Cinema: MOTELx 2018 – Curtas Portuguesas (Parte I)
Foram 12 as curtas portuguesas seleccionadas para o Prémio Melhor Curta de Terror Portuguesa / Méliès d’Argent, que passaram durante os 6 dias do MOTELX – Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa. Eis as primeiras seis curtas nomeadas:
A Boneca, de Gonçalo Morais Leitão
Um acidente numa terra rural muda a vida de Diana, uma criança (cujos pais parecem guardar rancor) que tem uma reacção psicopata tudo por causa de uma boneca.
Não é difícil sentirmos intrigados pela narrativa e realização de Gonçalo Morais Leitão, que mostra o lado mais negro das crianças, como fossem elas já adultas.
Enquanto que acompanhamos Diana nas suas decisões, também temos momentos de exposição à sua backstory, que poderiam ser mais perceptíveis.
Fora isso, A Boneca é uma curta onde podemos-nos sentir bem em torcer pelo antagonista, não pudesse ser ela a nossa própria filha…
Nota Final: 7.5/10
A Estranha Casa na Bruma, de Guilherme Daniel
Inspirado pelo conto homónimo de H.P. Lovecraft, Guilherme Daniel escreve, produz e realiza uma adaptação sobre um peregrino perdido que conhece um homem que vive numa pequena casa à beira do abismo.
Com toda a nuance do autor norte-americano e do conto, originalmente publicado em Outubro de 1931, este filme conta com belos enquadramentos de cenários, ao mesmo tempo que nos intriga ao conhecermos o misterioso morador da casa e das suas intenções.
Nota Final: 7/10
Agouro, de David Doutel e Vasco Sá
Quando um inverno duro congela o rio, dois primos têm de sobreviver com as baixas temperaturas, enquanto que o limite da paciência que têm um pelo outro, esgota-se.
Este filme animado é dos mais aterradores e visualmente mais bonito que já vi, misturando a animação 2D, com animação digital e pinturas de óleo em vidro. As cores escuras, proporcionam um ambiente pesado, que é realmente impressionante.
Entre grandes paisagens e efeitos de águas, executados sem falhas, Agouro faz-se destacar pela diferença pelo feito inigualável.
Nota Final: 7.5/10
Calipso, de Pedro A. M. Oliveira e Pedro Martins
Quando uma epidemia irrompe no mundo, Bruno (Pedro Laginha) e Sandra (Adriana Moniz) estão fechados em casa sob quarentena, tendo que lidar com a possibilidade dela estar infectada com o vírus.
Ainda que Sandra diz que já se sentia mal devido à sua medicação de antidepressivos, o grande sentimento de medo é deixado para o lado do espectador, que nunca sabe ao certo se está infectada ou não.
Com uma palete de cores sombria, a realização de Pedro A. M. Oliveira e Pedro Martins mostram um trabalho detalhado, sobretudo nos planos aproximados que intimidam qualquer um.
As coisas tendem ficar assustadoras rapidamente, fazendo de bom uso dos 15 minutos para contarem uma narrativa coerente, sem rebuscar clichés do género, nunca sabendo nós o que é ou não realmente verdade.
Dedicado ao falecido mestre George A. Romero, Calipso certamente faz jus a um dos grandes pais do cinema do terror.
Nota Final: 8.5/10
Cinzas, de Célia Fraga
Num meio rural transmontano dos anos 40, uma jovem rapariga (Maria Inês Peixoto) passa os seus dias numa rotina consistente, com todos os seus dias iguais, seja em casa ou no campo, onde trabalha.
A certa altura, esta rapariga é perseguida por uma entidade estranha, que a observa e a quer possuir.
Temos um ambiente rural, com o cenário bem conseguido tanto dentro e fora da casa, e uma narrativa dominada para retratar a monotonia da sua vida, onde se alimenta e reza a Deus.
Ainda que não procure um elemento de susto, Cinzas faz melhor em mostrar o lado mais paranormal.
Nota Final: 7/10
Coração Revelador, de São José Correia
Adaptado do conto homónimo de Edgar Allen Poe, Coração Revelador conta a história de um homem capaz de assassinar outro por este ter um olho de abutre.
Rui Neto narra a sua história, passo-a-passo, escalando a intensidade do seu monólogo intercalado com cenas momentâneas do crime.
Somos mesmerizados por o que este homem, protagonizado por Rui Neto, está a dizer com o coração na manga, revelando os detalhes mais mórbidos das suas acções.
São José Correia mostra assim um outro lado do seu talento como escritora e realizadora do filme, provando mais uma vez o quão longe vai o seu talento.
Nota Final: 8/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.