Análise: Reckless Volume 5 – Afunda-te Comigo
Os mestres dos best-sellers do policial “noir”, Ed Brubaker e os irmãos Phillips, conduzem o durão Ethan Reckless ao final desta série por meio do romance e da descoberta do seu “eu” mais profundo. Aqui, podemos sempre contar com uma narrativa e uma arte sublimes e emocionantes.
Já mencionei no volume anterior que a coloração de Jacob Philips é capaz de capturar o espaço e as sensações dos personagens de forma incrível e eficaz, sendo extremamente flexível e, por vezes, contrastante. O seu domínio da iluminação e dos espaços é de uma qualidade impressionante, e é difícil encontrar em outras bandas desenhadas o mesmo nível de pragmatismo e densidade na transmissão de sensações como dor, carinho, cansaço, choque, tristeza, agressividade, violência e paz. Isso é transmitido por meio dos blocos de cor que mudam nas diferentes vinhetas, refletindo esses sentimentos de maneira magistral.
O traço de Sean continua esplêndido e, neste último volume, migra para espaços mais abertos, contrastando com a mansão de Hollywood e seus recantos presentes no volume anterior.
Passamos mais tempo na estrada, e vemos Reckless desenvolver uma conexão romântica pouco comum com a co-protagonista Rachel. Ela aparece determinada na sua vingança, algo que se encaixa perfeitamente neste tipo de narrativa, dando impulso à hostilidade e violência que só esses mestres do crime conseguem transpor para os painéis de uma banda desenhada pura e direta para adultos.
Enquanto acompanhamos os momentos românticos de Ethan, também presenciamos a sua violência implacável, onde a sua fúria é plenamente revelada. É interessante notar como esses dois aspectos foram explorados no primeiro volume da série, “Amigo do Diabo”, e agora novamente no desfecho.
A escolha de Brubaker de explorar a intimidade emocional de Ethan é excepcional, uma vez que estamos diante de um homem extremamente fechado, preso na sua própria escuridão, e, portanto, muito relutante em admitir os seus sentimentos mais profundos e intensos.
As paisagens desenhadas por Sean Phillips refletem com perfeição a solidão com a qual Ethan e Rachel convivem, tornando este episódio final muito romântico e melancólico.
A parte final deste capítulo, que deixo para vocês descobrirem (para evitar spoilers), representa um pico criativo de Brubaker e acrescenta originalidade à consistência dos cinco volumes de Reckless e dos seus personagens principais.
Com o cenário do terremoto de 1989 em San Francisco e o perturbador abuso sexual infantil sofrido por Rachel, que exibe um carisma cativante, Brubaker coloca nosso protagonista (um sósia de Robert Redford) em uma última história de vingança. Para alguns, essa conclusão pode ser incrivelmente brilhante; para outros, talvez anticlimática.
Não podemos esquecer que o tema do abuso, abordado aqui pelo autor, tem como objetivo demonstrar a espiral de violência que esse tipo de trauma pode desencadear.
Uma coisa é certa: ninguém ficará indiferente a essa leitura. Mais uma vez, aplaudo a criatividade dos autores.
E, por fim, destaco mais uma excelente edição da G.Floy Studio Portugal, com capa dura e encadernação impecáveis. Parabéns à editora por encerrar mais uma série de qualidade extraordinária.