Análise: “WandaVision”, uma carta de amor ao conceito de família (Disney+)
Num ano tão fraco de cinema como este que passou, “WandaVision” chegou para nos acalmar a alma e acabou por deixar um aperto no coração.
A trama deste original da Disney+ passa-se algumas semanas após os eventos retratados em “Avengers: Endgame” e onde vemos uma Wanda Maximoff, protagonizada por Elizabeth Olsen, a tentar lidar com a “morte” de Vision, retratado por Paul Bettany, após perder a Mind Stone para Thanos. No seguimento do Blip causado por Hulk, que devolveu todas as vidas perdidas com o primeiro estalar de dedos da Infinity Gauntlet, acompanhamos Wanda na tentativa de recuperar o corpo inanimado de Vision e a sua luta interna em lidar com o sucedido.
**Atenção, o seguinte texto contém Spoilers**
Após ser confrontada com o corpo desmantelado de Vision numa das instalações da S.W.O.R.D., Wanda decide viajar até Westview, New Jersey, local onde ela e Vision planeavam ter uma casa e uma vida pacata juntos. A cruel realidade disto nunca se vir a poder concretizar leva Wanda a sucumbir numa imensa amargura e tristeza, com os seus poderes a libertarem uma vasta onda de energia que materializa não só a casa dos seus sonhos, como o próprio Vision, enquanto mantém Westview e os seus residentes num estado latente e prisioneiros da sua própria vontade.
É a partir deste momento que acompanhamos a narrativa da série, onde cada novo episódio é o reflexo de sitcoms americanas, ao longo das várias décadas, e que Wanda assistia em criança com os seus pais e irmão. Esta é uma história onde seguimos Wanda no processo de lidar com o luto, as repercussões que isso tem nos seus poderes e consequentemente no mundo à sua volta.
Com o episódio final da passada sexta-feira vimos encerrada esta narrativa, que culminou com Wanda a reconhecer e a assumir o papel de Scarlet Witch (título até agora limitado pelos direitos de autor pertencerem à 20th Century Fox) e a abandonar Westview, depois de levantar o feitiço que lançou involuntariamente. Ao tomar esta decisão acaba por perder a nova versão do Vision que materializou, assim como os dois filhos, Billy e Tommy, resultantes do seu inconsciente desejo de constituir família. Em imagens pós-créditos podemos ver que esta não será a última aparição de Scarlet Witch, ainda para mais porque já foi confirmado que Elizabeth Olsen irá contracenar com Bennedict Cumberbatch num dos próximos filmes da franquia Marvel, “Doctor Strange in the Multiverse of Madness”. Do mesmo modo, ficou em aberto o destino do novo personagem White Vision, o verdadeiro corpo de Vision que foi reanimado pela S.W.O.R.D., e que após contactar com a versão criada por Wanda, aparenta ter recuperado todas as suas memórias e que neste último episódio vemos voar para fora de Westview.
“WandaVision” foi uma minissérie que conseguiu colmatar a falta de filmes da Marvel nos últimos tempos, com o último a ter sido “Spider-Man: Far From Home” em julho de 2019, há já quase dois anos. Pudemos assim seguir personagens que pouco acompanhámos noutros filmes, como Wanda e Vision, mas também personagens secundárias como Darcy (“Thor”), o agente do FBI Jimmy Woo (“Ant-Man and the Wasp”) e Monica Rambeau (“Captain Marvel”). Tivemos ainda direito a um estranho meta-cross-over com “X-Men” ao trazerem o actor que fez de Peter Maximoff para o lugar do ator que protagonizou Pietro em “Avengers: Age of Ultron”, resultando num inesperado cameo que criou um reboliço nas redes sociais como há muito não se via.
Ainda assim, segundo alguns rumores e confirmações recentes, era suposto ter havido mais cameos, como o presumível aparecimento de Dr. Strange, e cenas que foram removidas, como uma colaboração entre os personagens Monica, Darcy, Billy, Tommy e o falso Pietro. Nesta cena removida, os personagens juntam-se para recuperar o livro Darkhold da cave de Agatha Harkness, a verdadeira antagonista da história, e são impedidos pelo seu coelho de estimação, Señor Scratchy, que se transforma num demónio, numa possível referência a Mephisto dos comics.
Tivemos assim uma minissérie que para além da óbvia homenagem às sitcoms americanas, e de funcionar como ponte narrativa entre filmes passados e futuros, soube retratar temas como a família, solidão, luto, depressão e o crescimento pessoal, acabando por se tornar um hino ao amor entre Wanda e Vision.
Sobre a qualidade cinematográfica não existe nada a apontar pois tivemos direito a uma minissérie com a qualidade de um blockbuster da Marvel e uma banda sonora já conhecida e amada pelo público.
Na minha opinião recebe um 9 em 10, e que venham mais narrativas do género, ficando à espera das próximas minisséries do Disney+ como “Falcon and the Winter Soldier” e o tão aguardado “Loki”.
Desde criança que nutre um carinho pelo audiovisual, ao ficar a ver as séries e filmes estrangeiros com os adultos, mesmo depois das horas de deitar. Mais tarde, como jovem, descobriu um gosto especial pela cultura japonesa, indo de anime a Nintendo.