Cinema: Crítica – Ashkal (2022)
Em 2021, Youssef Chebbi juntou-se a Ismaël na realização de Black Medusa, um dos filmes sensação no circuito dos festivais recentes. Era um filme que retratava de uma forma particular a dualidade da sua personagem, ficando na história como um dos grandes filmes vindos da Tunísia. Agora a solo, Chebbi traz-nos Ashkal, continuando o seu retrato do folklore local num contexto único.
Após encontrarem um corpo queimado sem indícios de crime numa zona de construção, os detectives Fatma (Fatma Oussaifi) e Batal (Mohamed Grayaâ) têm que seguir as pistas e perceber o que está por detrás das várias auto-imolações que têm visto pelo distrito, e se há alguma ligação. Nada os poderia preparar para aquilo que vão descobrir.
Este thriller começa como um procedural relativamente tradicional, a investigação da morte, que vai criando momentos onde estamos mais próximos da verdade. Mas rapidamente mostra ser outro tipo de thriller, sobretudo quando as coisas começam a ficar um bocadinho mais bizarras, deixando nos a tentar adivinhar o que estará para acontecer.
Naturalmente este também não é um filme tradicional norte-americano, algo que beneficia altamente o conceito folclórico abordado e integrado nesta narrativa para oferecer uma intriga extra, numa zona da Tunísia dividida pela riqueza e a pobreza. Enquanto isso, um comité local procura expor a corrupção policial, tornando a tarefa dos detectives mais difícil, não sabendo em quem podem confiar, nem quem está a salvo dos seus negócios obscuros.
Chebbi oferece-nos assim um filme repleto de elementos de noir e mistério, com uma realização impecável, aliado à direcção de fotografia de Hazem Berrabah, faz com que a obra seja visualmente perfeita, seja nos grandes planos, seja nos detalhes. A banda sonora e o design de som garantem que a experiência é aumentada pelos sentidos, ficando apenas a narrativa com um grande ponto de interrogação quando este caminha para o terceiro acto, deixando-nos com mais perguntas do que propriamente respostas sobre a mensagem do filme e o enquadramento dos seus acontecimentos mais perto do final.
Não obstante disso, Ashkal é um filme bastante sólido, com personagens competentes e uma narrativa intrigante, que aborda temas locais sensíveis e reflecte uma cultura local captada por um cineasta que sabe exactamente como balancear a parte técnica com a parte criativa, sem medos ou receios. Naturalmente, poderão haver coisas que se perdem na tradução, mas neste caso em particular, não retira qualquer tipo de mérito à obra, provando novamente que o cinema tunísio está bem de saúde.
Nota Final: 8/10
Fã irrepreensível de cinema de todos os géneros, mas sobretudo terror. Também adora queimar borracha em jogos de carros.