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Análise BD: Trilogia Filipe Seems

Numa altura em que a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu uma medalha de mérito a um autor de BD que retratou Lisboa de diversas formas, porque não descobrir ou redescobrir outras visões dessa mesma cidade? Leiam aqui a análise à trilogia das Aventuras de Filipe Seems.

Uma Lisboa diferente?

A primeira história, “Ana”, começou a ser publicada semanalmente num jornal (semanário Sete), numa já moribunda tradição das histórias em continuação, sendo depois lançada em álbum em 1993. Nesse mesmo ano, foi aprovada a realização da EXPO 98, que viria dar toda uma nova dinâmica à cidade de Lisboa. Foi uma altura em que os lisboetas começaram a acreditar que afinal a cidade podia evoluir e ser algo mais que docas sujas e Fado. Todos os sonhos eram possíveis – e foi nesse ambiente que os autores criaram uma história muito original e longe das criações da BD portuguesa da altura. Claro que se nota a imensa influência dos novos caminhos da BD franco belga. Não por acaso, é nesse mesmo ano que acaba a revista Hello Bédé, a última denominação que a revista Tintin belga teve, restando apenas a revista mensal À Suivre. Os ventos de mudança sopravam na Banda Desenhada franco-belga.

Mas “Ana” é realmente uma BD que ainda segue muitos dos conceitos habituais, com páginas com planificação perfeitamente tipificada, mas onde já vão aparecendo algumas experiências com vinhetas com aplicação de cor direta e desenhos a aguarela de página inteira. Também o argumento navega entre o filme noir de detetives e a ficção científica, sempre centrada na cidade de Lisboa e arredores. A busca de irmãs de Ana pelo mundo, mais uma vez invoca a expansão portuguesa, tema recorrente de uma Exposição que celebrava os 500 anos dos Descobrimentos Portugueses.

No ano seguinte (1994) surge “A História do Tesouro Perdido”. Os autores decidem continuar a explorar a atmosfera criativa ligada à Expo, numa altura que todos os meios artísticos eram influenciados pela defesa dos oceanos, pela expansão marítima, pela ligação marítima de Portugal com o Mundo, etc.

Numa continuação da investigação daquele que parece (em inglês seems…) um detetive, o personagem principal vai encontrar várias referências marítimas, seja a garrafa com a mensagem dentro, o tesouro enterrado, Corto Maltese e até Tintin e Haddock. Só que o argumento parte noutra direção do volume inicial e a história não consegue criar o mesmo interesse.

Por último, nove anos depois (2003) surge “A Tribo dos Sonhos Cruzados”, a terceira e última parte que já pouco tem a ver com as anteriores, tanto a nível de argumento como a nível gráfico. A Expo 98 já é uma recordação, já há uma moeda única na Europa, já estamos num novo milénio, já vivemos o 11 de Setembro e as tecnologias informáticas já fazem parte da nossa vida diária. Este último volume vive de imagens esbatidas e pouco definidas, como se tratassem de memórias vagas e que se escoam. Os autores sentiram necessidade de concluir o sonho da obra, mas o Mundo mudou tanto, que esse sonho é difuso e vago.

Neste volume é bem evidente a evolução artística de António Jorge Gonçalves e a utilização já de técnicas digitais na elaboração artística. Este é talvez o volume mais fraco e confuso no contexto geral, servindo apenas de fecho da trilogia. Este livro viria a dar origem a uma adaptação teatral e a um vídeo.

Uma reedição muito cuidada

Curiosamente, apesar das três edições dos dois primeiros livros, estes são livros que não surgem habitualmente nas feiras de antiguidades. Aproveitando a efeméride dos 30 (trinta) anos da publicação do primeiro volume, as Edições ASA relançaram a trilogia, numa cuidada edição em capa dura, com novas capas, novos processos de digitalização dos originais e com um tipo de papel diferente do inicial.

Para além disso, António Gonçalves teve de voltar atrás no tempo, voltar a técnicas que já não utilizava e refazer páginas entretanto perdidas. O resultado final é francamente superior às edições anteriores, com páginas a parecerem quase originais e não simples impressões.

Cada volume tem uma dinâmica de leitura diferente, mas todos eles conseguem prender o leitor ao desenrolar da história. O terceiro volume é talvez aquele que implica um maior esforço para acompanhar o desenvolvimento de um argumento demasiado onírico.

Livros em capa dura com boa encadernação, com páginas em papel baço de boa gramagem e qualidade e com excelente impressão. Preço normal para o tipo de livro.

Tempo de leitura:

  • Ana – aproximadamente 35 minutos
  • A História do Tesouro Perdido – aproximadamente 30 minutos
  • A Tribo dos Sonhos Cruzados – aproximadamente 15 minutos

Esta é uma edição de uma trilogia que marcou um período de descoberta de banda desenhada portuguesa. Goste-se ou não, foi um marco e lembra-nos um período em que se acreditou que Lisboa podia voltar a ser uma cidade do Mundo. Só não sabíamos que íamos ser massivamente inundados por turistas dos cinco continentes.

Filipe Seems nos seus 30 anos

FILIPE SEEMS 1 – ANAAntónio Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva
Editora: Edições ASA

Livro em capa dura com 64 páginas a cores nas dimensões de 24,5 x 32,5 cm
PVP: 22,90 € 

Trilogia Filipe Seems 2 - A História do Tesouro Perdido

FILIPE SEEMS 2 – A HISTÓRIA DO TESOURO PERDIDO

António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva
Editora: Edições ASA

Livro em capa dura com 64 páginas a cores nas dimensões de 24,5 x 32,5 cm
PVP: 22,90 € 

Trilogia Filipe Seems 3 - A Tribo dos Sonhos Cruzados

FILIPE SEEMS 3 – A TRIBO DOS SONHOS CRUZADOS

António Jorge Gonçalves e Nuno Artur Silva
Editora: Edições ASA

Livro em capa dura com 64 páginas a cores nas dimensões de 24,5 x 32,5 cm
PVP: 22,90 € 

Se não está a ler ou não tem um livro na mão… By Jove, algo se passa!!!

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