Análise: Curta-Metragem “Ivalu” (2022)
Ivalu (adaptado de um romance gráfico dinamarquês), é o oitavo projeto de Anders Walter que já ganhou o Oscar de Melhor Curta-Metragem, com “Helium”.
Certo dia, Pipaluk (Mila Heilmann Kreutzmann) acorda e dá pela falta da sua irmã. Ivalu (Nivi Larsen) desapareceu e parece não ter deixado rasto algum. Inicia, então, uma busca pelos locais que frequentavam juntas, levando-nos numa visita guiada pelos laços fraternais e memórias de ambas, desvendando gradualmente o mistério da ausência de Ivalu.
Tendo a tradição e mitologia local como presença constante ao longo da obra, a paisagem glaciar da Gronelândia é testemunha silenciosa da sombra e sofrimento que pauta a vida da jovem desaparecida.
Com uma estética fortemente marcada por contrastes cromáticos e planos abertos, Anders Walter usa inteligentemente a fotografia como elemento narrativo. A forma como escolhe captar a paisagem, em muito contribui para a intensificação da sensação de impotência e abandono no espectador, na medida em que, jogando com proporções, nos apresenta uma criança que se aventura sozinha na vastidão da Natureza. É possível estabelecer um paralelismo entre o simbolismo desta imagem e a personagem de Ivalu; também ela uma jovem indefesa e impotente perante uma situação avassaladora.
Este trabalho, contudo, não terá sido difícil de conceber visualmente, uma vez que “Ivalu” é uma adaptação da novela gráfica dinamarquesa, com o mesmo nome, da autoria de Morten Dürr e Lars Horneman, publicada em 2019.
É de destacar, ainda, a interpretação de Mila Heilmann Kreutzmann, Pipaluk, pela sobriedade e inocência que confere ao papel, conduzindo-nos num crescendo emocional. Aspecto que é bastante meritório, tendo em conta que, em muitas das partes, Kreutzmann não tem contracena; ora ouvimos o pensamento da personagem em voz off, ora a vemos na sua missão solitária. E que bonito é poder testemunhar esta elegância e subtileza, numa atriz tão jovem.
Ivalu_Trailer from M&M Productions on Vimeo.
Qualificada para a pré-seleção da 95ª edição dos Prémios da Academia de Hollywood, “Ivalu” poderá ser uma boa oportunidade para Walter repetir a proeza de 2014.
Nota Final: 7/10
