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Crítica: Cruella (2021)

“Cruella de Vil, Cruella Cruel é mais traiçoeira que uma cascavel”, acompanha uma melodia que nos chega desde 1961, ano em que os estúdios Walt Disney lançaram a sua adaptação da história Os 101 Dálmatas de Dodie Smith. O famoso rapto de 101 dálmatas ficará para sempre na história, e com ele a mulher, cruel, de cabelo branco e preto que os mandou raptar para fazer um casaco. Sessenta anos depois, a Disney presenteia-nos com a história de origem de uma das vilãs mais odiadas do seu catálogo. Afinal, ninguém é mau só porque sim.

Londres, década de setenta do século XX. O movimento punk rock vai ganhando força. A jovem Estella (Tipper Seifert-Cleveland / Emma Stone) tem de aprender a equilibrar a sua criatividade e genialidade estilística com a falta de originalidade e incapacidade de agir fora da norma que domina as pessoas que a rodeiam. Para isso tem de aprender a controlar a “Cruella” que existe dentro dela. Um triste acontecimento leva Estella a Londres, onde conhece Jasper (Ziggy Gardner / Joel Fry) e Horace (Joseph MacDonald / Paul Walter Hauser), dois rapazes órfãos, mestres na arte do crime como meio de sobrevivência. É entre muitos esquemas e muito tecido que acompanhamos o percurso que fez de Estella a Cruella que já conhecíamos.

Não esquecendo que estamos a ver um filme Disney nos tempos modernos, não é estranho que Cruella avance de forma algo precipitada. O salto entre a pequena Estella e a jovem a adulta passa qual Singer a fazer uma bainha rápida. Com a vontade de passar à acção e de mostrar um terceiro acto mais bem trabalhado, quase nem dá para sentir a qualidade do tecido; nem dá para observar o esplêndido trabalho de todo o departamento de guarda-roupa (Jenny Beaven), maquilhagem (Nadia Stacey) e design de produção (Fiona Crombie). A lente não soube acompanhar o contínuo desfile de moda, correndo até o risco de deixar fugir as poses de Emma Stone e da Baronesa de Emma Thompson. Ainda assim, as duas actrizes não deixaram que se perdesse a atitude e a classe que emanam.

 

Vilmente contagiante, Cruella, filme e personagem, é o melhor e o menos bom da sua indisciplina. No final, o filme cumpre e a Disney introduz um bom novo elemento à sua lista de live-actions. Podemos não chegar a saber se precisávamos desta história, mas a curiosidade e a satisfação final estão lá. Para determinados temas, talvez falte a crueza que “um filme Disney não deve ter”. Sem parar para pensar, é fácil questionarmo-nos se estamos realmente a conhecer a história de alguém que odeia Dálmatas ao ponto de os querer matar para fazer um casaco. Estella dá vida a Cruella, mas de onde apareceu a Cruella amante de peles? Uma armação consistente não pode ser substituída apenas por tule. Fica ao critério de cada um decidir se os pequenos apontamentos que remetem para o já conhecido 101 Dálmatas são suficientes para estabelecer uma ponte.

Classificação: 6,8

Cruella estreou nos cinemas portugueses a 27 de Maio, e no dia seguinte ficou no Disney+ Premium.

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