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Cinema: Crítica – Bob Marley: One Love

Biopics de músicos icónicos têm sido uma espécie de trend, nos últimos anos, desde Bohemian Rhapsody, a ilustrar a carreira dos Queen, a Rocketman mostrar-nos a vida de Elton John, a dramatização destes artistas têm muitas vezes servido como entrada para explorar pela primeira vez, ou a milésima, a discografia dos mesmos, e de algum modo alimentar da nostalgia. Depois do sucesso de King Richard, e toda a subsequente campanha de prémios, incluindo nos Óscares, Reinaldo Marcus Green regressa na realização com Bob Marley: One Love.

No meio de um dos momentos mais tumultos e violentos na Jamaica, o já popular e famoso Bob Marley (Kingsley Ben-Adir) está a tentar garantir a paz via a música, mas demonstra ser uma tarefa difícil quando o mesmo é alvo dos gangues que tomam assalto nas ruas. Desejoso em criar o derradeiro disco, este voa até Londres, onde, ao lado dos seus parceiros musicais The Wailers, escrevem um dos discos mais icónicos de Marley, explorando alguns dos anos mais importantes do artista.

Produzido por vários membros da família Marley, e com Brad Pitt como produtor executivo, seria de esperar que estaríamos perante um filme que não só homenageasse o impacto cultural de Bob Marley, que ainda hoje persiste no mundo diariamente, como mostrasse, pelo menos em parte, do lado mais intimo da história dele. Acontece que Bob Marley: One Love não faz ambas coisas propriamente bem.

Tal como alguns biopics passam de leve nas partes menos boas de um artista, ou das dinâmicas entre outros membros da banda, focando invés nas partes positivas e realmente duradoras, esta mostra de uma realidade acaba por ser quebrada e não tão correcta quanto imagino que sejam as intenções dos produtores, isto acaba que o espectador seja forçado a interpretar uma perspectiva mais ou menos parcial, o que nem sempre beneficia a obra.

Focando nos quatro anos mais intensos da sua vida, entre 1974 e 1978, Green abre-nos uma pequena janela na vida de Marley, acabando por cair em literalmente todos os clichés do género, não oferecendo propriamente algo verdadeiramente entusiasmante sobre um artista considerado intenso e rebelde. É bizarro estarmos perante um filme onde a personagem é encarada quase sempre com uma calma natural e não como o soldado musical, em modo “tudo ou nada”, que Marley era verdadeiramente conhecido. É uma grave consequência, pois a impressão que fica é que se não fosse a tentativa de assassinato em 1974, este não seria tão ambicioso na gravação de Exodus.

Ainda que o elenco seja impressionante – Kingsley Ben-Adir e Lashana Lynch, como Rita Marley são o grande destaque do filme – as restantes personagens parecem só existir para fazer número, com muito das suas influências a serem praticamente ignoradas durante as duas horas de filme.

Nisto, Bob Marley: One Love pode ser realmente a entrada para o mundo do artista, mas longe de ser uma biopic com algum tipo de valor real, funcionando mais como uma doutrinação de apenas uma pequena parte do mundo de Marley e como se tornou no símbolo que hoje conhecemos, passando de leve nas partes mais “complicadas” da sua vida. Merecia melhor, com uma obra mais honesta, mas este é o resultado final que prova o que acontece quando não existe uma imparcialidade biográfica.

Nota Final: 4/10

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