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Análise Manga: Given Volume 1

Given Volume 1 é um manga que mistura música, amor e luto numa sinfonia de emoção e crescimento pessoal.

Given Volume 1

Música, amor e silêncio, Given junta os três com uma honestidade desarmante. Criado por Natsuki Kizu, este manga pode parecer uma típica história slice-of-life sobre uma banda amadora, mas não te deixes enganar. Por baixo das cordas das guitarras e dos olhares silenciosos esconde-se um BL (Boys’ Love), um género centrado em relações românticas entre personagens masculinas. Ainda assim, mesmo que o BL não seja o teu tipo de leitura habitual, tal como não é o meu, a sinceridade emocional de Given transcende qualquer rótulo.

Publicado entre 2013 e 2023 e compilado em nove volumes, Given segue quatro músicos cujas vidas se entrelaçam através da música e das emoções que esta transmite sem palavras. O primeiro volume, agora disponível em português pela Editora Midori, introduz este mundo com uma certa subtileza. Não se trata de gestos grandiosos ou de melodrama, mas sim de descoberta, dor e da força curativa da ligação humana.

A história começa com Ritsuka Uenoyama, um prodígio adolescente da guitarra cuja paixão, tanto pela música como pelo basquetebol, começa a desvanecer-se. Entra em cena Mafuyu Satō, um colega silencioso que carrega uma guitarra Gibson gasta, com cordas partidas, e um peso que não consegue expressar. Uenoyama conserta a guitarra, oferece-se, a contragosto, para lhe ensinar a tocar e então tudo muda. Quando Mafuyu canta pela primeira vez, a sua voz crua e assombrosa atravessa a apatia de Uenoyama como um acorde que finalmente se resolve. Nesse momento, Uenoyama percebe que encontrou algo, ou melhor, alguém, por quem vale a pena tocar.

Juntam-se depois Haruki, o baixista sensato, e Akihiko, o baterista carismático, para formar uma banda amadora. Através deles, Kizu pinta um retrato da juventude que é simultaneamente suave e turbulento. Cada membro carrega a sua própria bagagem, e embora o primeiro volume se foque sobretudo em Uenoyama e Mafuyu, as sementes da química do grupo já estão lá.

O que se destaca em Given é a forma como a música se torna uma linguagem de emoção, uma maneira de dizer o que não pode ser dito em voz alta. O silêncio de Mafuyu não é apenas um traço de personalidade, é a manifestação do luto. Isto conduz-nos a um dos temas centrais do manga, o luto e a capacidade de seguir em frente. A história não se apressa a explicar o passado de Mafuyu, mas o peso dele paira sobre cada painel.

Ao mesmo tempo, Given fala sobre comunicação e expressão. Uenoyama luta para compreender o que sente, por Mafuyu, pela música, por si próprio, e essa confusão soa dolorosamente real. O diálogo é escasso, muitas vezes substituído por narrativa visual. A arte de Kizu é limpa, mas carregada de emoção, e o seu ritmo permite que o silêncio fale mais alto do que qualquer linha de diálogo.

Given Volume 1

E sim, este é um manga Boys’ Love, mas tratado com cuidado e maturidade. Não há fanservice aqui, apenas dois rapazes a tentar compreender emoções que os assustam. O laço entre eles cresce de forma natural, construído sobre paixão partilhada e compreensão mútua. O romance é terno, não sensacionalista, e é isso que o torna ainda mais poderoso.

A acrescentar charme a este primeiro volume estão as mini-histórias bónus no final, pequenos momentos do quotidiano que mostram as personagens fora da sala de ensaio. Dão um toque de calor e humanidade que equilibra a trama principal, mais melancólica.

Se já viste uma das adaptações em anime, a série de 2019, os filmes de 2020 e de 2024, ou a OVA de 2021, sabes como esta história se traduz lindamente em som e movimento. Mas ler o manga, especialmente este primeiro volume, oferece algo único, a intimidade silenciosa de ver o início da banda, quadro a quadro, antes de a música começar a tocar.

Given Volume 1

Given Volume 1 não é apenas um manga sobre formar uma banda, é sobre reencontrar a coragem de sentir. A narrativa de Kizu é lenta, deliberada e emocionalmente rica, e embora o primeiro volume funcione sobretudo como introdução, estabelece um ritmo sólido que promete harmonias mais profundas nos volumes seguintes.

Nota: 8,5/10

António Moura

Um pequeno ser com grande apetite para cinema, séries e videojogos. Fanboy compulsivo de séries clássicas da Nintendo.

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