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Análise BD: Thorgal, Adeus Aarícia 

Há séries que nos marcam pela grandiosidade da sua aventura, outras pelo poder das suas emoções. Thorgal, genialmente escrita por Jean Van Hamme (que tanto admiro), consegue ser ambas.

É uma epopeia profunda, onde o fantástico e o humano se entrelaçam com uma naturalidade quase mítica. A cada álbum, somos convidados a mergulhar num universo onde o destino pesa, o amor arde e a honra é uma bússola tão implacável quanto necessária.

THORGAL SAGA vol. 1: ADEUS AARICIA

Jean Van Hamme escreve com a precisão de um ourives e o coração de um poeta. A sua escrita não precisa de artificiosidade para tocar o leitor — apenas de verdade.

E essa verdade, quando se junta ao traço inconfundível de Rosinskium dos meus ilustradores favoritos de sempre — transforma-se em arte pura. Há um peso emocional nos desenhos de Grzegorz Rosinski que ultrapassa a técnica: é quase sensorial. Ele não ilustra cenas; ele esculpe emoções.

O traço de Rosinski… é pura magia. É realismo rude e beleza etérea ao mesmo tempo. Ele é, sem dúvida, um verdadeiro mestre da composição, da expressão e da atmosfera. Cada vinheta sua respira vida. A forma como desenha os rostos, as paisagens, os silêncios — tudo comunica. É impossível não se perder nos seus painéis, que mais parecem pinturas do que simples desenhos.

Mas hoje quero destacar um álbum em particular: Adeus Aaricia, publicado em Portugal pela editora Aseita.

Este álbum é, sem sombra de dúvida, uma das histórias mais tocantes de todo o universo Thorgal.

THORGAL SAGA vol. 1: ADEUS AARICIA

Sem revelar nada — porque Thorgal merece ser descoberto página a página — posso apenas dizer que se trata de uma despedida. Mas não é uma despedida qualquer. É uma carta de amor. Um testamento. Uma meditação visual sobre o tempo, a perda e a ternura. É daqueles livros que se fecham devagar, com os olhos ligeiramente húmidos e o coração apertado — e ao mesmo tempo, pleno.

E a edição da Aseita está absolutamente à altura da grandiosidade do conteúdo. O cuidado gráfico, a qualidade de impressão, a escolha do papel, a belíssima capa e o respeito pela arte original — tudo foi tratado com o carinho de quem sabe o que tem em mãos. É uma edição digna de colecção, e uma prova de que em Portugal há espaço — e público — para a banda desenhada franco-belga de excelência, tratada com respeito.

Que mais posso dizer? Só que Adeus Aaricia não é apenas um título bonito — é uma experiência. Uma daquelas leituras que ficam, ecoam e voltam, de vez em quando, à memória. Como uma canção triste, mas bela. Como o olhar de alguém que amamos.

E por isso, deixo aqui um desejo: que a Aseita continue este trabalho fantástico, tanto com a série principal como com os maravilhosos spin-offs da Thorgal Saga, que expandem e aprofundam este universo com um cuidado admirável. Que venham mais edições, mais álbuns, mais histórias. Porque enquanto houver leitores que acreditam na força da boa banda desenhada — e enquanto houver editores com paixão e coragemThorgal viverá.

THORGAL SAGA vol. 1: ADEUS AARICIA

Carlos Maciel

O Carlos gosta tanto de banda desenhada que, se a Marvel, a DC, os mangas, fummeti, comic americano e Franco-Belga fundissem uma religião, ele era o primeiro mártir. Provavelmente morria esmagado por uma pilha de livros do Astérix e novelas gráficas 😞 Dizem que cada um tem um superpoder; o dele é saber distinguir um balão de pensamento de um balão de fala às três da manhã, depois de seis copos de vinho e um debate entre o Alan Moore e o Kentaro Miura num café existencial em Bruxelas onde um brinde traria um eclipse tão negro quanto dramático, mas em que a conta era paga pelo Bruce Wayne enquanto o Tony Stark vai mudar a água às azeitonas.

One thought on “Análise BD: Thorgal, Adeus Aarícia 

  1. Análise bem estruturada , e abrangente , na qual me revejo enquanto leitor da uma série que acompanho há décadas.
    A falta de edição em português nunca me parou, mas fico muito satisfeito por a série estar a ser publicada em português, permitindo um acompanhar da mesma a quem não lê francês (ou inglês ou outra).

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