Cinema Português: os títulos para ainda ver em 2025
De comédias musicais a thrillers históricos e documentários, as salas de cinema portuguesas vão acolher uma nova leva de produções nacionais que prometem marcar o segundo semestre de 2025. Conheça os filmes portugueses com estreia marcada entre julho e outubro, com destaque para histórias que revisitam o passado, exploram o psicológico e arriscam na ficção.

Lucefece
Vencedor do Prémio de Melhor Filme da Competição Cinema Falado no Porto/Post/Doc 2023, Lucefece, de Ricardo Leite, estreia finalmente nas salas portuguesas a 3 de julho. Filmado em película e revelado manualmente ao longo de mais de duas décadas, o documentário surge como a obra mais pessoal do realizador — um exorcismo poético de memórias familiares, visões políticas e traumas nacionais.
Através de imagens artesanais e um estilo profundamente sensorial, Lucefece cruza histórias da infância do autor com conversas com o seu pai, ex-combatente da guerra colonial e mais tarde prisioneiro político. Entre passado e presente, o filme propõe uma viagem em espiral pelo tempo, numa meditação visual sobre o eterno retorno. Como descreve Teresa Vieira, da Cineuropa, trata-se de uma obra “poética e urgente”, que olha para o que fomos, o que somos e aquilo que tememos voltar a ser.
Lindo
Em estreia a 10 de julho, Lindo é o novo documentário de Margarida Gramaxo que traça o percurso de transformação de um homem e o seu impacto numa comunidade insular. Durante duas décadas, Lindo foi caçador de tartarugas marinhas na Ilha do Príncipe, mas um encontro com um animal dócil mudou para sempre a sua relação com a natureza.
O filme acompanha a jornada de reconciliação de Lindo com o passado, enquanto reflete sobre as tensões entre tradição, sobrevivência e conservação ambiental. Um retrato íntimo de redenção pessoal que lança também um olhar crítico sobre o futuro da ilha e o equilíbrio precário entre o Homem e o ecossistema.
Contos do Esquecimento
O segundo semestre arranca com Contos do Esquecimento, documentário de Dulce Fernandes que estreia a 23 de julho. A partir de recentes achados arqueológicos em Lagos, no Algarve, o filme reabre a discussão sobre o envolvimento de Portugal no tráfico transatlântico de africanos escravizados. A obra reflete sobre o confronto entre memória e esquecimento, convocando o passado para o presente.
Lugar dos Sonhos
A 24 de julho estreia Lugar dos Sonhos, com realização de Diogo Morgado e protagonismo de Carlos Areia. A história acompanha a relação entre um avô e o neto, num registo intimista e emocional, com José Fidalgo e Pedro Lacerda a completarem o elenco.
Depois do súbito desaparecimento da sua mulher, Fernando, um reservado professor de geografia, vê-se à deriva e mergulha no luto e na desorientação. Em Uma Quinta Portuguesa, a realizadora Avelina Prat acompanha a fuga silenciosa do protagonista, que assume a identidade de outro homem para se refugiar numa herdade portuguesa como jardineiro. É nesse cenário bucólico que nasce uma inesperada amizade com a proprietária da quinta, levando Fernando a ocupar uma vida que não é a sua. Com interpretações de Manolo Solo e Maria de Medeiros, o filme explora os limites entre a fuga e a reconstrução pessoal, entre o que se perde e o que pode ser reencontrado. Nos cinemas a 31 de julho.
O Pátio da Saudade
A 14 de agosto chega às salas O Pátio da Saudade, uma comédia musical que revisita o teatro de revista, género há muito ausente do grande ecrã. Leonel Vieira, conhecido por adaptações como O Pátio das Cantigas, volta a reunir um elenco de luxo — Sara Matos, Ana Guiomar, Manuel Marques, entre outros — numa história que cruza televisão e teatro. Matos interpreta Vanessa, uma actriz popular mas insatisfeita, num papel que espelha as tensões entre fama e realização pessoal.

