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Jogos: Blades of Fire – Análise

Blades of Fire forja ideias ambiciosas num RPG de ação estilizado, mas nem sempre acerta o golpe com força suficiente.

 Blades of Fire   

Jogo: Blades of Fire
Disponível para: PC, PlayStation 5, Xbox Series
Versão testada: PlayStation 5
Desenvolvedor: MercurySteam
Editora: 505 Games

Blades of Fire

O estúdio espanhol MercurySteam não é totalmente desconhecido dos jogadores, tendo já apresentado títulos como Castlevania: Lords of Shadow e Metroid Dread. Desta vez, com Blades of Fire, tenta algo completamente original: um jogo de ação e aventura, forjado em aço incandescente e com combate localizado. É um título que brilha intensamente por momentos, mas que muitas vezes se deixa consumir pela sua própria ambição.

No reino de Ashrath, o aço tornou-se pedra e a terra encontra-se indefesa sob o feitiço de uma rainha malévola. Entra em cena Aran de Lira — um ferreiro estoico com um martelo mágico e um rancor por resolver. A sua missão? Regicídio. Pelo caminho, adota um jovem erudito chamado Adso, que serve de esponja de sabedoria e ocasional comentador de fundo. A ligação entre os dois, claramente inspirada no God of War moderno, soa familiar e calorosa, mas estranhamente imerecida. O guião tenta criar camaradagem, mas os diálogos iniciais parecem apressados e frequentemente repetitivos.

Infelizmente, a narrativa é uma das lâminas mais baças de Blades of Fire. Embora o conceito central — um mundo privado de armas — tenha potencial, nunca se afia o suficiente para se tornar verdadeiramente cativante. A construção do mundo é mais sólida, transmitida através da exploração e dos apontamentos no diário de Adso, mas as personagens fora do duo principal raramente são memoráveis. O cenário apoia-se fortemente em clichés de fantasia, com apenas alguns elementos visuais a destacarem-se.

Blades of Fire

O coração de Blades of Fire está na criação de armas, e é aqui que a ambição da MercurySteam realmente se revela. Com o martelo celestial de Aran, os jogadores forjam espadas, lanças e muito mais, a partir de projetos obtidos ao derrotar tipos específicos de inimigos. Cada arma pode ser personalizada quanto à forma, material e atributos, num mini-jogo que recompensa precisão e paciência. O resultado é um sistema genuinamente satisfatório que faz com que o teu arsenal pareça pessoal — e frágil.

A durabilidade é um fator importante. Uma arma mal forjada pode durar apenas um combate; uma bem feita, vários. As quebras são inevitáveis, e afiar — embora restaure o dano — reduz a longevidade da arma. Isto cria um ciclo de risco-recompensa significativo, onde até a vitória tem o seu custo. Os melhores materiais são escassos, incentivando os jogadores a guardar o melhor equipamento para os combates contra bosses.

O combate inspira-se em Soulsborne, God of War e na própria herança da MercurySteam, mas raramente constrói uma identidade própria. Os ataques de Aran são direcionados para zonas do corpo — cabeça, torso, pernas — e a armadura dos inimigos dita quais são vulneráveis. Em teoria, é estratégico. Na prática, a novidade desvanece rapidamente, sobretudo quando as armas de alto nível começam a ignorar essas vulnerabilidades.

Blades of Fire

Não existe um sistema tradicional de combos. Desvias, bloqueias e, por vezes, aparas, mas a ação permanece surpreendentemente superficial para um jogo que depende tanto do combate corpo a corpo. A variedade de inimigos é razoável, embora os oponentes humanoides estejam sobre-representados, e alguns monstros das fases finais resvalem para o caricato. As batalhas contra bosses são melhores, com desafios justos e animações marcantes.

O movimento é responsivo, e os golpes de Aran têm peso. Ainda assim, o jogo por vezes contradiz-se — grupos caóticos de inimigos podem esmagar com golpes baratos, enquanto outros são facilmente derrotados apenas a rodear e apunhalar pelas costas.

Visualmente, Blades of Fire é impressionante. Os seus ambientes inspiram-se fortemente em clássicos da fantasia sombria, e os calabouços transmitem verdadeira escala e perigo. Mas bons visuais não escondem um mau mapa — e Blades of Fire tem um dos piores dos últimos tempos. Plano, vago e pouco funcional, é muitas vezes mais um obstáculo do que uma ajuda. A navegação sofre com layouts confusos e pontos de referência pouco claros, que tornam até viagens curtas em autênticas provações.

Existem opções de viagem rápida e atalhos, num aceno às raízes Metroidvania dos criadores, mas até estes parecem mal aproveitados. A exploração é incentivada, mas a recompensa raramente justifica a desorientação.

Blades of Fire

Resta concluir que Blades of Fire é um jogo de contrastes. O seu sistema de forja é um dos mais frescos dos RPGs de ação recentes, transformando a metalurgia numa atividade ponderada e arriscada. O combate, embora por vezes gratificante, raramente evolui além da promessa inicial. A história apoia-se em clichés, as personagens na conveniência, e o mundo numa identidade visual mais forte do que a sua estrutura lúdica.

Nota: 7/10

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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