Jogos: Spindle – Análise
Spindle revive o encanto dos clássicos da SNES com uma jornada comovente sobre a morte, a amizade e o equilíbrio, envolta em pixel art fabulosa.
Jogo: Spindle
Disponível para: Nintendo Switch, PC
Versão testada: Nintendo Switch
Desenvolvedora: Wobble Ghost
Editora: Deck13
Há algo estranhamente reconfortante em jogar como a Morte. Spindle, desenvolvido por Wobble Ghost, pega nesse paradoxo e transforma-o numa aventura tocante e peculiar, que parece ter saído diretamente de um cartucho de SNES. Esta não é a ceifeira sombria que se espera, é uma Morte com crise de identidade, uma missão e, acredite-se ou não, um porco como companheiro.
A premissa é simples, mas profunda: ninguém consegue morrer. O ciclo natural da vida colapsou e o caos ferve silenciosamente por baixo da superfície. Tu, como Morte, acordas confusa e estranhamente mortal, partindo à procura do que correu mal. A jornada que se segue é parte investigação, parte introspeção, e surpreendentemente acolhedora.
Em vez de longas exposições ou caixas de diálogo intermináveis, Spindle opta por contar a história através do ambiente. Cada aldeia, floresta e ruína esquecida sussurra pistas sobre o que destruiu o mundo. A escrita não te dá tudo mastigado, convida-te a juntar as peças por ti próprio. E resulta.
Se alguma vez te perdeste em A Link to the Past, vais sentir-te em casa aqui. Spindle assume orgulhosamente as suas influências retro: vista de cima, masmorras em grelha, puzzles de interruptores e combates que recompensam o ritmo e a precisão.
A Morte empunha uma foice que “soa” perfeita, rápida, pesada e satisfatória de usar. Os padrões dos inimigos são distintos o suficiente para tornar cada encontro numa pequena dança de tempo e movimento. As batalhas contra bosses, em particular, são momentos altos: duelos em várias fases que testam tanto os reflexos como a paciência, evocando o melhor do desafio à moda antiga.
Não há sistemas complexos de níveis, criação de itens ou árvores de habilidades inchadas. Spindle mantém-se simples, o teu progresso é a tua mestria. A saúde está ligada à “energia Ódica”, uma mecânica engenhosa que te permite curar ao recolher fragmentos dos inimigos derrotados. É intuitivo, recompensador e mantém o ritmo apertado.
O companheiro suíno não está lá apenas para fazer figura. Ativa interruptores, ajuda em puzzles ambientais e, ocasionalmente, descobre caminhos secretos. No entanto, em combate é maioritariamente passivo, talvez uma oportunidade perdida para mecânicas mais dinâmicas de dupla.
É difícil não nos apaixonar pela direção artística de Spindle. Cada frame parece pintado à mão, cada animação cuidadosamente trabalhada. O mundo respira com pormenores subtis, desde as tochas tremeluzentes em aldeias em ruínas até ao brilho suave da luz espectral nas florestas. É belo sem ser excessivamente polido, e é precisamente aí que reside o seu encanto.
A banda sonora merece igual elogio. Temas guiados pelo piano sobem e descem com o tom da jornada, do pesar ao sereno, do arrepiante ao estranhamente acolhedor. Nunca se torna intrusiva. Há sempre espaço para o silêncio, para o som do vento entre as árvores ou o leve guinchar do teu parceiro porcino. Esses momentos de quietude contam.
Entre masmorras, Spindle permite-te abrandar. Podes pescar (sim, a Morte pode pescar), conversar com aldeões que te saúdam sem medo ou procurar tesouros escondidos, as Death Coins. Estes momentos dão ao jogo um ritmo delicioso, pausas de paz entre momentos de propósito.
E o mundo sente-se inclusivo de forma discreta e significativa. Uma criança com duas mães, por exemplo, é tratada como algo perfeitamente normal. Não há destaque nem simbolismo forçado, apenas vida como ela é, ou melhor, como deveria ser.
Apesar de todo o seu encanto, Spindle não é perfeito. O porco poderia ter um papel mais ativo nos combates, e a falta de traduções localizadas (particularmente em português) pode dificultar a apreciação de algumas subtilezas narrativas por parte de jogadores não anglófonos. Mas são pequenas manchas numa alma que brilha.
Spindle não é um jogo sobre morrer, é um jogo sobre compreender o que torna a vida preciosa. É simultaneamente melancólico e caloroso, cheio de humor, empatia e uma sabedoria tranquila. A sua combinação de mecânicas retro, narrativa com coração e arte expressiva faz dele uma experiência obrigatória para quem aprecia jogos de aventura com personalidade e alma.
Nota: 8/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.







