Jogos: Mario Kart World – Análise
Mario Kart World é a volta mais refrescante que a série deu em anos, mostrando-se ambicioso, imaginativo e indiscutivelmente divertido.
Jogo: Mario Kart World
Disponível para: Nintendo Switch 2
Versão testada: Nintendo Switch 2
Desenvolvedor: Nintendo
Editora: Nintendo
Quando uma franquia tão adorada como Mario Kart decide mudar de rumo, é natural que levante sobrancelhas — e muitas expectativas. Com Mario Kart World, a Nintendo entra finalmente no território do mundo aberto, uma evolução há muito sonhada que abandona o formato tradicional de pistas isoladas em favor de um gigantesco e interligado parque de diversões de karting.
Na verdade, Mario Kart World continua a oferecer aquilo que tornou a franquia famosa: corridas frenéticas e caóticas, cheias de carapaças voadoras, derrapagens controladas e o charme característico que define a jóia da coroa das corridas da Nintendo desde 1992. Mas, desta vez, a linha de partida é apenas isso — o início de uma jornada que serpenteia por um enorme mundo aberto, onde as pistas não acabam… fundem-se umas nas outras.
Mario Kart World introduz uma mudança de paradigma: o formato “Grande Prémio” passa agora a ser uma espécie de viagem por estrada através de múltiplos biomas — palácios de gelo, vulcões, paisagens urbanas e até rotas ao estilo safari na selva. É uma evolução inteligente que dá às corridas um sentido de narrativa e de geografia. As pistas deixaram de ser circuitos isolados; são agora partes de um mapa mais vasto, e a progressão flui de forma orgânica.
Contudo, o verdadeiro destaque são as novas mecânicas de movimento. Os jogadores podem agora deslizar por railes, fazer acrobacias no ar e conduzir pelas paredes, dando às corridas uma verticalidade e fluidez que recompensam a criatividade. Estas mecânicas trazem um ritmo ao estilo Tony Hawk’s Pro Skater para a experiência. O resultado? Um jogo de karting que se sente mais como um espetáculo acrobático do que uma simples corrida até à meta.
E não é só aparência — há substância por trás do estilo. Dominar a combinação de grind–salto–condução na parede torna-se essencial nos níveis mais altos, e os circuitos redesenhados — alguns mais tradicionais, outros mais abertos — tiram pleno partido das novas mecânicas. O tecto de habilidade nunca foi tão alto, mas, graças às habituais opções de acessibilidade da Nintendo, continua acessível a jogadores de todas as idades.
A funcionalidade principal, “Modo Livre”, é onde Mario Kart World tenta algo novo — e não acerta totalmente. A partir do menu principal, os jogadores podem entrar instantaneamente no mundo aberto, conduzir desde estâncias balneares até picos vulcânicos, apanhar moedas, procurar Medalhões da Peach ou completar pequenos desafios, como pistas com obstáculos cronometrados. Há até fatos desbloqueáveis baseados em comida, obtidos em restaurantes espalhados pelo mapa. A sensação é a de um álbum de viagem, com autocolantes, pratos e selfies caricatas.
Mas, para além do encanto visual e da alegria ambiente, o modo carece de profundidade significativa. Os objectivos não são bem acompanhados, as recompensas são puramente cosméticas e — talvez o maior deslize — não existe modo cooperativo em ecrã dividido para explorar o mundo livre localmente. É um modo a solo por defeito, a não ser que os jogadores façam uma sincronização algo incómoda via ligação local. Dado que grande parte do legado de Mario Kart se construiu com o caos divertido do multijogador de sofá, isto parece uma omissão estranha.
No entanto, onde o jogo realmente brilha é no seu novo modo multijogador, Knockout Tour. Aqui, 24 corredores lutam para sobreviver num formato de eliminação que exclui os mais lentos após cada ponto de controlo. É uma corrida de alto risco por vastas áreas do mundo aberto, com a tensão a aumentar a cada curva. Falhas um checkpoint? Estás fora. É frenético, impiedoso e viciante. Este modo aproveita o caos essencial de Mario Kart e injeta a dose certa de ADN de battle royale para criar algo verdadeiramente fresco.
A variedade de personagens é outro ponto alto, com Mario Kart World a oferecer o elenco mais absurdo (e delicioso) de sempre. Juntamente com os habituais, temos golfinhos, vacas, goombas e Chargin’ Chucks, desbloqueados de formas bizarras mas divertidas — como transformações aleatórias durante a corrida. A personalização dos karts foi simplificada: em vez de misturar peças, os jogadores escolhem veículos únicos com estatísticas definidas. Isto mantém o jogo acessível sem sacrificar a estratégia.
Convém, no entanto, lembrarmo-nos de algo: Mario Kart World é um sucesso porque nunca esquece para quem é feito — para todos. Desde os fanáticos das corridas que perseguem glória nos leaderboards, até crianças pequenas que usam controlo por movimento para passear num campo de cogumelos, passando por avós que revivem os dias de glória da Rainbow Road, este é um jogo que acolhe toda a gente.
Resta concluir que Mario Kart World não oferece uma experiência de karting em mundo aberto definitiva — mas chega perigosamente perto. Embora os elementos de exploração livre estejam pouco desenvolvidos e, por vezes, sem direcção clara, isso não diminui o brilhantismo do gameplay principal, das novas mecânicas criativas e do charme que preenche cada centímetro do jogo.
Nota: 9,5/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.