Análise BD: Alack Sinner – Bófia ou Detetive
“Alack Sinner – Bófia ou Detetive” é o segundo álbum do selo da coleção Angoulême que a Devir se propôs a publicar a partir deste ano de 2025.
Alack Sinner é uma banda desenhada de género noir e policial, criada pelos autores argentinos Carlos Sampayo (argumento) e José Muñoz (desenho). Apesar da sua origem argentina, a série foi originalmente publicada em francês, a partir de 1975, em revistas influentes como a icónica Métal Hurlant. As histórias surgiram inicialmente em episódios para revistas, para depois serem compiladas em álbuns. Esta publicação em francês foi decisiva para o sucesso internacional da série, que é hoje considerada uma obra-prima do género policial.
A edição portuguesa da Devir, intitulada Alack Sinner – Bófia ou Detetive, reúne uma seleção de histórias dos primeiros anos da série. Não se trata de uma coleção completa ou sequencial, mas sim de um apanhado escolhido para representar o universo noir e a complexidade do personagem principal. Esta curadoria editorial permite ao leitor descobrir 6 das histórias mais emblemáticas da série, refletindo a essência da obra sem seguir uma ordem cronológica rígida.
Este livro faz parte da coleção Angoulême, dedicada a obras de banda desenhada que ao longo dos anos ganharam prémios no mais importante festival de BD da europa. Alack Sinner ganhou o Grande Prémio em 1983.
Alack Sinner é um ex-polícia da cidade de Nova Iorque que se torna detetive privado, navegando por um mundo sombrio marcado por violência, racismo, corrupção e injustiças sociais. Aliás, a primeira história, “Conversa com Joe”, não sendo a primeira aventura escrita e desenhada do herói, conta as suas origens como detetive privado. .
O argumento de Carlos Sampayo tem o seu quê de profundidade e sensibilidade. Ele utiliza o género noir como meio para explorar questões sociais urgentes, como o racismo institucional, o abuso de poder, a marginalização e a luta pela dignidade humana. Apesar das curtas histórias, consegue construir personagens com algum grau de complexidade e que refletem o mundo que os rodeia. E é um feito obter essa riqueza narrativa em tão curtas histórias que consegue elevar a BD a uma obra literária que transcende o mero entretenimento.
O desenho de José Muñoz é outra das razões pelas quais Alack Sinner é tão peculiar. Com o seu estilo expressionista a preto e branco, ele utiliza sombras profundas e linhas fortes para criar uma atmosfera carregada de tensão e emoção. Poder-se-ia dizer que o traço retorcido de Muñoz, ora caricatural, ora grotesco, é capaz de captar todo um universo urbano opressivo em que a trama de movimenta. A arte não é apenas ilustrativa, mas sim parte integrante da narrativa, intensificando o drama e o impacto emocional da história. Esta estética única e ousada que Muñoz apresentou desde os anos 1970 acredito que tenha influenciou várias gerações de artistas de banda desenhada como por exemplo Frank Miller, Mike Mignola, entre muitos outros.
Quanto ao formato escolhido pela Devir para este livro e para toda a coleção, tem sido um tema bastante debatido e criticado nas redes sociais. Por um lado, a editora consegue trazer obras de grande importância a um preço acessível, o que é claramente uma vantagem para os leitores portugueses cujo orçamentos familiar não lhes permite grandes loucuras. Por outro lado, o formato tem sido considerado pequeno demais para a qualidade e dimensão das obras publicadas.
Este formato reduzido faz com que a arte fique “mirrada” e o texto demasiado pequeno, o que prejudica claramente a leitura e a experiência visual. Além disso, nota-se que poderia ser aproveitado muito melhor o espaço disponível em cada página, ampliando a “mancha” da banda desenhada ao máximo possível. Isso beneficiaria não só a arte, tornando-a mais percetível e valorizada, como também o texto, que teria muito mais espaço para “respirar” nos balões e facilitar a leitura.
Em vez disso, o que vemos são margens brancas desproporcionais em redor de cada prancha, sem uma necessidade aparente que justifique este desperdício de espaço. Esta decisão editorial levanta dúvidas, sobretudo porque ainda agrava as diferenças para com o formato original .
No entanto, importa também referir que a qualidade do papel e da encadernação desta edição é elevada, e aqui não há nada a apontar. Pelo contrário, o acabamento é cuidado, e papel mate é de boa qualidade e gramagem e respeita aquilo que a obra merece.
É possível que “Alack Sinner – Bófia ou Detetive” possa ter sido uma aposta de risco, mas é sem dúvida um ponto de referência obrigatório para fãs do género noir policial, da banda desenhada adulta e da narrativa gráfica crítica.
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Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.
acredito que tenha influenciou várias gerações de artistas de banda desenhada como por exemplo Frank Miller, Mike Mignola, entre muitos outros.
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que falta de coragem:
https://bedeteca.wordpress.com/2023/10/13/keith-giffen-1952-2023/