Cinema: Crítica – Cactus Jack (2021)
No Central Comics, tivemos a oportunidade de ver (em segurança) o filme independente Cactus Jack, através da sua estreia mundial que decorreu numa versão online do Twisted Dreams Film Festival.
Primeiramente, deixem-me enquadrar-vos nesta experiência. Cactus Jack é um filme independente realizado pelos The Thornton Brothers, que tem apenas dois atores a protagonizar o filme todo, mas dando um grande destaque a R. Michael Gull. O filme foi filmado como arquivo encontrado e, tem como ponto de partida, um documentário amador sobre um homem que vivo há meio ano na cave de casa da própria mãe. Inicialmente pensado que ele se tratava de um lunático, o nosso documentarista rapidamente descobre um homem cheio de raiva. Sem que nada se avizinhasse, o assustador homem aprisionou o documentalista e decidiu fazer um podcast venenoso, que instantaneamente faz inimigos e prometendo uma violenta retribuição casa viessem atrás do mesmo. Convém também referir que, toda esta situação acontece em 2016, uns meses antes de Donald Trump subir ao poder no governo dos Estados Unidos da América.
Há algo que temos que tomar logo consciência quando falamos de Cactus Jack, nomeadamente, o facto de o filme se auto-proclamar e se considerar provocador. E a verdade é que tem todo o seu valor para se chamar assim, já que a personagem de Ronald/Cactus Jack interpretada por Gull é o estereotipo perfeito de um americano que apoia Donald Trump (ele próprio, ao longo do filme, repete diversas vezes que o mesmo irá ganhar as eleições e irá fazer dos EUA um melhor lugar, porque “diz a verdade”). E é assustador pensar que realmente existem pessoas assim, mostrando o quão aterrorizante é aquele país em termos de pensamento. Um país rodeado de injustiça racial, xenofobia e violência, que muitos naquele país culpam a “terroristas” que são oriundos de outros países, ou de outra raça. Também nos faz entender, caso já não soubéssemos, que a verdade é que os verdadeiros terroristas são domésticos e vivem o seu dia-a-dia naturalmente junto a todos os outros, sem levantar suspeitas.
Depois deste devaneio, mostrando que o filme na realidade é um filme de “Terror Político”, posso-vos dizer que, da forma que foi gravado e com um orçamento tão baixo (20 mil dólares), Cactus Jack pode ser considerado uma obra-prima dos filmes independentes e tem potencial para se tornar um filme de culto a certa altura no seu percurso. É um trabalho de amor, feito por irmãos e que mostra que não é preciso muito para conseguir explicar situações que poderiam acontecer num qualquer sítio naquele país (não de forma tão exagerada como a mostrada, mas poderia acontecer). Acaba por também ser um filme sobre a sociedade ligada à Internet, já que o podcast retratado acaba por se difundir pela Internet e pelas redes sociais, mostrando a reação das pessoas durante breves momentos. Também não posso negar que se trata de um filme violento, especialmente com cenas de tortura e referência a filmes de “horror pornográfico” como Saw.
Mudando um pouco o tema agora, gostaria de falar da experiência que é ver um filme de festival em casa. Estamos no meio de uma pandemia, então penso que seja natural que os festivais de cinema, em conjunto com realizadores tentem encontrar forma de continuar a mostrar as suas obras. E conseguir ver filmes desses, numa noite ou tarde de inverno, em casa no quentinho sabe sempre bem. Além disso, acabou por ser uma oportunidade única de ver uma estreia mundial, mesmo sendo um filme independente. Se a pandemia continuar assim, penso que esta é uma bela forma de se adaptar o conteúdo de festival a esta nova realidade, não escondendo que gostaria de ver tal coisas acontecer em Portugal, num dos inúmeros festivais que temos, ao invés de adiaram a sua realização.
Para concluir sobre o filme, gostaria apenas de dizer que Cactus Jack é daqueles filmes que devemos ver com atenção, para pensar. Também digo que é completamente natural ficar impressionado com o que acontece no filme, já que mostra algo que poderia muito bem ser uma realidade distorcida ou até já ter passado na mente de alguém.
Nota Final: 7/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.