Cinema: Crítica – Herege
O que fariam se tudo aquilo que acreditavam fosse desafiado e posto à prova? Em Herege, a dupla de Scott Beck e Bryan Woods leva até a espectador um thriller provocante.
Em 1992, Os Simpsons exibiram um dos episódios mais controversos da série, naquele ano ainda na sua quarta temporada, onde Homer decide não ir à missa com a sua família. Curiosamente, o episódio intitulado “Homer, o Herege” traz algum paralelismo sobre o facto de existirem alguns assuntos que muitos são ensinados a não falar abertamente com outros – principalmente política e religião – sobretudo por muitas vezes abrirem a porta a diálogos potencialmente desconfortáveis. O que acontece quando as crenças são postas à prova por alguém curioso em levar as perguntas ao limite? Eis que chega o mais recente filme da dupla de Scott Beck e Bryan Woods, com Herege.
As irmãs Mormon Barnes (Sophie Thatcher) e Paxton (Chloe East) são duas missionárias, que apenas querem espalhar a palavra da sua paróquia, para quem quiser ouvir, numa pequena e pacata vila norte-americana. As irmãs acabam por dar com o Sr. Reed (Hugh Grant), um homem que demonstrou interesse em ouvir mais sobre o que as irmãs tinham para dizer sobre a igreja Mormon. Excepto que o Sr. Reed tem outro objectivo: desafiar a crença das jovens, e plantar a ideia que, afinal, tudo o que acreditam é falso.
Depois do desastre sci-fi futurista de 65, Scott Beck e Bryan Woods aparentam estar mais confortáveis quando abordam medos mais sociais, tal como o fizerem em Haunt – mas desta vez sem palhaços. Com um argumento repleto de diálogos, que facilmente poderia servir de base para uma peça de teatro do género, a acção decorre principalmente entre o Sr. Reed e as irmãs, com elas a serem expostas a inúmeras possibilidades para além de uma única doutrina, e um jogo mental sobre crença. É uma abordagem muitas vezes visceral, que incluem algumas referências na cultura-pop, demonstrando como a religião é vista, na era das redes sociais.
Se por um lado a presença de Grant está muito longe do cavalheiro que conhecemos em O Amor Acontece ou Notting Hill, num papel verdadeiramente arrepiante; Thatcher e East oferecem uma dinâmica oposta a esta energia, e junto acabam por levar o filme por caminhos inicialmente intrigantes, mas que acabam por seguir insonsos no seu exagero, podendo ter tido mais sucesso se houvesse mais moderação e contenção.
Assim, Herege apresenta-se como um thriller muito competente em captar a nossa atenção e curiosidade, sobretudo na forma que contextualiza o tópico e desfia as personagens; mas uma vez que a novidade passa, este acaba cercado de ideia revistas no género sem propriamente explorar o potencial demonstrado inicialmente, o que é uma grande pena. Felizmente, temos Hugh Grant num dos seus papéis mais diferentes, o que é sempre curioso.
Nota Final: 6/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.