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Cinema: Crítica – Beau Tem Medo (2023)

Desde da aparição de Ari Aster, que este tem sido um dos mais prolíficos realizadores dos últimos tempos, tendo sido alvo de destaque muito antes da sua estreia no grande ecrã em 2018, com Hereditário. As suas curtas-metragens faziam furor entre cinéfilos e o seu crescimento exponencial criou um culto de fãs como muitos poucos realizadores têm. O seu segundo filme, Midsommar – O Ritual, escrito como um processo de cura após o término de uma relação, mostrou que Aster seria capaz de algo mais que um filme de terror sobrenatural. Este seu terceiro filme, Beau Tem Medo, é capaz de ser o seu mais imaginativo e surreal deles todos.

Acompanhamos Beau (Joaquin Phoenix), um homem que ao ouvir da morte da sua mãe, decide voltar para casa. Acontece que esta aventura não é tão linear quanto se possa pensar, tendo que Beau enfrentar os seus medos do mundo que o rodeia, tudo para que o caminho até casa seja o menos aborrecido possível.

Estamos perante uma das experiências cinematográficas mais confusamente estranhas que já assistimos, onde em três horas, tudo muda, evolve, pára para se rir de si próprio e para os espectadores, e prossegue com a sua vida como se nada fosse. É uma experiência que com certeza não irá agradar à grande maioria de espectadores, que não irão apreciar a ousadia de assistem a um filme que funciona como uma catarse criativa em função de terapia. Creio que de certa altura, o argumento do filme possa ser sido escrito em plenas sessões com o seu psicólogo, inclusive em conjunto com ele, o que explicaria muito daquilo que está a acontecer.

Não é um filme fácil de absorver, pelo que os seus conceitos variados Kafkianos, e da forma surreal em como são aplicadas num filme de três horas, em que salve-se quem puder. É possível que a interpretação e dissecação detalhada do filme possa o tornar em algo sem alma, apenas um conjunto de momentos de um pesadelo cómico e irónico; enquanto que simplesmente relaxar e deixar as imagens passar, pode acabar por ser uma abordagem mais niilista, algo que não é completamente errado de se sentir na pele. Neste caso em particular, as opções estão em aberto, e cabe a cada um decidir como quer olhar para Beau.

Apesar de tudo, este filme é um enorme risco para a credibilidade de todos os envolvidos, com excepção a Phoenix, que dá-nos o prazer de fazer um papel que é genuinamente uma representação daquilo que esperamos do actor. Se por um lado, a carreira de Aster poderá ser afectada por ter ido demasiado longe dentro das suas próprias ideias, estas que podem não ser bem traduzidas junto aos espectadores. Pensar que este filme poderia ter sido efectivamente a sua estreia, poderá ter mudado a sua vida por completo, e não de uma forma positiva. Por outro lado, este é o filme mais caro que a A24 alguma vez produziu, um voto de confiança junto à criatividade de Aster, que pode acabar por ser um tiro na culatra. Quais as consequências disto, só o tempo dirá, mas há definitivamente uma mudança de perspectiva perante o realizador e a respectiva produtora.

Assim, Beau Tem Medo é o filme mais diferente que verão este ano, escrito e realizado por um cineasta respeitado e querido por muitos, que mostra a sua vulnerabilidade e os seus complexos em fita, um exercício emocionante e bastante pessoal. Apenas não conseguimos perceber exactamente para quem é este filme, se para Aster, ou o público que o segue.

Nota Final: 6/10

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