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Cinema: Crítica – “Rainhas do Poker” (2020)

 

Foto por World Poker Tour. A atriz nomeada ao Oscar Jennifer Tilly também é jogadora de poker profissional

O poker nunca esteve tão em voga. Hoje, estima-se que aproximadamente 100 milhões de pessoas pratiquem poker ao redor do globo, sendo que milhares delas fazem disso uma profissão. Para estas, o auge da carreira é uma aparição na lendária Série Mundial de Poker (WSOP, na sigla em inglês), considerado o torneio mais importante da modalidade.

Porém, nos 50 anos de WSOP, nenhuma mulher venceu o evento principal. Apenas uma jogadora feminina conseguiu chegar à mesa final do consagrado torneio – a americana Barbara Enright, em 1995. Mas no que depender do novo documentário de longa-metragem “Rainhas do Poker”, disponível na Amazon Prime, essa história promete mudar.

O filme, dirigido pela escritora e jogadora profissional de poker Sandra Mohr, apresenta algumas das jogadoras de poker mais populares e habilidosas de todos os tempos. Ao mesmo tempo, dá aos espectadores um vislumbre dos obstáculos que as mulheres enfrentam nesse jogo ainda dominado pelos homens. Tradicionalmente, as mulheres representam apenas cerca de 5% dos jogadores de poker – e muito poucas obtêm sucesso como jogadoras em tempo integral.

Contudo, o grande trunfo de “Rainhas do Poker” é que o foco principal do filme não é polemizar – longe disso. Em vez disso, o documentário foi criado com a intenção de promover o jogo entre as mulheres. Segundo Mohr, seu objectivo era inspirar e desmistificar o jogo entre o público feminino, para que mais mulheres se interessem em aprender como jogar poker e comecem a praticar o desporto após assistir ao filme.

Uma visão íntima de um universo pouco conhecido

Estilisticamente impecável, “Rainhas do Poker” prende a atenção dos espectadores desde o início. Por meio de entrevistas, gravações de arquivos pessoais, dramatizações e cenas reais de torneios, o longa-metragem acompanha de perto as jogadoras mais bem-sucedidas da actualidade na sua jornada em busca da conquista de um bracelete no 50º WSOP.

Tendo como pano de fundo a glamorosa Las Vegas, o documentário acompanha a luta das mulheres no mundo do poker profissional e comemora as suas vitórias, oferecendo uma visão íntima de um universo desconhecido para muitos. Para captar toda a essência dos bastidores, Mohr e sua equipa viveram durante um mês na suite de um hotel em Las Vegas para as gravações.

Com seu olhar aguçado e realização precisa, o projecto de filmagem de Mohr aprofunda subtilmente a posição de género das jogadoras, os seus estilos de vida e, sobretudo, os desafios que elas enfrentam e que as fazem crescer. O resultado é surpreendente. Mas “Rainhas do Poker” não busca só explorar o futuro das mulheres no poker como também o seu passado.

Foto por por World Poker Tour. Kristen “krissyb24” Bicknell começou a jogar poker no primeiro ano da faculdade

Documentário começa com uma lição de história

Além de mostrar a vida de muitas jogadoras contemporâneas e examinar um futuro em constante mudança, a realizadora oferece também uma pequena lição de história. “Rainhas do Poker” começa focando em Alice Ivers, também conhecida como “Poker Alice”, que nasceu na Inglaterra em 1851 e foi uma das primeiras mulheres a ganhar a vida como jogadora de poker profissional.

Ainda adolescente, Ivers mudou-se com sua família para os Estados Unidos, até se estabelecer no Colorado. Foi lá que ela conheceu seu primeiro marido, um entusiasta do jogo. Porém, foi somente após a morte dele que Ivers começou a jogar poker de maneira mais séria. Considerada uma mulher atraente, ela usava a sua aparência para distrair os homens na mesa de carteado e, eventualmente, chegou a ganhar status de celebridade, atraindo uma multidão de pessoas para vê-la jogar.

As actuais “Rainhas do Poker”

O restante das “Rainhas do Poker” que aparecem no documentário são lendas vivas que continuam a brilhar nas mesas de carteado em redor do mundo. Estas são algumas das estrelas apresentadas no longa-metragem:

Jennifer Tilly

Embora a maioria das pessoas conheça Jennifer Tilly como a actriz indicada ao Oscar por seu papel em “Balas sobre a Broadway” (1994), de Woody Allen, ela também é uma talentosa jogadora de poker. Os seus ganhos nos torneios ao vivo ultrapassam US$ 1 milhão e participou em vários programas de televisão como “Poker Royale” e “Celebrity Poker Showdown”.

Kristen Bicknell

A canadiana Kristen Bicknell começou no mundo do poker online em 2006 durante o primeiro ano da faculdade sob o nome de utilizadora “krissyb24”, com o qual ficou famosa. Hoje, é a número quatro na lista feminina de maiores ganhadores de todos os tempos.

Linda Johnson

Mais conhecida como “A Primeira Dama do Poker”, Linda Johnson começou a jogar poker em 1974. Ela foi editora da revista Card Player Magazine por sete anos e uma das fundadoras da série de campeonatos World Poker Tour. Em 2011, foi a segunda mulher a entrar no Hall da Fama do Poker, depois de Barbara Enright, em 2007.

Jennifer Harman

Jennifer Harman é uma das três mulheres que ganharam dois braceletes da WSOP em eventos abertos e é bastante conhecida nos círculos de elite do poker. Em 2015, Harman tornou-se na terceira mulher a entrar no Hall da Fama do Poker.

Foto por World Poker Tour, Liv Boeree já faturou mais US$ 3,5 milhões em torneios ao vivo

Liv Boeree

Considerada uma das beldades do poker, Liv Boeree é uma jogadora britânica que estreou no reality show “Ultimate Poker Showdown” de 2005. Ela foi uma das cinco concorrentes da série e treinada por profissionais como Annie Duke e Phil Helmuth. Seus ganhos em torneios ao vivo já totalizam mais de US$ 3,5 milhões.

Essas são apenas algumas das jogadoras influentes que são apresentadas em “Rainhas do Poker”. Ao todo, o filme conta com mais de 20 entrevistadas. Entre elas estão Maria Ho, Loni Harwood, Vanessa Rousso, Barbara Enright, Lauren Roberts, Kathy Liebert, Lily Kiletto, Gillian Epp, Angelica Hael, Kayla “Wino” Voogd, Kristy Arnett, Linda Johnson, Kelly Minkin e Sia Layta, também conhecida como “A Viúva Negra” (a própria Mohr).

Um filme que vale a pena ver e rever

“Rainhas do Poker” é um filme que vale a pena ver e rever. Seja pela sua inegável qualidade técnica ou pelas suas histórias inspiradoras, o documentário não desaponta. Assim como “Jogo da Alta Roda” (2017), uma biografia baseada na história de uma esquiadora olímpica que se aventura pelas mesas de poker, e o clássico “A Vida é um Jogo” (1998), com Matt Damon e Edward Norton, “Rainhas do Poker” tem tudo para entrar para a lista dos melhores filmes sobre poker de todos os tempos.

Classificação: 9/10

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