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Análise jogos: Retreat to Enen

Caça, recolhe, constrói o teu abrigo — faz tudo para sobreviver, mas não te esqueças de respirar. Retreat to Enen disponível em acesso antecipado a partir de 1 de agosto.

No ano 3600 da nossa era, a humanidade encontra-se num ponto decisivo. Após séculos de guerra sem fim, o ser humano conseguiu finalmente autodestruir-se… ou quase! Resta apenas um punhado de pessoas que optou por deixar para trás o conflito e guiar-se pela paz e pela comunhão com a natureza.

Em Retreat to Enen, vestimos a pele de um (ou uma) jovem que está prestes a enfrentar o seu ritual de autodescoberta para encontrar o seu lugar no mundo. Para tal, temos de sobreviver num cenário paradisíaco enquanto tentamos descobrir os vários mistérios de meditação a caminho da lendária Enen. Entre as atividades habituais nos jogos de sobrevivência — caçar, recolher, explorar, construir e fabricar — Retreat to Enen apresenta-nos um desafio adicional: meditar.

A Freedom Games publica Retreat to Enen, jogo desenvolvido pela Head West, a 1 de agosto de 2022.

É verdade! Retreat to Enen é mesmo (mais) um jogo de sobrevivência, mas com uma nova proposta: a meditação. O jogo chega até a sugerir que o próprio jogador acompanhe a personagem nos exercícios de respiração (embora faça questão de deixar claro que não é uma aplicação de bem-estar mental e que quem estiver a sofrer de algum tipo de problema deve procurar ajuda especializada – a meu ver um ponto a favor de que escreveu o jogo).

No meu primeiro jogo de Retreat to Enen, acordei num cenário paradisíaco e tratei de seguir as instruções do tutorial. Já se sabe, o normal em jogos de sobrevivência: apanhei uns paus e umas pedras, fiz uma fogueira, comi, bebi, construí um abrigo, respirei (já lá vamos), bebi mais água… e morri envenenado porque não sabia fazer um antídoto! Aqui vai a primeira crítica ao jogo: o tutorial deixa muito a desejar. Mas vá! Alento e vamos tentar novamente! Foi aqui que descobri que estava a jogar em permadeath (quando morremos, não largamos apenas o nosso inventário e voltamos a reaparecer noutro ponto do mapa — quando morremos, começamos de novo)! Toca a fazer tudo de novo (mas antes deixa-me espreitar na internet como não morrer assim tão facilmente em Retreat to Enen). Voltei a comer, beber (fiz um antídoto), dormir e respirar. Sim, há que respirar. O mapa tem umas quantas redomas espalhadas aqui e ali onde podemos parar para respirar. O bem-estar mental conta como outra métrica de sobrevivência qualquer, por exemplo, sede e fome. Quando se esgota a barra que mede este valor, perdemos. Para o evitar, temos de parar nestas redomas e respirar. Quando digo temos, refiro-me à personagem, mas nós podemos acompanhar, já que temos tempo. Pois, esta atividade consiste mesmo e, parar e esperar uns quantos segundos enquanto o personagem respira. Não há minijogos para completar, história para ler, efeitos visuais para contemplar — apenas… respirar. Está correto, é a minha segunda crítica a Retreat to Enen.

Para descrever os gráficos e o som de Retreat to Enen, vou usar um termo técnico universal: são um mimo! Esqueçam a novidade do respirar e a já batida jogabilidade de sobrevivência (não se equivoquem, sou um verdadeiro fã de jogos de sobrevivência. Talvez seja por isso que serei sempre tão exigente no que toca a este género). Onde Retreat to Enen se destaca verdadeiramente é no ambiente que consegue criar através dos gráficos e do som. Não sendo possível ir lá passar umas férias para apanhar banhos de sol, este é um mundo que dá vontade de explorar. Mesmo que o mapa não seja criado em procedural generation, isso não é necessariamente uma desvantagem se o ambiente for interessante (p. ex. Subnautica, Project Zomboid, etc.), e Retreat to Enen, na minha opinião, cumpre este requisito.

Contudo, e em toda a sinceridade, não existem muitos outros pontos a destacar em Retreat to Enen. Estou até com alguma dificuldade em escrever sobre novos aspetos a cobrir neste artigo. Trata-se de um jogo de sobrevivência com uma jogabilidade completamente normal, exceto pela mecânica de respirar. Também não me convence o contexto do jogo. A humanidade decidiu adotar um caminho de paz e comunhão com a natureza, mas ainda caçamos? Por falar nisso, somos tecnologicamente avançados o suficiente para ter um dispositivo que extrai recursos por nós e mais um par de botas a troco de estado de espírito (a tal mecânica de respirar/meditar), mas temos de fabricar uma lança e construir armadilhas para coelhos com pedras e paus para apanhar os bichos? «Mas André, não vês que faz parte do conceito da prova de autodescoberta teres de fazer essas coisas à mão e ires evoluindo»? Então para que é que me deram o dispositivo tecnológico? Deixem-me apanhar minerais também sem tecnologia, nem que seja com os dentes! Não sei, talvez esteja a ser demasiado picuinhas, mas corta-me completamente a imersão, que considero ser o aspeto mais importante em qualquer jogo de sobrevivência.

Experimentei o jogo em beta testing fechado (um agradecimento especial aos desenvolvedores do jogo por cederem a chave à Central Comics), mas deu-me a sensação de estar a jogar um pré-alfa. Encontrei demasiados bugs para sequer conseguir gravar um vídeo de gameplay e o conteúdo do jogo ainda é demasiado limitado. O mundo, por muito bonito que seja, está muito vazio, a história ainda está mal contada, o tutorial precisa de ser melhorado… enfim, talvez regresse a Retreat to Enen dentro de uns meses para fazer justiça ao jogo, visto que ainda está numa fase muito embrionária e os desenvolvedores são ativos, o que promete boas coisas para o futuro, mas por agora, a minha avaliação é esta.

Retreat to Enen brilha pelos seus gráficos. O mundo já é muito bonito e ainda há um longo caminho pela frente e muitas coisas a serem acrescentadas. Em exploração, Retreat to Enen já está lá muito perto.

No que toca ao lado menos bom, não posso deixar de referir a falta de conteúdo e a incapacidade de inovação do pouco conteúdo existente. Se bem que em acesso antecipado, Retreat to Enen falhou em convencer-me na sua principal mecânica: meditação. E esta pode bem ser uma falha fatal, já que serve de base para o conceito central do jogo.

Classificação: 4/10

Não consigo dar nota positiva a Retreat to Enen. Gráficos e som não fazem um jogo. Um título de 24,99 € tem de ter bem mais. Mas proponho o seguinte: vamos esperar uns meses, e voltamos a Retreat to Enen para ver como estão as coisas. Se a história tiver evoluído e a mecânica da meditação passar a fazer sentido, prometo mudar a nota e até fazer um vídeo de gameplay. Por agora, fica assim.

Para terminar, fica a dica indispensável: inspira… expira… e não te esqueças do antídoto!

Trailer Retreat to Enen:

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