Central Comics

Banda Desenhada, Cinema, Animação, TV, Videojogos

Cinema: Crítica – Correio de Droga (2019)

[ad#artigo]

Clint Eastwood regressa aos cinemas, mas se calhar preferia ter ficado em casa a regar as plantas.

Há que começar este artigo com uma pequena advertência:
Eu não estou no público-alvo.
Conheço pouca gente que esteja.

Eu vejo o cinema pela perspetiva moderna, o espetáculo, as histórias que podem ou não ser maiores que o nosso mundo, mais ou menos aprofundadas, o mesmo no que toca aos protagonistas. Neste ponto espero deixar claro que o texto de opinião que se segue provem dum individuo que vive da cultura pop, com os seus prediletos na história do cinema e com uma opinião forte de como alguns temas, argumentos e personagens devem ser abordados nos tempos que correm.

Nunca diria que um Capitão América ou Homem-Aranha estão mais desenvolvidos que Earl Stone, não só não acredito que seja o caso, como também sei que não é esse o objetivo duma crítica. Embora a comparação nos seja instintiva, produtos diferentes têm diferentes valores e devem ser avaliados mediante as ofertas que nos fazem. É possível que me apontem as minhas preferências e a demografia em que me insiro, o meu objetivo com este, tal como com qualquer outro filme que abordo, é avaliá-lo nos próprios méritos, de forma justa e com algum entretenimento pelo meio.

Tudo isto para dizer que não gostei d’O Correio da Droga.

Desde os primórdios do meu interesse na sétima arte, aos estudos da mesma que continuam até aos dias de hoje, há alguns nomes que se repetem. Temos Humphrey Bogart, o “Charlot”, fantasmas que assombram, pelo positivo, as aulas de história do cinema e os cantos das coleções mais preciosas, as de pessoas verdadeiramente apaixonadas pelos seus filmes.
Há vários outros nomes, como os Marx e a Hepburn, alguns mais recentes e tudo, mas o único fantasma entre nós é Eastwood.

Os grandes sucessos de Clint Eastwood surgem do Western Spaghetti, pelas mãos de Sergio Leone, nomeadamente O Bom, o Mau e o Vilão e Por um Punhado de Dólares. O artista continuou a protagonizar até atingir mais um dos seus grandes papeis “Dirty Harry”.
Clint Eastwood interpretou Harry e outros que tais, modernos e do velho Oeste, até chegar a Unforgiven, o seu Magnum Opus como realizador (na minha opinião, claro).
Recentemente, a canção é outra. Vemos Eastwood a cair no mau hábito de lançar o mesmo filme duas vezes.

O Correio da Droga é sem tirar nem pôr Gran Torino, ou melhor, o protagonista é o mesmo. A história é a seguinte: Earl esteve na guerra da Coreia, voltou para casa e foi plantar flores e ignorar a família. Velho e solitário, a amargura de Earl atinge o seu expoente máximo quando o seu emprego evapora porque “raisparta as modernices”(um tema constante, bem como o racismo e a discriminação casual de Earl).

Agora sem dinheiro ele vira-se para a família que ignorou, e por mera coincidência, o 4º ou 5º homem hispânico do filme vê este octogenário deprimido e pensa “que bom vou pô-lo a transportar cocaína”. Não fosse o espetador duvidar que estava a ser gozado pelo argumentista, o filme aproveita e atira-nos mais uns 30 minutos de metragem até que, após várias viagens, Earl decide olhar para o porta-bagagens e só aí se apercebe que tem andado a transportar droga.

Santo Impossível.

Earl não é ingénuo nem senil, tem muitos defeitos sem dúvida, mas nenhum desses dois está na lista. Este defeito é do argumento, só e apenas.

Agora passamos aos jogos divertidos para qualquer pobre leitor que seja submetido a este filme pelos amigos pseudointelectuais: Proponho um shot sempre que Clint Eastwood mostrar desgosto face às tecnologias modernas, outro sempre que ele maltratar a família e por fim quando ele for racista. A meio do filme o leitor estará em coma alcoólico a caminho do mais próximo hospital ou do doce abraço da morte, ambas opções que gostaria de ter tido durante as 2 horas da metragem. Caso queiram ter a certeza que não sobrevivem podem optar por beber mais um sempre que virem um hispânico com uma arma de fogo, resultados garantidos!

Mas fora a família de Earl, pobres mulheres que não só o aturam, mas também se esforçam por perdoá-lo, temos ainda Bradley Cooper, Lawrence Fishbourne e Michael Peña a interpretarem as únicas personagens minimamente interessantes, que por consequência mal aparecem, porque neste filme todos os personagens servem como pedestal para Eastwood, o maravilhoso. Salvo alguns diálogos e interações genuinamente interessantes, temos muitas oportunidades perdidas e um personagem que se contradiz quando não está ocupado a ignorar momentos de crescimento pessoal. O filme termina a tentar que o público simpatize com Earl, mas “tentar” e “conseguir” são coisas distintas.

Pelo lado positivo é a primeira ménage com um Octagenário de 2019, foi neste momento que percebi que O Correio da Droga só pode ser uma paródia de si mesmo.

Alguns fantasmas deviam aproveitar a reforma, ou no mínimo arranjar argumentos melhores.

  • O Correio de Droga estreia a 31 de janeiro 2019 nos cinemas

4/10

Henrique Correia

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

Verified by MonsterInsights