Cinema: Crítica – Um Dia Para Esquecer
Houve uma altura entre o final da década de 90 e a aparição do novo milénio que era aparente que o cinema se estava a tentar reinventar, com os ingredientes infalíveis que levavam audiências em massa ao rubro, onde o star power era realmente importante, e onde havia espaço para correr riscos e ser audaz transversalmente em todos os géneros. No caso das comédias, foi-se perdendo esta audácia, mas esta parece estar recuperada no mais recente filme Um Dia Para Esquecer, realizado por Lawrence Lamont e escrito por Syreeta Singleton, ambos com a experiência da muito subvalorizada série Rap Sh!t.
Conhecemos Dreux (Keke Palmer), uma empregada de mesa, e Alyssa (SZA), uma artista visual com aspirações maiores, duas melhores amigas que vivem juntas. Neste dia, Dreux tem a entrevista de emprego mais importante da sua vida, ao poder ser gerente de uma cadeia de restaurantes, um passo ambicioso que irá mudar ambas as suas vidas. Mas como o sossego nunca reina, estas vêem-se num problema maior quando o dinheiro da renda é levada por Keshawn (Joshua Neal), namorado de Alyssa, e estas têm até ao final do dia, senão serão desalojadas.
Há uma certa magia na recuperação e reinterpretação das comédias que há 20 ou 25 anos nos deixavam bastante bem entretidos, fosse numa ida ao cinema, fosse no aluguer da obra nos antigos vídeoclubes de bairro. Essa magia é captada de uma forma completamente livre e confortavelmente à vontade por Lament e Singleton, que aqui encontram duas incríveis aliadas em Keke Palmer e SZA, com uma química invejável e um enorme gosto de se ver ao longo desta aventura que conta com imensas peripécias, que nos deixa a pensar no que poderá acontecer a seguir.
Se já estávamos familiarizados com o talento de Palmer – ainda todos nos lembramos do seu protagonismo em Nope – é a cantora SZA que surpreende, demonstrando ser uma presença de grande valor e que o seu carisma poderá garantir que a vejamos com mais frequência no grande, e no pequeno ecrã. Entretanto o filme também conta com o icónico Katt Williams, Maude Apatow e Patrick Cage, onde todos contribuem com pequenos papéis que acabam por florescer a obra.
Assim, Um Dia Para Esquecer é uma comédia repleta de momentos divertidos, num filme que entrega exactamente aquilo que promete, numa experiência remanescente doutros tempos, dando uma leveza necessária ao cinema actual. Por vezes é mais giro não levarmos a vida demasiado a sério.
Nota Final: 6/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.