Jogos: Shadow Man Remastered – Análise
O sombrio jogo de plataformas “Shadow Man”, baseado na banda desenhada da Valiant Comics, está de regresso, desta vez para as consolas modernas!
Em Shadow Man Remastered somos convidados a viver uns dias na pele de Michael LeRoi, o segundo protagonista na BD a assumir o manto. Cabe-nos derrotar o malvado Legion e os seus cinco seguidores antes que conquistem o mundo dos vivos.
LeRoi é tudo menos um super-herói. Manipulado pelo pesar da sua alma a assumir o cargo de Shadow Man, Michael serve Mama Nettie, uma feiticeira Voodoo que o obriga a manter a paz no mundo dos vivos e dos mortos, Liveside e Deadside respetivamente.
O jogo conta-nos a sua história e serve-nos com gameplay sem nos dar a mão ou apontar em certas direções, assume que o jogador sabe o que faz e está, não só disposto, mas interessado em investir as suas devidas horas nesta experiência. Traz-nos mistérios por revelar e suscita-nos a curiosidade, tanto nas mecânicas e mapas do jogo como na narrativa do mesmo.
Claro que uma leitura da origem de LeRoi, na altura escrita por Ennis, pode bem servir o jogador com um pouco mais de informação sobre o protagonista e o seu mundo, mas a narração de Redd Pepper, embora em pontos forçada e sobretudo agressivamente “grimdark”, “edgy” ou o que lhe quiserem chamar, serve bem o propósito de contextualizar, embora ambiguamente, o personagem e o seu mundo.
E por falar em Pepper, a vasta maioria do elenco traz excelentes vozes, mas em alguns casos o jogo peca pela má ou ausente direção dos atores e pelo diálogo “manhoso” para não dizer pior. A introdução fala por si em todos estes pontos, ao estabelecer um cenário sombrio e um misterioso vilão, pontuada por um momento de qualidade humorística indiscutível, intocável e tudo menos intencional.
Mas vá lá, é um jogo de 97, tem praticamente a minha idade, e mostra os defeitos e feitios presentes na altura. A jogabilidade cheira a Tomb Raider e Soul Reaver, este Metroid–Vania 3D traz consigo platforming bem conseguido (algo surpreendente para a altura e que atualmente ainda pode dar umas boas dores de cabeça), uma panóplia de artigos para colecionar que nos dão melhorias e evoluem o personagem (o que os torna ainda mais aliciantes), e, claro, muito back-tracking pelos vários e por vezes enormes mapas do jogo.
Logo no primeiro nível apresentam-nos umas três ou quatro áreas escondidas com artigos e outros bónus a colecionar quando estivermos mais fortes, isto é maximizar os frutos dum trabalho bem feito e, para os jogadores mais dedicados, são mais uma horinha ou duas de jogo para o completar a 100%.
À falta de guias, cabe ao jogador servir-se da sua memória e talvez de um bloquinho de notas à antiga(quando os jogos vinham com manuais e até traziam umas páginas em branco, bem-bom), para poderem revisitar todos os mistérios desvendados quando ainda lhes faltavam certas habilidades.
E então este Remaster pelas mãos da Nightdive?
Saiu no ano passado para o PC e chegou agora para a PS4, Xbox One (versão em análise, gentilmente oferecida) e Nintendo Switch. Traz uma data de melhorias para o jogador, principalmente a roda de seleção de armas que permite uma mais rápida troca de equipamento sem ter de navegar menus, vem também com o overhaul audiovisual esperado de um remaster para as consolas modernas(ou salvo seja, pelo menos à falta de stock para esta mais recente geração), por fim, num ato de restauro digno de museu, a Nightdive consegue reintegrar 4 mapas cortados do jogo original e uma mão cheia de novas armas, fazendo desta a versão definitiva do jogo.
Por fim, gostava de tirar este momento para saudar a Nightdive por tudo o que têm feito pela preservação dos videojogos com os quais muitos crescemos.
O desenvolvimento e disponibilização de ports de jogos clássicos e a remasterização dos mesmos traz estas experiências, por muitas vezes esquecidas, para os sistemas modernos, permitindo assim aos jogadores pegar nas versões originais com as quais cresceram ou nas versões otimizadas e adaptadas aos novos status quo de jogabilidade e qualidade visual.
Num ecossistema onde cada vez mais as grandes empresas removem acesso aos seus títulos mais antigos num esforço por vender os mais recentes como os “definitivos” ao torna-los os únicos acessíveis, nota-se uma tendência de degeneração e esquecimento de muita Propriedade Intelectual. Por vezes deixam-nos à mercê desses portos de pirataria pela web fora para podermos reviver as experiências com as quais crescemos.
Nesse aspeto, os re-releases chegavam, mas a remasterização, esse passo adicional, é o que faz da Nightdive pioneiros na indústria, é o que mostra o amor que trazem aos projetos.
7/10
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!