Cinema: Crítica – Napoleão (2023)
O reportório de Ridley Scott é vasto e diversificado, podendo ser ainda considerado um dos realizadores de Hollywood, capazes de garantir um selo de qualidade nos múltiplos géneros que tem abordado nas últimas décadas. O sucesso de Gladiador ao virar do milénio parece que deu nova vida ao realizador, e passados 23 anos, aborda de novo a história pelo seu próprio prisma em Napoleão.
O filme aborda a ascensão e queda de Napoleão Bonaparte (Joaquin Phoenix), uma das mais importantes figuras históricas do mundo, numa obra épica de pouco mais de duas horas e meia, onde o mesmo ultrapassou todas as barreiras impostas para chegar ao topo, e cair do ponto mais alto.
Entre as inúmeras batalhas que o mesmo comandou, Scott mostra-nos uma dúzia delas, pintando Napoleão como o grande imperador com precisão militar e sangue-frio, o absoluto necessário para enfrentar tropas inimigas e causar um enorme número de mortos, tornando-se num tirano com uma personalidade combativa perante aqueles que, ou iriam contra os seus ideais, ou não respeitavam a sua capacidade de ver o grande plano no campo de batalha.
Naturalmente, a sua vida pessoal vai sendo introduzida ao longo do filme, inclusive a sua relação complicada com Josefina de Beauharnais (Vanessa Kirby), e todas as peripécias da sua ligação amorosa, sendo ela também uma das mulheres mais influentes da sua era.
Acontece que Ridley Scott apresenta-nos uma comédia-dramática, que nada tem a ver com um biopic tradicional. É entretenimento da sua forma quase pura, e não podemos dizer que não aprendemos nada sobre as personagens envolvidas. Mas de longe este filme será usado como uma referência na reflexão histórica, inclinando-se mais para o lado do cinema-pipoca, cuja leveza não poderá ser tida em conta com demasiada seriedade.
Não que isso seja propriamente um aspecto negativo, apenas é preciso haver uma gerência de expectativas relativas aos conteúdos abordados e da forma que são demonstrados. Não estamos perante inteiramente um épico, mas sim a um conjunto de acontecimentos que de forma muito sucinta demonstra como um homem consegue chegar ao topo e rapidamente cair lá do cimo, depois de tudo – e sem um único sotaque francês.
Felizmente, Phoenix vai ao fundo e traz de cima o derradeiro exemplo de como o “complexo de Napoleão” se tornou em algo real, recriando a projecção das suas inseguranças de forma convincente, ao qual se junta toda a restante personalidade que conhecemos dos livros de história. De igual forma, o foco nos momentos militares, como também na violência, demonstram o impacto brilhante que este tem nos campos de batalha.
Assim, Napoleão não é o biopic que estamos bem acostumados, tendo aqui uma experiência que se divide pela leveza da comédia, e a brutalidade da violência, demonstrando a personagem em questão em diferentes luzes. Podendo aparentar tanto de tolo como de intenso, este quase-desequilíbrio pode não satisfazer aqueles que procuram um filme mais consistente e histórico sobre o homem, mas existe aqui muito para desfrutar.
Nota Final: 7.5/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.