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Cinema – Crítica: 200% Lobo

Uma sequela selvagem que uiva por atenção, 200% Lobo tenta ofuscar o seu antecessor, mas acaba por latir mais do que morde.

200% Lobo

Vi 100% Lobo em setembro do ano passado, uma aventura animada surpreendentemente encantadora, ainda que irregular, sobre um caniche que queria ser lobisomem. Sinceramente, não esperava que demorasse um ano inteiro até ver a sequela. Mas cá estamos, com 200% Lobo (sim, foi mesmo esse o título que escolheram), a duplicar a cor, o caos e a energia canina. Infelizmente, esses 200% nem sempre se traduzem em qualidade.

A história retoma exatamente onde ficou: Freddy Lupin, o caniche cor-de-rosa herdeiro de uma orgulhosa linhagem de lobisomens, continua a lutar para ser aceite pela sua alcateia. Quando implora aos espíritos da lua para finalmente o transformarem num “verdadeiro” lobo, as coisas dão a volta ao esperado, um bebé lunar traquinas chamado Moopoo concede-lhe o desejo, mas acaba por cair acidentalmente na Terra. O que se segue é uma missão de resgate cheia de latidos, magia cintilante e um lobo rebelde chamado Max, cuja presença feiticeira traz um toque bem-vindo de escuridão.

200% Lobo

No papel, é uma base aceitável para uma aventura de fantasia infantil. Mas, na prática, 200% Lobo parece um desenho animado de sábado de manhã com excesso de cafeína esticado até aos 88 minutos. O ritmo é implacável, as cenas misturam-se umas nas outras sem espaço para respirar, e as piadas disparam tão depressa que mal temos tempo de gemer com elas. É o tipo de filme que parece ter medo de que uma criança desvie o olhar por dois segundos, por isso enche cada fotograma com movimento, barulho e néon.

A animação é colorida, por vezes até deslumbrante. Nota-se uma tentativa clara de dar ao filme mais energia visual do que ao anterior. Mas o aspeto geral inclina-se demasiado para CGI de qualidade televisiva, pensem em Patrulha Pata nos seus primórdios, mais do que em Pixar. Ainda assim, as crianças poderão achar as superfícies brilhantes irresistíveis, e não posso negar que alguns designs de criaturas (especialmente o Moopoo) têm um charme genuíno.

200% Lobo

O Freddy, porém, continua a ser um protagonista difícil de apoiar. A sua arrogância, embora justificada do ponto de vista temático (está novamente a aprender humildade e autoaceitação), torna-se irritante a meio do filme. É frustrante vê-lo repetir os mesmos erros do primeiro. Os seus amigos Batty e Hamish fazem o possível para manter o barco a flutuar, oferecendo algum alívio cómico que por vezes resulta, embora os adultos provavelmente se apanhem a olhar para o relógio muito antes dos créditos finais.

200% Lobo

O elenco de vozes faz o que pode, Nelson Raposo dá entusiasmo ao Freddy, e Marina de Sousa injeta uma deliciosa dose de exagero em Max, enquanto também interpreta Moopoo. O restante elenco também está bastante bem, mas estes são definitivamente os destaques.

Para ser justo, 200% Lobo tem o coração no sítio certo. Defende mensagens de aceitação, trabalho de equipa e coragem, todas saudáveis e fáceis de compreender pelos mais novos. Há até alguns momentos que roçam uma verdadeira carga emocional, sobretudo em torno da inocência do Moopoo e do anseio de Freddy por pertença. Mas esses momentos estão soterrados sob tanto ruído narrativo que mal se fazem notar.

200% Lobo

Se 100% Lobo era um azarado determinado, 200% Lobo esforça-se demasiado para provar que pertence à alcateia das grandes franquias de animação. É mais barulhento, mais vistoso e mais caótico, mas não necessariamente melhor. As crianças com menos de sete anos talvez o achem deslumbrante, e todos os outros provavelmente o esquecerão até à próxima lua cheia.

Nota: 5/10

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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