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Cinema: Crítica – O Velho e a Espada

O Velho e a Espada combina fantasia, humor e muito coração, para fazer um filme perfeitamente imperfeito.

O Velho e a Espada

Há algo de belo no cinema de baixo orçamento, uma espécie de magia difícil de explicar, mas que, quando acontece, dá um certo gozo ver. É o prazer de assistir a um grupo de pessoas a fazer muito com pouco, a transformar limitações em estilo e a provar que o cinema não vive apenas de grandes meios, mas sobretudo de paixão.

O Velho e a Espada, de Fábio Powers, insere-se perfeitamente nessa categoria. Desde os primeiros minutos se percebe que estamos perante uma obra feita com poucos recursos, mas com uma identidade muito própria. Notam-se claramente as influências do realizador, do anime ao tokusatsu, passando pelos filmes de terror de série B, e é precisamente nesse caldeirão de referências que o filme encontra o seu charme.

O Velho e a Espada

A história centra-se em António (ou Tonho) , aquele que podemos considerar o “bêbado da aldeia”, interpretado por António da Luz, um homem que sempre sonhou participar num filme e que, infelizmente, faleceu após concretizar esse sonho. É comovente saber disso, pois a sua presença em cena carrega uma autenticidade rara: o olhar cansado, o andar trôpego e o sorriso sincero tornam António numa figura ao mesmo tempo trágica e heróica. Ao seu lado, a voz imponente de João Loy dá vida à espada demoníaca, companheira e guia na missão de derrotar uma energia maléfica que ameaça uma outrora pacata aldeia da Beira Baixa.

Há ainda um tom agridoce que atravessa o filme: trata-se também da última participação de Luís Aleluia no cinema, já que a produção decorreu pouco antes da sua morte. A sua presença, breve mas marcante, é uma lembrança do talento e da generosidade com que sempre se entregou às personagens.

O Velho e a Espada

No entanto, é no papel de António que está presente a maior parte do sumo do filme. O Velho e a Espada é um exemplo de como o cinema pode nascer da comunidade, aproveitando tudo o que a aldeia tinha para oferecer, ruas, campos, habitantes, e, em vez de esconder as suas imperfeições, exibe-as com orgulho. O resultado é um retrato quase artesanal, sincero e carregado de imaginação.

O humor é um dos grandes trunfos do filme. As piadas surgem naturalmente, bem encaixadas no contexto, e algumas delas revelam uma inteligência surpreendente, mesmo quando disfarçadas de parvoíce. É nesse equilíbrio entre o riso e o absurdo, entre o improviso e o sonho, que O Velho e a Espada encontra o seu brilho.

O Velho e a Espada

O Velho e a Espada é um filme imperfeito, sim, mas vivo, autêntico e cheio de coração. E talvez seja precisamente essa imperfeição o que o torna tão belo.

Nota: 7/10

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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