Análise BD: O Eternauta – Um clássico da Ficção Cientifica
O Eternauta é uma obra de ficção científica clássica, realizada por dois dos maiores mestres argentinos da banda desenhada. Héctor G. Oesterheld é o argumentista e o desenhador é Francisco Solano López.
Oesterheld inspirou-se na obra de Robinson Crusoe para escrever esta preciosidade e Solano López adaptou com elegância o seu traço para o seu gosto particular de ficção científica tornando esta obra icónica.
A história é datada de 1957 onde começou a sair em tiras na revista Hora Cero Suplemento semanal e hoje podemos ler em várias línguas e edições, a qual eu recomendo a brasileira da editora Pipoca e Nanquim edição definitiva deste ano ou a espanhola da editor Editorial Planeta Cómic. Ambas maravilhosas.
A sinopse é a seguinte: “Província de Buenos Aires, Argentina, 1957 Enquanto jogam cartas numa típica noite bonaerense, quatro amigos ouvem uma notícia perturbadora no rádio: um teste nuclear no oceano Pacífico teria deixado material radioativo no ar que seria arrastado com o vento para a América do Sul. Segundos depois, uma queda de neve fluorescente começa a cair na cidade e nos arredores, matando tudo o que toca. Este é o princípio da anarquia e da violência ou uma invasão alienígena?”
Os personagens vão sendo apresentados na medida em que o Eternauta Juan e principal protagonista conta a Gérman que é o escritor a quem este aparece, toda a sua história e narra os acontecimentos.
A casa onde estão reunidos é a de Juan, que vive com a mulher e a filha. Favalli, Herbert e Polski são os amigos de Juan que estão a jogar às cartas e que se apercebem que a misteriosa neve que começa a cair na rua é mortífera. Tudo se passa na cidade Argentina de Buenos Aires e as localizações são bem precisas pelos autores de forma ambientar tudo e todos.
A forma como o mistério se vai desenvolvendo é muito interessante, realista, credível e emocionante. Os personagens são bem construídos e as profissões dos mesmos, dão o toque essencial para nós imergirmos na leitura e termos uma percepção bem realista dos acontecimentos.
A forma como constroem os fatos para sair à rua protegidos, os conhecimentos científicos e técnicos, assim como a manutenção da casa hermeticamente fechada que levou à sobrevivência aleatória inicial é muito bem pensado e conseguido.
Como em qualquer evento apocalíptico ou pandémico, vemos o escalar da violência e o instinto de sobrevivência humano ao vir ao de cima nessas situações. Vamos conhecendo mais personagens e desvendando o mistério do estranho fenômeno à medida que a história avança e nos apercebemos que existe mesmo uma invasão alienígena e seres extraterrestres começam a aparecer com armas muito superiores às nossas, e objectos voadores e de destruição muito mais evoluídos que levam ao desespero do herói colectivo que vai surgindo na obra, demonstrando os valores socialistas dos autores que antagonizam com a ditadura militar argentina da época.
Os nossos heróis vão-se deparando com raios de destruição poderosos, aparelhos de controlo mental,uma espécie de pulgas gigantes, seres do tamanho de dinossauros, alienígenas com polidactilia e inteligência superior assim como naves voadoras e armas alucinogénicas. Preparem-se para ficção científica clássica mas da boa e sempre com um ritmo evolutivo e descortinante.
O desenho a preto e branco é feito por um mestre desta arte, pelo que é maravilhoso e de uma qualidade muito acima da média, impressiona como já sendo antigo, não perdeu nada com o tempo ,é uma delícia visual. Seja nas perspectivas, nos contrastes, jogos de sombras e luz e dinâmica sequencial a arte é sensacional e a disposição de vinhetas ficou muito actual nas edições que vos falei.
Solano tem também muita qualidade nas expressões faciais e transmissão de emoções nos personagens que apresentam rostos bem diferenciados entre si, o que com um elevado número de personagens é difícil para qualquer artista fazer. A arte bem realista é pormenorizada e cheia de detalhes, e os ambientes são bem representados e frios aquando a queda da neve misteriosa e tornam-se claustrofóbicos quando estão em recintos fechados. Os cenários da capital são reproduzidos de uma forma magnífica e a interação com os elementos fantasiosos está sublime.
Solano consegue desenhar realisticamente qualquer componente, animais, viaturas, cenários urbanos ou máquinas com uma impressão artística muito própria e que justifica o reconhecimento do seu talento como um dos grandes mestres do desenho a preto e branco.
Vamos ser brevemente presenteados com uma série live action pela Netflix, a qual espero que faça justiça a qualidade que esta obra merece e representa.