O meu marido dorme no congelador | Análise mangá
Mais uma edição de um mangá da editora ASEITA, com um título muito curioso e uma premissa muito interessante.
Este livro revela-se por ser um thriller psicológico com algumas doses de erotismo, mas que acaba por não ter uma intensidade totalmente adulta, e pode perfeitamente adaptar-se ao público juvenil.
A história original é da autora Misaki Yazuki, e a arte é de Yaku Takara.
Seguimos a vida da personagem principal feminina Nana, que sofre de violência doméstica, levando a que esta decida matar o seu marido. Após este dramático acontecimento, dá-se a previsível situação que o título da obra sugere, e Nana esconde o cadáver do marido no seu congelador. O plot twist aparece logo em seguida, quando no dia seguinte vemos o marido aparecer bem de saúde como se nada se tivesse passado, levando-nos a questionar se tudo foi uma alucinação, um sonho ou realidade alterada.
Seguimos a perspetiva de Nana que se questiona como nós enquanto leitores, e adensa-se um mistério e uma trama psicológica que nos deixa conectados com a narrativa, de forma a querer saber o quanto antes o que se está a passar verdadeiramente.
Até este momento da obra, deparo-me com um argumento que me faz recordar géneros de thriller noir de filmes como Memento, Seven, Gone Baby Gone, com um suspense altamente aditivo, temáticas de violência, obsessão, desejo, trauma psicológico, com diálogos interessantes e uma intriga que desperta uma curiosidade enorme, apesar de saber de antemão que algo muito distorcido irá ocorrer.
A premissa decorre com uma elevada tensão emocional, e inclusivamente surge um erotismo muito interessante proporcionado pelo desenho agradável e limpo de Takara, revelando um mangá sedutor aos olhos mais maduros.
No entanto, esta dose de erotismo não chega a atravessar “os limites de velocidade legal”, o que me deixou um pouco dececionado, e após este bom começo, a obra perde-se bastante com uma panóplia de reviravoltas e ideias discrepantes da autora, que levaram a história para outros caminhos que não era bem aquilo que eu esperava…
Aconteceu-me aqui o que é habitual acontecer-me quando leio Stephen King, em que já é comum as histórias e premissas serem super interessantes e criativas, mas a meio a temática altera-se e até chega a perder o sentido…
Falando do desenho de Takara, posso dizer que é bastante competente, com uso muito bom de sombra e luz. Destaca-se a boa expressividade nos rostos das personagens e uma exploração coesa das vinhetas, de forma a presentear uma boa atmosfera e ambientação de suspense e o mistério que a obra requer.
Também a dimensão erótica é bem trabalhada, em especial no recorte do corpo feminino, e os cenários, não sendo perfeitos, traduzem sempre ajustadamente quer as atmosferas sombrias como as mais naturais e calmantes, com um recurso de luminosidade adequada no espaço negativo das vinhetas.
De uma forma geral, posso dizer que gostei da leitura, embora não tenha sido o que eu esperava. Defraudou um pouco as minhas expectativas, mas o facto das personagens serem bem trabalhadas, junto com o desenho eficiente, obtém mais pontos positivos do que negativos.
A obra acaba por ser mais completa no seu todo do que na soma das suas partes. Sendo um one shot, acaba por ser um refresco muito interessante.
A edição é no formato tradicional de mangá, com capa mole sem badanas, e muito competente, a par dos outros títulos do selo editorial Ikigai da ASEITA.
Foi uma boa aposta esta obra fora da caixa dos mangás presentes no nosso mercado, e espero que a editora mantenha o interesse em nos proporcionar mais destas surpresas.
Boas leituras.