Mais que BD, The Sandman é arte, filosofia e legado eterno
The Sandman sempre foi uma das mais aclamadas séries de Banda Desenhada de sempre, apreciada por todos aqueles que apreciam mitologia, folclore e fantasia.
Escrito pelo britânico Neil Gaiman (n. 1960) e publicado pela DC Comics, através do selo Vertigo, The Sandman teve a sua primeira publicação em 1989 e o enredo das suas histórias gira em torno de Sonho (Dream), também chamado de Morpheus, que governa o Reino dos Sonhos. Morpheus é um dos Sete Perpétuos ou Eternos (The Endless), entidades cósmicas que representam conceitos universais: Destino, Morte, Sonho, Destruição, Desejo, Desespero e Delírio.
O que torna as suas histórias envolventes, ao conciliar a narrativa principal com várias histórias curtas ou com arcos independentes, é ainda a influência dos contos de fadas combinados com o terror gótico e a ficção histórica, contribuindo para enriquecer consideravelmente a mitologia do universo de Sandman.
O impacto cultural de The Sandman é notável e permitiu-nos, já no início dos anos 90, revisitar com interesse os temas mais ricos da literatura, dos mitos e do folclore de ordem sobrenatural, envolvendo claramente a magia e conceitos cosmológicos alternativos. Colocou de parte a ideia que para uma revista de BD ser bem sucedida teria de ser dedicada quase exclusivamente ao mundo dos super-heróis (ainda que estes tenham uma mitologia clara) em perpétua luta contra vilões, visando salvar o mundo.
The Sandman permitiu legitimar a BD como uma forma de arte literária e chegou a fazer parte da lista de best-sellers do The New York Times, algo raro para o género. Para todos os efeitos, The Sandman demonstrou que a banda desenhada podia explorar temas filosóficos, literários, sombrios, ocultistas e existenciais com profundidade, atraindo leitores adultos e exigentes.
Não é exagero afirmar que o universo de The Sandman, que continuou a ser explorado em revistas da DC/Vertigo através de outros títulos ao longo das últimas décadas (Death, Dreaming, Books of Magic, Lucifer, entre outros), é uma criação dotada de maior sensibilidade intelectual que transcende o mero entretenimento.
Tido como uma obra de ficção obrigatória e envolvente, passaria do mundo bidimensional da BD para ser adaptada a uma série televisiva, cuja primeira temporada estreou na Netflix em 2022. Ambiciosa e visualmente marcante, a série conta com o actor Tom Sturridge (n. 1985) no papel de Morpheus, Kirby Howell-Baptiste (n. 1987) no papel de Morte (Death), Boyd Holbrook (n. 1981) como o pesadelo/serial killer Coríntio, Vivienne Acheampong (n. 1984) como a bibliotecária Lucienne e Gwendoline Christie (n. 1978) como um andrógino Lúcifer, senhor do Inferno.
Desenvolvida por Neil Gaiman, David S. Goyer e Allan Heinberg, a série mistura inevitavelmente fantasia, horror e mitologia, mantendo fielmente os arcos dos primeiros volumes Prelúdios e Nocturnos e Casa de Bonecas. A história começa com Morpheus (Tom Sturridge), que é aprisionado por um ocultista na Inglaterra de 1916 (que na verdade pretendia capturar a sua irmã Morte) e consegue escapar apenas em 2022, encontrando o reino do Sonho devastado e a fazer os possíveis por recuperar seus itens de poder.
A próxima temporada de 12 episódios de The Sandman estreia a Julho de 2025 e conta com já com um trailer, prometendo dar continuidade mas, previsivelmente, projetada para encerrar por conta das mais recentes acusações das alegadas agressões sexuais e má conduta por parte do escritor Neil Gaiman.
Para os que procuram separar as águas e são fieis ao universo que tantos anseiam por revisitar, que ganhou uma importância, devoção e expressão muito própria, tanto entre fãs como muitos outros autores (como os que trabalham em Deuses Americanos) a segunda temporada de The Sandman procura revitalizar o que permitiu atrair uma nova geração de seguidores. Além de expandir a série e incluir novas personagens, serão adaptados os seguintes arcos:
- Estação das Brumas: Morpheus recebe a chave do Inferno após Lúcifer optar por partir, levando-o a organizar um grande banquete para decidir a quem deve de facto oferecer a chave desse reino, que é reclamado por um diferentes deuses e seres mitológicos.
- Vidas Breves: Morpheus e Delírio partem em busca do irmão Destruição, lidando com a culpa, responsabilidade e reconciliação através de um arco que explora a complexidade da relação e o drama familiar existente entre os Perpétuos, levando alguns a questionar quem de facto é o maior vilão que motivou toda uma série de lutas e intrigas entre entidades tão poderosas.
A série pode ser vista na Netflix.
Felizmente, pequenas histórias como A Midsummer Night’s Dream (inspirada na obra homónima de Willian Shakeaspeare), Tales in the Sand e The Song of Orpheus também estão confirmadas através desta última temporada, prometendo incluir parte do que poderíamos considerar como essencial ou obrigatório em The Sandman, cujo universo criativo merece ser revisitado.

Fascinado por História da Arte e pelo Universo Criativo da Ficção, é um entusiasta consumidor de Banda Desenhada além de leitor assíduo de obras de Ficção Científica e de Terror, com particular predileção pelo Oculto e o Sobrenatural