aterrorizante
O palhaço Art está de volta em Terrifier 3 – Aterrorizante para mais um massacre brutal, mas também regressam os problemas habituais.
Devo admitir que sempre admirei a perseverança de Damien Leone como realizador. Lembro-me perfeitamente de quando All Hallows’ Eve começou a espalhar-se pelos fóruns de aficionados de filmes de terror, e todos olhávamos com curiosidade para Art, o palhaço antagonista, perguntando-nos sobre o seu potencial. A resposta viria anos depois com Terrifier, que acabou por nos trazer uma trilogia completa entre 2016 e 2024.
Ao terceiro filme, parece que Leone acertou novamente na fórmula e procura oferecer mais conteúdo ao espectador além dos massacres atrozes do nosso caro palhaço demoníaco (que se tornou, entretanto, num dos grandes nomes do cinema de terror), enquanto, mantém a oferta de sague, vísceras e cenas chocantes que os espectadores esperam ver.
Confesso que, inicialmente, fiquei um pouco confuso com a forma como a linha temporal da história nos foi apresentada. Primeiramente, andamos aos saltos entre a cena de abertura (que imagino acontecer algures durante a narrativa do filme), depois voltamos cinco anos atrás, para depois regressarmos ao presente. Como podem imaginar, é toda uma confusão, criada apenas para justificar a cena inicial, que oferece de imediato uma bela dose de sangue e gritos, dando uma espécie de tom ao filme que vamos ver.
Falando dos arcos narrativos propriamente ditos, destacam-se dois: o de Art, que prepara a sua vingança contra a heroína Sienna Shaw, servindo como pano de fundo para todos os crimes e sustos que o vemos cometer, e o arco de Sienna (interpretada por Lauren LaVera), que passa por uma história de redenção e de luta contra os traumas que lhe foram impostos no filme anterior. Gostaria de referir que a atuação de LaVera como uma personagem que sofre de PTSD e que acaba por espelhar as atitudes do irmão no filme passado chama bastante a atenção, por não abordar o conceito de heroína/final girl de uma forma convencional. Além disso, a introdução de novos membros da família Shaw, em especial Gabbie, a prima mais nova que vê Sienna como um modelo a seguir, sem ter completa noção do que aconteceu aos irmãos Shaw, torna certos momentos numa espécie de drama familiar sobre doenças mentais, por acaso ambientado na época natalícia.
Porém, do lado de Art, tudo isto muda completamente. Com uma “nova” aliada (quem viu o segundo filme sabe bem de quem falo), o palhaço, a quem David Howard Thornton dá vida, rouba novamente o protagonismo. A personagem já estava bem estabelecida, é certo, mas, ao mesmo tempo, ficamos a conhecer mais alguns detalhes sobre o que realmente é esta entidade, o que torna tudo mais divertido. No entanto, houve momentos em que me questionei bastante sobre o estado mental de Art, devido a certas situações que decorrem ao longo do filme (especialmente a partir do momento em que surge o fato de Pai Natal), onde senti que, por vezes, era preferível que as restantes personagens permanecessem quietas para que nada de mal acontecesse. No entanto, todas as interações da personagem e a interpretação através dos gestos são deliciosas, oferecendo uma nova perspetiva deste assassino.
E, na minha opinião, é aqui que residem as maiores falhas de Terrifier 3: a forma como a hiperviolência é utilizada. Consigo entendê-la como uma forma de estender a narrativa; no entanto, sinto que é utilizada em momentos excessivamente longos. Nem todas as mortes precisam de ser comparadas à famosa morte do quarto no capítulo anterior (embora haja uma que consegue ser ainda mais ousada e caótica, que tenho quase a certeza será ainda mais memorável), mas, tal como no filme anterior, sinto que poderiam ser mais curtas. Digo isto porque, a certo ponto, estes momentos que deveriam ser chocantes acabam por se tornar algo cómicos. A sério, caro leitor, houve momentos em que, em vez de estar horrorizado, estava a rir-me às gargalhadas, pois o momento foi arrastado de tal maneira que se torna um pouco ridículo. Além disso, duas horas de filme continua a ser demasiado para a saga. Se cortassem 15 minutos, teríamos o ponto ideal e conseguiríamos contar a mesma história. Também devo notar que o último terço é demasiado apressado, o que prejudica o filme em certos pontos.
Em suma, Terrifier 3 – Aterrorizante é um terceiro capítulo fenomenal que ainda apresenta algumas dores de crescimento, mas que, ao mesmo tempo, estabelece Art e Sienna como grandes personagens do terror moderno.
Nota: 7/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.