Os Sete Anões: o filme que (infelizmente) nunca vimos
Na década de 2000, a DisneyToon Studios começou a desenvolver Os Sete Anões, um filme para o mercado videográfico revelando a história que daria origem ao clássico Branca de Neve e os Sete Anões, de 1937.

Após a morte de Walt Disney em dezembro de 1966, o estúdio respeitou os seus desejos e descartou a ideia de fazer uma continuação “daquele que começou tudo”. Na verdade, por anos, o estúdio se evitou fazer longas-metragens em que desse continuidade aos seus clássicos filmes de animação, com excepção de Bernardo e Bianca na Cangurulândia em 1990.
Mas em 1994, a política de “sem filmes continuação” mudou rapidamente com o lançamento direto para vídeo da continuação de Aladdin, O Regresso de Jafar. As continuações diretas para vídeo podiam ser feitas de forma mais rápida e barata do que os seus anteriores filmes para as salas de cinema, produzindo lucros, e preservando qualidade reconhecida por críticos e espectadores.
Seguiram-se continuações para O Rei Leão, A Bela e o Monstro, A Pequena Sereia, A Dama e o Vagabundo, A Gata Borralheira e Pocahontas.
No entanto, Branca de Neve e os Sete Anões continuava intocável!
Até que a DisneyToon começou a expandir a sua produção, destacando personagens secundárias nascidas nos clássicos filmes. A DisneyToon escolheu a companheira mais fiel de Peter Pan, Sininho, para ser a primeira protagonista desse plano, e de imediato foram lançados três filmes das Fadas.

A popularidade dos anões de Branca de Neve começou a ser considerada para produzir um novo filme! Em 2005 a DisneyToon preparava-se para se desviar dos trabalhos anteriores com o filme Os Sete Anões, uma obra mais sombria de que outras obras dos estúdio e incluiria ainda elementos cómicos.
Os Sete Anões
passaram por vários escritores e realizadores antes de cair nas mãos dos irmãos Paul e Gaëtan Brizzi, responsáveis pelo segmento Firebird Suite de Fantasia 2000. A versão do filme de Paul e Gaëtan Brizzi seria acompanhar a vida dos sete anões até que eles finalmente encurralavam o vilão principal do filme clássico no espelho mágico que configura o início de Branca de Neve e os Sete Anões.
Antecipando o sucesso do filme, a Disney contratou a Obsidian Entertainment para criar o jogo para Anões. O jogo seria uma prequela da prequela, com foco nos ancestrais dos anões. Cada um dos sete anões teria um ancestral de natureza semelhante. Kevin D. Saunders, então designer e produtor na Obsidian, escreveu o esboço do jogo, que foi então desenvolvido por Brian Mitsoda.
Mas apesar do progresso feito no filme e no jogo Anões, o resultado não era o que os executivos da DisneyToons pretendiam. E, apesar da DisneyToon apreciar o argumento dos irmãos Brizzi, o filme teve de seguir outro caminho.
Depois de ter trabalhado na história dos filmes da Sininho e de ter realizado a curta A Origem de Stitch, Mike Disa assumiu o projecto para explicar como os anões se conheceram e como a Rainha assumiu o trono do pai de Branca de Neve.

Com Disa, entrou o argumentista Evan Spiliotopoulos.
O argumento do filme foi extremamente bem recebido, com a presidente da Disneytoons, Sharon Morrill, a concordar com a visão do realizador e do argumentista para a prequela, dando-lhes liberdade criativa. Com grandes expectativas, a Disney começou a planear três filmes animados por computador para os Anões. Os filmes seguiriam o regresso a casa das personagens mineiras, para as suas famílias e amigos, após a morte da Rainha Má no filme de 1937.
Imaginado como a resposta a O Senhor dos Anéis, o plano pretendia rever a longa história dos anões e da sua cultura, com a dupla criativa a concluirem que o filme seria totalmente diferente em comparação com as outras continuações das histórias clássicas da Disney.
A versão de Mike Disa de Os Sete Anões
Esta versão era para começar com Dunga e Zangado a viverem numa vila com outros anões até que uma série de “acidentes”, força os dois anões a uma jornada para as “Terras Antigas”. Durante a viagem, Dunga e Zangado encontram os restantes cinco anões, que se juntam à jornada pelos seus próprios motivos. A viagem acaba por ser repleta de peripécias que definem o futuro da vida dos Anões.
O encontro com um bruxo maligno leva-os a conhecer a bela jovem Narcisa, com quem os anões criam um vínculo forte. Rapidamente Narcisa revela ser uma antagonista.
Narcisa e o seu pai usam os sete anões para acessar aos antigos poderes mágicos do Anão Velho. Narcisa então trai o seu próprio pai, o que leva à sua escravidão no espelho mágico, como visto no original Branca de Neve.
Com os seus novos poderes mágicos, Narcisa revolta-se contra os anões, terminando a história com ela a destronar o pai de Branca de Neve e assumindo o papel da Rainha Má. Os sete anões escondem-se e protegem as suas famílias da ira da Rainha Má.

O filme começou a ser desenvolvido, e Ryan Roberts começou a trabalhar na parte artística. O entusiasmo perante a qualidade da história era tal, que começou a ser equacionada a estreia nos cinemas de Os Sete Anões, através da Walt Disney Feature Animation.
Disa não apreciou a ideia.
Perante tanto entusiasmo em redor da história e do filme, Mike Disa refere que a Disneytoon mudou o rumo da prequela para se focar no acontecimento da vida de Dunga que o leva a perder a voz: testemunhar a morte da sua mãe.
Disa considerou a ideia muito sombria e inadequada para a história em que ele estava a trabalhar. Os executivos da DisneyToon Studios também sentiram que o argumento original do filme era “muito sombrio” e queriam um filme mais alegre. Mas, insistiam em desenvolver o trauma de Dunga.

Mike Disa não aceitava mudar a sua história. Os executivos exigiam a Disa que Dunga falasse e que a história fosse alterada, pois pretendiam apresentar o filme ao diretor criativo da Disney, John Lasseter. A resposta de Disa terá sido “Eu não vou entrar no escritório de John Lasseter e apresentar-lhe o filme Dunga Não Fala por Estar Emocionalmente Assustado!”
Com tanta insistência, Mike Disa acabou por deixar o projecto devido às abordagens criativas.
O executivo da DisneyToon Studios – que inicialmente sugeriu que Dunga falasse – assumiu a realização de Os Sete Anões.
Após apresentar a sua ideia a John Lasseter, o projecto foi de imediato cancelado.
“Tivemos a ideia para virar a continuação da clássica história da Disney de cabeça para baixo. Pensamos: ‘Há boas histórias que valem a pena contar’, mas fazer apenas a uma nova versão da história original e sem graça não nos satisfez artisticamente. Então, como nenhum de nós estava particularmente preocupado em encontrar um emprego, decidimos tentar algo realmente diferente.” referiu Mike Disa numa entrevista em 2013.
“Os filmes precisam de realizadores apaixonados pelo material, não apenas por receber um cheque.”
Anos mais tarde, Mike Disa acabou por partilhar duas versões iniciais para um trailer de planificação de produção ainda com o título de Branca de Neve II e com a data de estreia em 2006.
Uma parte do trailer fi renderizada.
Posteriormente disponibilizou um video onde Zangado e Dunga se encontram pela primeira vez.
Branca de Neve, da Disney, chega aos cinemas em março numa nova versão em imagem real da história que deu origem a tudo. Rachel Zegler e Gal Gadot são as protagonistas do filme realizado por Marc Webb.
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.