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Mês do Terror: Cinema, Literatura e BD para ler na época do Halloween

Outubro traz o regresso das sombras e da memória. É tempo de celebrar os mortos, o terror e o fascínio do desconhecido em filmes, livros e BD.

Época de Recordar os Mortos

Encaramos Outubro como o verdadeiro mês que marca o Outono. É difícil não reconhecer a mudança das copas das árvores semidespidas carregadas de folhas amarelas, vermelhas e laranja, a diferença no clima através da descida de temperaturas e o aumento da incidência de chuva, para além dos dias mais curtos e as noites que tendem gradualmente a ficar mais longas.

O Outono sempre foi de maior importância para as antigas culturas agrárias e os nossos antepassados não poderiam ficar indiferentes, assinalando a mudança de estação com uma série de eventos e festividades que hoje em dia se insinuam como algo de obscurecer ou deitar uma camada de verniz sobre o nosso passado pagão, como se a habituais visitas aos cemitérios e a matança do porco (antigo sacrifício) não fossem uma forma de apaziguar os espíritos inquietos dos mortos.

Claro está, que Outubro é sempre o mês do Terror. O antigo calendário dos povos celtas, germanos e mediterrânicos recordava através do mito a própria mudança de postura dos deuses relacionando-a com o fim do ciclo das colheitas e chegada do Samhain ou Halloween, que de uma forma geral, entre diferentes civilizações e culturas, sempre poderia ser recordado como o Dia dos Mortos.

halloween

Essa data muito especial coincidia com a passagem da noite de 31 de Outubro para o dia 1 de Novembro, quando se acreditava que o véu entre o mundo dos vivos e dos mortos se tornava de tal forma estreito que todos podiam receber em casa os seus ancestrais e se acendiam velas e fogueiras, juntamente com outros costumes, para afastar espíritos danosos e honrar os antepassados que deveriam ser dignificados.

Popularizando-se entre os portugueses como a «Noite das Bruxas» nunca deixou de ter uma relação com o mundo sobrenatural, digno de inspirar o que hoje em dia é revisto como uma época de escuridão e pavor.

Filmes Icónicos

halloween

Naturalmente que recordamos esta época associando-a a filmes que marcaram várias gerações  como Halloween (1978) de John Carpenter (n.1948) quando surge pela primeira vez o serial killer Michael Meyers e a personagem se torna um ícone do terror, associada ao género slasher.

A fórmula foi repetida noutros filmes da saga como Halloween II (1981), além de, evidentemente, rivalizar com Jason Vorhees de Sexta-Feira 13 (Friday the 13th, 1980) outro ícone mascarado responsável por assassinatos brutais e insanos, tal como Leatherface de Massacre no Texas (The Texas Chainsaw Massacre, 1974), clássico do género.

Mas claro está que Michael Meyers e Jason fazem parte de uma época marcante que assistiu ao surgimento do boneco possuído Chucky (Child’s Play, 1988) e ao assassino dos sonhos Freddy Krueger de Pesadelo em Elm Street (1984), ideais para uma maratona de cinema de terror mais que adequada para ser revista em Outubro.

Slashers

Se o interesse passa por serial killers que matam com armas brancas, os filmes da série Gritos (Scream) estreado em 1996, também merecem ser revistos. Mas se a intenção é ver ainda mais sangue e explorar cenas de alto impacto visual, através do género gore, nada como rever a série Saw iniciada em 2004, Hostel (20o5) de Eli Roth, A Noite dos Mortos-Vivos (2013) como actualização da série Evil Dead e os filmes de Terrifier (2016).

Dentro de uma possível maratona sempre se podem incluir-se os clássicos sobrenaturais como O Exorcista (1973), The Evil Dead (1981) de Sam Raimi e o tenebroso Hellraiser (1987) de Clive Barker (n.1952). E por que não rever ainda outros filmes marcantes como A Ninhada (The Brood, 1979), Polteirgeist (1982) de Steven Spielberg e The Thing (1982) de John Carpenter?

Terror e Gore

Sugestões não faltam e, reentrando no mundo dos mortos ou dos fenómenos paranormais, associados também à mediunidade, à bruxaria ou à demonologia, torna-se essencial rever The Blair Witch Project (1999), O Sexto Sentido (The Sixth Sense, 1999), The Haunting (1999), os filmes do universo The Conjuring – A Evocação (The Conjuring, 2013), Babadook (2014) de Jennifer Kent e The Witch (2015) do realizador Robert Eggers (n.1983).

The Witch

E para quem gosta de vampiros ou de histórias de licantropia, além do obrigatório Drácula de Bram Stocker (1992) de Francis Ford Coppola, são sempre recomendáveis Um Lobisomem Americano em Londres (An American Werewolf in London, 1981), The Hunger (1983), Entrevista com o Vampiro (Interview with the Vampire, 1994), 30 Dias de Escuridão (30 Days of Night, 2007), The Wolfman (2010) e, evidentemente, a recente readaptação de Nosferatu (2024) também produzida por Robert Eggers.

