Cinema: Crítica – Caso 137
Após uma grande estreia em Cannes, Caso 137 vê o cineasta Dominik Moll a inspirar-se por eventos verídicos dos coletes amarelos para o seu novo filme.
Os cidadãos franceses estão acostumados a demonstrarem a sua revolta perante as decisões do seu governo, de uma forma muito particular. Inspirado por vários eventos das manifestações dos chamados coletes amarelos em 2018, Dominik Moll aborda sem medos o tópico, enquadrando uma visão da realidade actual que continua a assombrar a França, em Caso 137, que teve estreia na edição deste ano do Festival de Cannes.
Seguimos Stéphanie Betrand (Léa Drucker), uma investigadora de assuntos internos da polícia francesa, que recebe o caso chocante dos Girard, onde o filho mais novo, Guillaume (Côme Péronnet) diz que foi atingido por uma bala de borracha no crânio, disparada por um grupo de polícias, causando consequência que ficarão com ele para o resto da vida. Cabe a Stéphanie investigar e determinar a verdade, e levar a cabo a justiça.
Abordar este tópico requer uma certa sensibilidade e noção, sobretudo demonstrando os dois lados da história e, durante duas horas, construir o caso que irá decidir a culpa ou inocência dos agentes em causa. Acontece que Moll equilibra muito bem a ficção e a realidade de uma forma que reflecte o que muito provável é o modus operandi das forças armadas francesas, das suas múltiplas subdivisões, e da determinação da responsabilidade de cada uma nesses estados de urgência, onde proteger o povo e punir os desestabilizadores é mais prioritário que cumprir a burocracia obrigatória.
A demonstração de um sistema quebrado é igualmente reflectido pelas pessoas que trabalham para eles, em ambos lados. A impunidade do cumprimento das suas leis internas pelos que estão no terreno, como os vários bloqueios de forças maiores em responsabilizar esses mesmos agentes, demonstrando a fragilidade das entidades das quais prestaram juramento.
Se por um lado Drucker encarna a sua personagem de forma convincente, colocando o espectador sempre do seu lado, com uma humanidade muito necessária para uma agente da autoridade, a sua obsessão acaba por também prejudicar o seu julgamento em perseguição à justiça; enquanto que o restante ensemble mantém-se dentro das expectativas, ao apoiarem a investigadora, ou que estão contra ela.
Assim, Caso 137 é um filme que toma o seu tempo a estabelecer os factos, oferecendo toda a informação de forma densa e através de momentos chave, que desenvolvem um caso altamente revoltante. Ainda que não tenha propriamente um ritmo frenético, ou sequer emocionante, estamos perante um filme com a cabeça bem assente nos ombros, e muito focado em não ser mais do que necessita de ser naquele momento.
Nota Final: 6/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.




