Jogos: Lost Records: Bloom & Rage – Tape 1 – Análise
Lost Records: Bloom & Rage – Tape 1 é um jogo fiel às suas inspirações, mas que precisa da sua segunda metade para se completar.
Jogo: Lost Records: Bloom & Rage
Disponível para: PC, PlayStation 5,Xbox Series
Versão testada: PlayStation 5
Desenvolvedor: Don’t Nod
Editora: Don’t Nod
Confesso que é difícil não nos revermos, pelo menos um pouco, na jovem Swann Holloway, protagonista de Lost Records: Bloom & Rage – Tape 1. Gentil e curiosa, mas insegura quanto ao seu valor e à sua aparência, Swann quer expressar-se criativamente, mas ainda está a descobrir como. A sua história reflete uma adolescência que muitos reconhecerão – um retrato sincero de amizades que ajudam a atravessar os altos e baixos dessa fase tão complicada da vida.
O primeiro capítulo de Lost Records: Bloom & Rage, de um total de dois, destaca-se por colocar no centro da narrativa personagens que raramente assumem papéis principais nos videojogos. As jovens mulheres começam a ter mais espaço nestas histórias, graças, em parte, à própria Dontnod, que ajudou a mudar esse panorama com Life is Strange. No entanto, mulheres de meia-idade continuam a ser uma raridade como protagonistas. É aqui que o jogo se diferencia: conta a história de um grupo de amigas que, já nos seus 40 anos, recordam o verão que marcou as suas vidas adolescentes.
Apesar das semelhanças estéticas e mecânicas com Life is Strange, Lost Records representa um passo em frente para a Dontnod, enriquecendo a sua fórmula narrativa com novas ideias e influências dos seus títulos mais recentes. O jogo divide-se entre duas linhas temporais: no presente (2022), Swann regressa à sua terra natal para reencontrar as antigas amigas; no passado (1995), revivemos o verão em que tudo mudou. A transição entre estas fases é feita de forma inteligente, associando a câmara na primeira pessoa ao presente e a terceira pessoa às memórias, reforçando a distância emocional e a nostalgia.
A atmosfera nostálgica do jogo é uma das suas maiores forças. Os detalhes dos anos 90 são recriados com carinho, desde trolls e PEZ a VHS em caixas robustas, Tamagotchis e diários secretos. Mas não se trata apenas de uma celebração de memórias idealizadas. O jogo também questiona a forma como lembramos o passado, mostrando como a nostalgia pode suavizar ou distorcer a realidade. Swann, uma adolescente solitária, documentava tudo com a sua câmara, e esse material gravado torna-se uma parte essencial da narrativa e da mecânica do jogo, permitindo ao jogador editar e reorganizar memórias.
Contudo, nem tudo corre na perfeição. Existem alguns problemas técnicos, como pop-ins e quebras de fluidez, especialmente nas mudanças de perspetiva. A escrita, apesar de sincera e emocionalmente poderosa, por vezes recorre a diálogos um pouco forçados, com expressões datadas e momentos dramáticos que nem sempre resultam. Ainda assim, estes deslizes são pequenos quando comparados com a força da história e das personagens. Swann, Autumn, Nora e Kat são figuras cativantes, cada uma com uma personalidade bem definida, contribuindo para um enredo envolvente e genuíno.
Ao longo da sua primeira metade, Lost Records é um jogo sobre amizade, crescimento e os momentos que nos definem. Mas há uma sensação constante de algo mais sombrio a espreitar, sugerindo mistérios ainda por revelar. Com a segunda parte prevista para 15 de abril, resta saber se a Dontnod conseguirá concluir esta história de forma tão impactante como a iniciou. Mas parece estar no bom caminho.
Nota: 8/10
Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.