Nosferatu
Nosferatu

Humor Negro

Mas claro está que uma época como o mês de Outubro e a passagem para Novembro pode sempre ser mais festiva e a animação aqui tem lugar com filmes de teor mais «leve» e menos dramático. Há quem sempre admire Caça-Fantasmas (Ghostbusters, 1984) e a Família Adams (Adams Family, 1991) e os considere cruciais para inspirar um ambiente divertido.

Neste campo, também a obra cinematográfica de Tim Burton (n.1958) não deixa de servir de referência. Podemos sempre rever Betlejuice (1988), The Nightmare Before Christmas (1993) que sempre motivou a discussão se seria um filme de Natal ou antes dedicado ao Halloween, Sleepy Hollow (1999), A Noiva Cadáver (2005) e Dark Shadows (2012).

The Nighmare Before Christmas

Em suma, a morte o os espectros adquirem sempre uma faceta menos tenebrosa quando se cede ao sentido de humor combinado com a exploração do fantástico, fruto de uma criatividade digna do melhor apreço.

Leituras Obrigatórias

Mas claro que nem tudo tem a ver com o cinema. Entre a cultura e as festividades, a literatura sempre desempenha um papel-chave para quem quer experienciar algo mais e entrar no verdadeiro espírito da época. Lembrar e homenagear os mortos é também recordar a presença de entidades sobrenaturais e monstros que fazem parte dos romances clássicos como Frankenstein (1818) de Mary Shelley, Carmilla (1872) de Sheridan la Fanu, Drácula (1987) de Bram Stocker, The Shining (1977) de Stephen King, para não mencionar os contos de Edgar Allan Poe (1809 – 1949), os de H.P. Lovecraft, de Shirley Jackson (1916 – 1965) e, obviamente, Clive Barker.

The Shining

Os livros de Stephen King que contam com boas produções cinematográficas, como The Mist (O Nevoeiro) e It (a Coisa), sempre contam com boas traduções para português, dignos de serem lidos e completar as nossas estantes de livros. Não deixam de ser exemplos outros bons livros que já deram origem a bons filmes homónimos, como: Os Outros (The Turn of the Screw, 1898) de Henry James, Psicose (1959) de Robert Bloch, O Exorcista (1971) de William Peter Blacky, O Bebé de Rosemary (1967) de Ira Levin, Entrevista com o Vampiro (1976) de Anne Rice e A Mulher de Preto (1983) de Susan Hill.

O Bebé de Rosemary

Em relação a leituras nunca poderíamos esquivar-nos ao universo da banda desenhada. Se não faltam fãs dos mangá de Junji Ito em Portugal, animados com a perspetiva da editora Devir publicar sempre mais álbuns do consagrado autor, é certo que não serão totalmente indiferente à publicação de outros artistas japoneses.

A série mangá Gannibal de Masaaki Ninomiya, que já conta com 5 volumes e tem vindo a ser publicada pela Seita, também é envolvente. Notáveis são os volumes Clube de Ocultismo e as Bonecas da Morte de Hideshi Hino e Terror na Montanha que conta com os autores Jumpei Azumi, Junji Ito, Mimika Itô, Akemi Inokawa, Daisuke Imai e Akihito, publicados pela Sendai Editora.

Terror Sendat

Para quem procura algo diferente, dentro do que tem vindo a ser publicado nos últimos anos, há que referir os álbuns de O Bebé de Rosemary da DC Comics/Black Label e as BD’s de The Walking Dead de Robert Kirkman da Image Comics, publicados e traduzidos para português pela Devir. Recomendados são também os álbuns de Espíritos dos Mortos de Edgar Allan Poe de Richard Corben, Moonshine de Brian Azzarello e Eduardo Risso, Harrow County de Cullen Bunn e Outcast de Robert Kirkman, todos publicados pela G Floy Studio.

 A Bela Casa do Lago 1

Convém ter sempre em mente que esta não é uma lista extensiva e outras mais recomendações poderiam ser feitas. Os portugueses também têm um potencial criativo que merece ser reavivado e recordado nesta época. A sua alma carrega uma propensão dramática própria de um país atlântico que se mantém sob a tutela de Saturno. Lidar com isso exige audácia que é matéria de que se alimenta a própria (auto)descoberta.

Sobressaltos: Terror por Autores Portugueses de BD, lançado em 2016 pela Europress, é um álbum que, dentro do proposto, merece ser recordado. Mas o mais importante é que Outubro nos inspire. Em breve entraremos em Novembro e mais dias escuros virão. Através desses dias, nunca será demais aguçar a nossa curiosidade em matéria do que há de tenebroso, onde espreita o terror. Há uma boa parte de nós que jamais deixará de sentir esse apelo que, na hora de recordar monstros e fantasmas, é entendido não só como o confronto com a nossa própria sombra, mas também com o nosso medo.

sobressaltos

 

Bruno Lourenço

Fascinado por História da Arte e pelo Universo Criativo da Ficção, é um entusiasta consumidor de Banda Desenhada além de leitor assíduo de obras de Ficção Científica e de Terror, com particular predileção pelo Oculto e o Sobrenatural

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