A Pianista
A Pianista, de Nuno Bernardo, estreia a 11 de setembro. O filme gira em torno de Ana (Teresa Tavares), uma mulher em luto que decide clonar o marido falecido. O que começa como uma tentativa de recomeço transforma-se rapidamente num mistério tenso, quando o clone é ligado ao desaparecimento de várias jovens. O elenco inclui ainda Gonçalo Almeida, Miguel Borges e Catarina Furtado.

Criadores de Ídolos
Criadores de Ídolos, de Luís Diogo, estreia a 18 de setembro, depois de ter sido escolhido para abrir o Fantasporto 2025. O filme mistura sátira e conspiração ao apresentar uma organização secreta que transforma celebridades em ídolos através da morte. A protagonista, Sofia (Rafaela Sá), é desafiada a tornar-se a primeira mulher da Ordem… com uma missão letal. José Fidalgo, Ricardo Carriço, Oceana Basílio e Virgílio Castelo completam o elenco principal.

O Céu em Queda
Em O Céu em Queda, Carlos Ruiz Carmona assina um romance intenso sobre dois amantes presos a um amor tão arrebatador quanto impossível. Assombrados pelos desejos não cumpridos e pela culpa que os envolve, as personagens movem-se num espaço de intimidade ferida, onde o que não se diz pesa tanto como o que se sente. Com interpretações de Carla Chambel e Ruben Garcia, o filme explora os limites emocionais de uma paixão marcada pela clandestinidade e pela perda. Estreia a 25 de setembro.
Pai Nosso – Os Últimos Dias de Salazar
Outubro começa com duas estreias centradas no regime salazarista.
A 2 de outubro, José Filipe Costa apresenta Pai Nosso – Os Últimos Dias de Salazar, uma ficção baseada em factos reais sobre o ocaso do ditador após o acidente que o afastou do poder. Com Jorge Mota no papel principal, o filme teve estreia mundial em Roterdão.
Lavagante
Também a 2 de outubro estreia Lavagante, de Mário Barroso, uma história de amor e enganos passada no início dos anos 60, em plena repressão política. Com argumento de António-Pedro Vasconcelos e baseado em obra de José Cardoso Pires, o filme conta com Nuno Lopes, Júlia Palha, Francisco Froes e Diogo Infante no elenco.

