Homem-Aranha: o filme que (infelizmente) nunca vimos
No início dos anos 1980, Stan Lee acreditava que as suas personagens da Marvel poderiam suscitar interesse para Hollywood avançar com adaptações para o cinema ou televisão.
A Marvel, precisava de chegar ao ecrã. E Stan Lee acreditava ter encontrado a parceria certa na dupla de argumentistas Ted Newsom e John Brancato. A dupla de escritores estava determina a entrar em Hollywood e sabiam que haviam encontrado uma possibilidade através da amizade com Stan Lee, que os tinha contratado para escrever uma adaptação do antigo título da Marvel ambientado na Segunda Guerra Mundial, Sgt. Fury and His Howling Commandos.

Entra a Canon
O plano previa que Lee, com o argumento e a banda desenhada, fosse recebido pelos executivos dos estúdios de Hollywood.
A dupla de argumentistas disponibilizou-se para escrever o filme de Homem-Aranha, mas Stan Lee alertou que não podiam desenvolver o filme porque os direitos da personagem pertenciam à Cannon Films.

E do Israel…
O estúdio dos primos israelitas Menahem Golan e Yoram Globus adquiriram os direitos de Homem-Aranha em meados dos anos ’80, num período em que se procuravam afirmar como um dos grandes estúdios de Hollywood.
Depois dos desastrosos resultados de produções como Superman IV: Em Busca da Paz ou Os Invasores de Marte, de Tob Hopper, ou até mesmo Masters do Universo, os primos de Israel pensaram que o universo de super-heróis seria uma boa aposta para singrarem no meca do cinema.
Em 1985, a Cannon pagou à Marvel qualquer coisa como 225 mil dólares, mais percentagem de receita, para levar as aventuras de Peter Parker ao grande ecrã.
Golan assumira que nunca percebera o funcionamento da banda desenhada, assim sendo contratou o argumentista Leslie Steven (O Regresso à Lagoa Azul, Sheena, a Rainha da Selva) para desenvolver a história do aracnídeo.
A versão de 1985
Nesta versão, Peter Parker trabalharia nas Indústrias Zyrex e acabaria por ser vítima de uma experiência do Dr. Zyrex, transformando-se numa criatura meio-homem, meio-tarântula!
Tob Hooper seria o nome certo para a realização, segundo Golan-Globus. No entanto, Stan Lee reprovou o argumento. Nesta altura, a imprensa especializada de Hollywood já apresentava o teaser poster do filme, onde se lê o nome do realizador e do argumentista.
Argumentista e realizador dispensados, a Cannon continua determinada em concretizar a adaptação cinematográfica de Homem-Aranha. Um novo argumento é encomendado para que o filme estreie ainda no Natal de 1986. Stan Lee recupera a dupla de argumentistas Ted Newsom (Evil Spawn) e John Brancato (O Jogo, Exterminador Implacável 3, e Exterminador Implacável: A Salvação).
“Depois do contrato com a Cannon, Stan Lee sugeriu que desenvolvessemos o argumento desde o rascunho incial – que tinha cerca de duas páginas e abordava a origem do Homem-Aranha.” Revelou Brancato em entrevista sobre as memórias do filme.

Bob Hoskins como Doutor Octopus
O argumento era mais fiel à banda desenhada, com a origem do aracnídeo ligada à origem do Dr. Octopus, que seria interpretado por Bob Hoskins, uma pretensão dos produtores, já que nunca se envolveu no filme. Joseph Zito (Desaparecido em Combate, Escorpião Vermelho) seria o realizador.

“Eu fazia filmes do tipo banda desenhada e gostava daqueles mundos estranhos e sombrios. Ainda não havia um filme do Batman, recorde-se, e eu tive essa ideia de criar um mundo sombrio com o Homem-Aranha a ser a explosão de cor. Tínhamos uma direcção artística maravilhosa. Seria um filme muito elegante e nas minhas conversas com a Cannon disse-lhes que o Homem-Aranha em particular, tinha que ser feito de maneira completamente diferente da maneira como as coisas eram feitas. Estaríamos a reunir uma equipa britânica – muito sofisticada – e eu deveria filmar na Inglaterra, mas, acabamos por mudar para Roma.” Disse o realizador Joseph Zito, a propósito da sua passagem pelo filme.
A dupla de argumentistas praticamente ignorou os esforços de Joseph Zito para injectar a sua visão no texto do filme e, como resultado, foram substituídos por Barney Cohen (Sexta-feira 13: Parte 4).

