Cinema: Crítica – Babygirl
Nicole Kidman e Harris Dickinson juntam-se neste drama erótico intenso, mas será algo que valerá a nossa atenção ou apenas algo criado para o efeito choque?
Nicole Kidman é uma actriz com um cardápio invejável, protagonizando diversos filmes memoráveis e icónicos durante toda a sua carreira, contracenado igualmente com várias estrelas de Hollywood. Aos 57 anos, Kidman regressa ao grande ecrã com Babygirl, realizado por Halina Reijn, que fez furor com Bodies Bodies Bodies em 2022.
Romy (Kidman) é uma CEO de uma empresa de robótica, ambiciosa e assertiva; focada na sua família perfeita e com uma vida aparentemente normal. Excepto que Romy tem algumas tendências menos normais, sentido se atraída ao conceito de submissão. A vida dela dá uma reviravolta quando conhece Samuel (Harris Dickinson), um novo estagiário que lhe aborda de uma forma diferente que as restantes pessoas, atraindo Romy para um caso, onde o desejo lhe pode arruinar a vida.
Com a proliferação da pornografia e a banalidade da expressão sexual que vivemos nos dias de hoje, Babygirl incorpora o tema actual num contexto relevante, mas cuja execução fica algo aquém do expectável. Foi com Stanley Kubrick que Kidman conheceu o mundo obscuro e secreto da sexualidade em Olhos Bem Fechados, juntamente com Tom Cruise, considerado uma das obras modernas que introduziu a revolução sexual às massas; e mais tarde As Cinquenta Sombras de Grey, tanto o livro como a eventual adaptação cinematográfica, colocou novamente essa revolução no centro. Mas acontece que Babygirl quer, de algum modo, seguir os mesmos passos, mas sem o aparente impacto que qualquer um dos outros dois filmes tiveram na cultura-pop.
Enquanto que Kidman e Dickinson claramente têm uma química palpável, a narrativa acaba por trair ambos quando se lembra da sua posição no mundo real, deixando cair qualquer tipo de choque que facilmente poderiam ter. Se por um lado, é admirável um filme não cair em truques fáceis, a verdade é que a falta deles torna tudo muito menos divertido.
Naturalmente, a abordagem de outros tópicos importantes como jogos de poder nas empresas, o assédio, e outros afins são efectivamente relevantes; mas o contexto dos quais são demonstrados, reflectem num manual de tudo aquilo que não se deve fazer.
No fim, Babygirl faz um esforço para ser um passo na revolução sexual no cinema, mas acaba por se distrair por uma história de adultério sem grandes riscos, sucumbindo à sua própria superficialidade. Talvez a representação mereça um destaque mais sucinto, talvez as personagens deveriam perceber o conceito de auto-responsabilidade, mas definitivamente merecia muito melhor do que temos perante nós.
Nota Final: 4/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.