Cinema: Crítica – Hurry Up Tomorrow
The Weeknd inspira-se no seu disco homónimo Hurry Up Tomorrow para um filme semi auto-biográfico, servindo de acompanhante para o álbum.
Filmes baseados em discos não são nada de novo – Prince estreou Purple Rain em 1984, enquanto que Beyoncé lançou Lemonade para promover um dos álbuns da sua carreira, e de sempre. Poderá ser discutido que estas adaptações visuais têm, obrigatoriamente, conter uma visão semelhante que a do disco, sobretudo se o artista tem intervenção directa na produção. O desafio proposto nos dias que correm é como atrair os públicos que não estão familiarizados com as suas obras musicais, num filme transcendente. Isto é algo que Abel Tesfaye aka The Weeknd quer imortalizar com Hurry Up Tomorrow, o disco que encerra o seu capítulo sob este nome.
Com um elenco de luxo, que se juntam a Tesfaye, está Jenna Ortega, como uma fã misteriosa que conhece o seu cantor favorito, e Barry Keoghan, como o melhor amigo. Nesta viagem emocionante, acompanhamos Abel numa tournée que lhe está a levar os seus nervos ao limite, enquanto o mesmo lida com um amor quebrado.
Durante quase duas horas, esta viagem metafórica faz algum sentido, quando este tenta ser um filme que cumpre com uma narrativa tradicional. O problema reside quando frequentemente se descai no videoclipe mais longo da história, ao esquecer-se da música. No meio disto, há uma enorme turbulência, ao vermos algo que se esforça muito para tentar ser contrair as expectativas, acabando por compensar a mais e ser mais flagrante nas suas intenções; e este nem é o maior dos seus problemas.
Não se pode chamar de pretencioso, pois a obra assumidamente quer-se se mostrar acessível aos fãs do disco e do artista, neste projecto que é, no fundo, um acompanhante visual que se alia à sua banda sonora no mundo real. Por outro lado, talvez exista alguma pretensão por parte de Tesfaye, sendo esta uma nova grande segunda oportunidade de demonstrar o que vale como actor, após o fracasso da série da HBO The Idol, que cativou milhões para o que acabaria por ser um desastre de culto. O filme não está demasiado longe, mas ainda reserva uma quantidade generosa de esperança para o artista, esperando mesmo que este consiga protagonizar um filme ou série e receber o mesmo tipo de aplauso que recebe da sua música.
No fim, Hurry Up Tomorrow é um exercício na materialização da futilidade narcisista de um artista, disfarçado em filme, que no fundo é uma reflexão de um disco que, também ele, é o término de Tesfaye como The Weeknd. A ideia é boa, a execução é agradável aos olhos, mas conteúdo para estimular o espectador, não há muito por onde percorrer. Boa sorte Abel, talvez noutra vida!
Nota Final: 2/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.