Os Enforcados
Ainda a 2 de outubro estreia Os Enforcados, uma co-produção com o Brasil do cineasta Fernando Coimbra, com Leandra Leal e Irandhir Santos. Livremente inspirado em “Macbeth”, acompanha um casal envolvido no submundo do jogo do bicho que, após um homicídio acidental, entra numa espiral de crime e paranoia.
A Memória do Cheiro das Coisas
Selecionado para a Competição Oficial da 27.ª edição do Shanghai International Film Festival, A Memória do Cheiro das Coisas é o mais recente filme do cineasta conimbricense António Ferreira. O drama, que estreia nos cinemas a 23 de outubro, acompanha um veterano da guerra colonial que, contra a sua vontade, é internado num lar de idosos. Entre memórias reprimidas e traumas persistentes, o protagonista encontra um inesperado ponto de ligação na figura da sua cuidadora, uma mulher negra, cujo passado e presença despertam ecos do seu próprio. Um filme íntimo e sensorial sobre redenção, envelhecimento e reconciliação com a história pessoal — e colectiva.
O Riso e a Faca
Selecionado para a secção Un Certain Regard no Festival de Cannes 2025, onde Cléo Diára conquistou o Prémio de Melhor Atriz, O Riso e a Faca é o novo filme de Pedro Pinho. A história segue Sérgio, um engenheiro ambiental que parte para uma cidade da África Ocidental ao serviço de uma ONG. Lá, mergulha numa relação ambígua com Diara e Gui, dois locais que se tornam o seu último ponto de contacto com a humanidade. O filme constrói um retrato inquietante da presença estrangeira em África e das contradições de quem tenta ajudar sem escapar às lógicas de poder que pretende combater. Nos cinemas a 30 de outubro.
As Meninas Exemplares
João Botelho regressa ao grande ecrã em outubro com As Meninas Exemplares, uma adaptação cinematográfica da obra homónima da Condessa de Ségur, figura da literatura infantojuvenil do século XIX. Mais do que uma transposição literária, o filme é também uma homenagem à pintora Paula Rego, cuja obra é fortemente marcada por universos femininos e referências à infância. Com um elenco feminino de peso — Rita Durão, Victoria Guerra, Rita Blanco, Crista Alfaiate e Margarida Marinho — o realizador português constrói uma narrativa visualmente rica, onde a inocência e a crueldade coexistem, tal como na pintura de Rego e nos contos morais da autora russa Sophia Rostopchine.
Complô
Complô acompanha a vida e luta de Bruno, mais conhecido por Ghoya — rapper crioulo, ativista político e figura incontornável de resistência. Após passar metade da vida encarcerado, Ghoya transforma a sua história num testemunho vivo de combate e criatividade. O documentário de João Miller Guerra não é apenas um retrato biográfico, mas também um espaço de escuta e reflexão num momento crucial da sua vida e da luta que trava contra a invisibilidade e o abandono. Estreia nos cinemas a 20 de novembro.
Inspirado nos acontecimentos verídicos das FP-25 de Abril, o novo filme de Ivo M. Ferreira, Projeto Global, mergulha nas convulsões políticas dos anos 1980 em Portugal. Numa altura em que a Europa assistia à emergência de movimentos armados radicais, o país via nascer a sua própria organização revolucionária, herdeira dos ideais de Abril, mas afastada do apoio popular. O filme, que terá também uma versão em série para a RTP, acompanha a ascensão e queda da organização desmantelada em 1984, e questiona os limites da luta política, da justiça e da memória. Uma reflexão urgente sobre os ecos do pós-revolução. O elenco é composto por Jani Zhao, José Pimentão, Rodrigo Tomás, Alyne Fernandes, Hana Sofia Lopes, Magaly Teixeira, Nilton Martins, Fábio Godinho. Para ver nos cinemas a 27 de novembro.
O calendário de estreias é definido pelas distribuidoras dos filmes e poderá sofrer alterações. Outros títulos nacionais poderão ainda ser anunciados à medida que as datas se aproximem.
Além dos títulos já calendarizados, há várias produções portuguesas que ainda aguardam confirmação de data para chegarem às salas de cinema. Entre as quais, encontram-se Ana en Passant, de Fernanda Salgado; 18 Buracos para o Paraíso, de João Nuno Pinto; Degelo, de Ricardo Oliveira; Baía dos Tigres, de Carlos Conceição; Querido Mário, documentário de Graça Castanheira; A Cabeça Não é Um Sítio Seguro, de Joana Caiano; Vive Escondido Guido Guidi, documentário de Paulo Catrica; Entroncamento, de Pedro Cabeleira; Óculos de Sol Pretos, de Pedro Ramalhete; La Vie de Maria Manuela, documentário de João Marques; Orlando Pantera, documentário de Catarina Alves Costa; Os Figos do Meu Avô ou Reflexões sobre Memórias Próximas, de Fernando Bastos; O Poeta Rei, de Carlos Gomes; Cativos, de Luís Alves; Amanhã Já Não Chove, de Bernardo Lopes; Caronte, de Tânia Gomes Teixeira; Morte e Vida Madalena, de Guto Parente; De Lugar Nenhum – Um Retrato de Valter Hugo Mãe, de Miguel Gonçalves Mendes; Senhora da Serra, de João Dias; Terra Vil, de Luís Campos; Match, de Duarte Neves; As Aves, de Pedro Magano; C’est Pas La Vie en Rose, de Leonor Bettencourt Loureiro; Guided by the Stars, de D.B. King; Solos, de Sebastião Salgado; e Chão Verde de Pássaros Escritos, documentário de Sandra Inês Cruz.
Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.