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Antevisão cinema: Drácula, de Luc Besson

Os fãs de histórias de vampiros e de terror gótico podem contar com mais um filme de Drácula baseado na obra de Bram Stoker (1847 – 1912) a estrear neste verão de 2025.

Trata-se de Dracula: A Love Tale («Drácula») dirigido pelo produtor francês Luc Besson (n. 1959) e que conta com o ator Caleb Landry Jones (n. 1989) no papel do vampiro imortalizado pela literatura e o cinema. O elenco é ainda fortalecido por Zoe Bleu (n. 1994) no papel de Mina e Elisabeta (a primeira paixão do conde) além de Christoph Waltz (n. 1956), Matilda de Angelis (n. 1995), Ivan Frenek (n. 1964) e Jassem Mougari (n. 1996) entre outros.

Neste caso, procurando algum contraste com o Drácula de Bram Stoker (1992) de Francis Ford Coppola, Luc Besson pretende adaptar a história com um trama de carácter mais emocional e centrado na obsessiva paixão de Drácula.

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No século XV, um príncipe cristão dececionado após a morte da sua amada Elisabeta decide renunciar a Deus e se transforma num vampiro. A sua dor e a recordação de Elisabeta, assassinada no decorrer do confronto do príncipe com os turcos, mantém-se ao longo dos séculos até encontrar na cidade de Londres do século XIX uma mulher muito parecida (Mina) com a sua falecida esposa. Decide então persegui-la, crendo que é uma reencarnação da mesma mulher que amara.

A narrativa explora esta paixão firme mesmo ao longo de diferente períodos históricos, expondo cenários distintos da Europa ao longo de 400 anos, bem como a ideia da determinação e na crença do destino através da visão do imortal e herege Drácula, que procura fazer pelas suas mãos aquilo no qual retirar do domínio de Deus. Como já sabemos, pode-se esperar o choque entre uma entidade sobrenatural provinda da misteriosa Transilvânia (que outrora fez parte do antigo principado da Valáquia) e um mundo que não está preparado para aceitá-lo, associando o seu fado a uma maldição própria de um legado anti-natura e maligno.

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Mais que o potencial choque entre a razão do Iluminismo e a superstição, revisitar a ideia do vampiro aristocrático na época vitoriana (e não só!) repisa a importância da sublime visão em tornos dos temas de morte, como se evidentemente Thanatos e Eros continuassem de mãos dadas, mantendo uma relação cúmplice, já que o romance Drácula lançado em 1897 sempre explorou a repressão sexual e todo o mundo do erotismo através de diálogos e interações disfarçadas.

Mais do que a vontade de vencer a morte, é o desejo que impele Drácula a prosseguir nos seus intentos, desafiando normas e preconceitos presentes numa sociedade que não o aceita. Se a sexualidade é um tema tabu, tudo o que é proibido — representado pelo imaginário do vampiro — torna-se sedutor e digno de ser explorado. O ser imortal pretende quebrar barreiras e fascina-nos por esse lado que não é apenas predatório, mas imune a condicionamentos do mundo mortal e humano.

O seu lado sombrio, por vezes inquietante, transporta-nos também para o domínio do irracional e da nossa própria natureza que deixa de estar reprimida, pelo que não nos surpreende que Drácula também se possa transformar noutro ser (lobisomem e strigoi ou moroi) ou evidenciar um comportamento atrevido e violento.

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As expectativas para este novo filme que estreia a 30 de Julho em França e que contém também algo próprio de um romance histórico, também são elevadas. Para todos os efeitos, não podemos ser indiferentes à ação, aos cenários de batalha e às diferentes perspetivas de locais de outras épocas, como se viajássemos no tempo.

Um filme mais independente, com uma visão própria de um conhecido realizador europeu, com atores diferentes, promete sempre quebrar com as rotinas a que tantas vezes nos habituaram os filmes de Hollywood, mas podemos contar com um enredo digno de reter a nossa maior atenção, aliando-se a isso bons efeitos especiais e o respeito mais detalhado e realista pela representação dos locais e das personagens de outros tempos (algo que nem sempre é seguido com o melhor rigor por realizadores norte-americanos.)

Mas não podemos de ter em conta que esta é também uma obra de ficção baseada numa figura cujo impacto cultural é por demais assinalável.

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Luc Besson nas filmagens

O motivo pelo qual Drácula continuará a fazer a sua aparição no cinema, mais do que uma referência que contagiou todo o mundo da ficção, incluindo não só a literatura como a banda desenhada, os videojogos, diversos trabalhos de animação e outros mais exemplos, é que continua a ser o vilão gótico ideal, funcionando como o eterno transgressor que sempre nos fascina.

A sua simbologia acarreta a força da ambiguidade moral e da decadência social suspensa através da intensidade das suas emoções, que o orientam. Além da sede de sangue, podemos reconhecer no vampiro aristocrata o sentimento de impunidade que pesam as suas ações mais perversas e a óbvia aproximação a Sade. O sinistro Drácula, que se acha acima dos juízos humanos, reconhece a verdade nua e crua da existência num mundo desprovido de valores e onde Deus se revela como ausente.

Tal como o infame marquês, a única conduta clara do vampiro para lidar com o sofrimento é a eterna busca pelo prazer, ainda que este explore o abuso, a manipulação, o homicídio, a vingança e a tortura…

Salientemos que o vampiro aristocrata não é o monstro comum, absurdamente insano ou destituído de lógica. Drácula aparenta ser misterioso, sensível, metódico, sofisticado, mas também nos apresenta como um ser ao qual é possível alcançar toda a redenção, ainda que faça um caminho completamente inverso ao que esperamos de um herói ou de um homem ideal.

Afinal de contas, ele espelha todos os males de um homem profundamente apaixonado, que age como um ser intensamente ferido ou como se agisse com uma ferida aberta, absurdamente profunda: Cego ou indiferente a tudo, exceto para reencontrar o amor da sua vida.

Drácula estreia em Portugal a 21 de Agosto

 

Bruno Lourenço

Fascinado por História da Arte e pelo Universo Criativo da Ficção, é um entusiasta consumidor de Banda Desenhada além de leitor assíduo de obras de Ficção Científica e de Terror, com particular predileção pelo Oculto e o Sobrenatural

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