A estreia para 1986?
Datado de 1 de abril de 1986, o argumento de Cohen, basicamente, seguiu a estrutura do rascunho de Newsom e Brancato, embora com alguns acréscimos. O mais notável entre eles foi que Dr. Octopus de repente ganhou um subordinado – Weiner – que realizava roubos para o médico conseguir algum dinheiro extra. Durante um desses roubos, Weiner matou o tio Ben, estreitando ainda mais as origens e as ligações entre Dr. Octopus e o Homem-Aranha.
O interesse romântico de Peter Parker seria Liz Allen. O Homem-Aranha seria interpretado pelo duplo Scott Leva, envolvido na produção desde o início até ao naufrágio final.
Depois do actor ter protagonizado material promocional do filme, foi preciso aguardar pelo DVD de X-Men, de Bryan Singer, para o vermos com o fato de Homem-Aranha num apanhado de filmagens, onde ele acaba por sair de cena dizendo “Desculpem, estou no filme errado!“. E estava! O trabalho de Scott Leva na 7ª arte foi entretanto reconhecido com um Oscar, pelo desenvolvimento de técnicas de segurança para duplos no cinema.
Homem-Aranha era uma produção de 20 milhões de dólares. O realizador recorda que cerca de um milhão e meio de dólares foram investidos na pré-produção do filme. Mais dois milhões foram gastos em material promocional. E ainda não havia filme!
A Cannon começou a rever os orçamentos dos filmes ficando limitanda a 5 milhões de dólares/filme, por decreto bancário. Mas este filme não custaria apenas 5 milhões, o avanço do planeamento de produção já apontava para 30 milhões. Até que Joseph Zito recebeu um telefonema a perguntar se poderia fazer o filme por 15 milhões de dólares.
Porém, chegou o Natal de 1986 e Homem-Aranha não estreou nos cinemas
A Cannon manteve a determinação e, já no limite do prazo de cinco anos para desenvolver o filme, voltou à carga, com novas mudanças no argumento para um filme realizado por Albert Pyun (Cyborg).
Dr. Octopus seria substituído por um vilão chamado The Night Goul, um híbrido entre um humano e um morcego vampiro que foi criado por meio de manipulação genética. Mais uma vez, o argumento foi reescrito e afastaram o mau da fita, substituindo-o por uma personagem apenas chamada de “Doc”, o qual desenvolveria uma droga chamada T-Devil.
O novo argumento ficou a cargo de Ethan Whiley ou Don Michael Paul , cuja tarefa era escrever um filme que custasse apenas 5 milhões de dólares.

No entanto o “tempo” de Menahem Golan na Cannon Films estava a acabar. Quando Golan foi forçado a sair da empresa, foi-lhe oferecido um ‘pára-quedas de ouro’, que deveria significar muito dinheiro. Mas o negócio nunca foi fechado, então na negociação ele levou direitos, entre os quais, a adaptação cinematográfica de Homem-Aranha.

Golan formou a 21st Century Films
A esperança era de trazer de volta a “era de ouro” da Cannon. O primeiro passo foi renegociar o contrato do Homem-Aranha, que originalmente expiraria em agosto de 1990, com a Marvel, o que ele conseguiu fazer.
Para o projecto, entrou novo argumentista capaz de desenvolver um filme com um orçamento um pouco maior do que o esperado, algo entre os 10 a 15 milhões de dólares.
Menahem Golan, foi reunindo o dinheiro para finalmente filmar, vendendo os direitos mundiais de televisão para a Viacom, com a Columbia Tri-Star a entrar no negócio e com a presença de outro estúdio, a Carolco (Instinto Fatal, Rambo III). O orçamento subiu para os 50 milhões de dólares.

James Cameron
A Carolco sabia que tinha o realizador certo para filmar Homem-Aranha, recuperando James Cameron com quem tinham trabalhado em Exterminador Implacável 2: O Dia do Julgamento.
James Cameron recebeu três milhões de dólares por embarcar no projecto, o que foi uma má notícia para Golan – parece que o contrato de Cameron lhe daria a aprovação de todos os créditos e ele foi inflexível para que o nome de Golan não aparecesse no filme.
Acreditando que esta era a sua última chance de legitimidade, em abril de 1993 Golan entrou com uma ação contra a Carolco, que, caminhando para a sua própria falência, vendeu os seus direitos de Homem-Aranha para a MGM.
Processos atrás de processos
No início de 1994, a Carolco processou a Viacom e a Tri-Star num esforço para acabar com os acordos relativos aos direitos de televisão e vídeo. A Tri-Star e a Viacom, naturalmente, abriram um processo contra não apenas a Carolco, mas também a 21st Century Films e a Marvel.
A MGM, que integrava o Grupo Pathe, processou Menahem Golan, Yoram Globus, 21st Century Films, Paretti, Tri-Star, Viacom e Marvel.
A situação provocou um embaraço anedótico no meio, sobretudo porque nos 12 meses seguintes, a 21st Century Films, a Marvel e a Carolco entraram com pedido de falência.
Durante os processos judiciais, James Cameron, que ainda estava vinculado ao projecto, escreveu um esboço de argumento de 57 páginas, que era uma combinação de argumento e apresentação da história, potencializando o filme.
Mas tudo chegou ao fim a 1 de março de 1999: a Sony divulgou o comunicado à imprensa: “A Sony Pictures Entertainment (SPE) e a Marvel Enterprises assinaram um acordo que prepara o terreno para o lançamento do tão esperado Homem-Aranha. O acordo permitirá que a SPE e a Marvel produzam filmes e séries de televisão baseadas no personagem Homem-Aranha. Além disso, a Marvel e a SPE estabeleceram uma parceria para explorar produtos relacionadas a imagens e séries. O anúncio do acordo foi feito pelo presidente e CEO da SPE, John Calley, pelo presidente e CEO da Marvel Enterprises, Eric Ellenbogen, e pelo director de criação, Avi Arad.
Em abril de 1999, a Sony anunciou que David Koepp adaptaria o esboço de James Cameron para um argumento completo.
À medida que o filme entrava em produção, os contributos para o argumento eram feitos também por Alvin Sargent e Scott Rosenberg. Ao longo desse desenvolvimento, foi tomada a decisão de que o aracnídeo deveria enfrentar apenas um vilão na sua primeira aventura no grande ecrã.
Ao todo, e apesar de todos as peripécias pelo qual o projeto passou ao longo de uma década e meia, a versão final do argumento prometia uma aventura épica do Homem-Aranha; uma aventura que se mostraria fiel à banda desenhada.
Pode ter demorado muitos anos, mas o Homem-Aranha finalmente estava pronto para lançar a sua teia no grande ecrã!

Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.