Análise BD: Gannibal volume 4
Neste volume, o autor transporta-nos cada vez mais fundo nos segredos desta aldeia remota onde Daigo e a sua família foram parar contra a sua vontade.
Masaaki Ninomiya retrata a angústia que aumenta consecutivamente nesta aldeia aparentemente pacífica, mas que, na realidade, é muito sórdida, onde os segredos que emergem são extremamente perturbadores.
A atmosfera é sombria, sufocante e arrepiante, onde o nosso protagonista se mantém corajoso, e a sua companheira tem também o seu destaque garantido. Por sua vez, os antagonistas desta série fazem-nos tremer com a constante dúvida do que poderão ser os seus limites macabros.
O autor explora cada vez mais as ligações complexas e problemáticas entre os habitantes da aldeia e os membros da família Goto. Depois de termos percebido quem eram os manipuladores e quem era o mais perigoso, apercebemo-nos agora de que é a sinergia entre os dois que está a apanhar Daigo — que não se vê a desistir.
Gosto imenso do nosso protagonista principal, visto que faz o arquétipo de polícia duro daqueles filmes dos anos 80 e 90, do género Charles Bronson ou Clint Eastwood, que está sempre nos limites da lei. O veterano cheio de experiência que não entra em moralismos e deixa a desejar na simpatia. Ao mesmo tempo, sabemos que tem métodos eficazes, que sabe fazer bem o seu trabalho e que sabe defender-se muito bem.
Este tipo de personalidade assenta que nem uma luva a Daigo, porque os mistérios estranhos desta aldeia não podiam levar o protagonista a sentir grandes receios ou medo. De certa forma, sentimo-nos seguros quando ele está, porque sabe cuidar de si.
Pouco a pouco, o autor explica a mecânica do que se está a passar e as relações entre Goto e os aldeões, tendo como pano de fundo os festivais folclóricos (que me fizeram recordar o filme Midsommar – O Ritual, do realizador Ari Aster), o canibalismo, o domínio e a manipulação dos mais fracos, ou seja, mulheres e crianças.
As peças começam a encaixar e vamos tendo algumas revelações, sem nunca diminuir no suspense.
É certo que algumas das personagens não parecem tão loucas como as outras, mas a sua lucidez torna-as ainda mais assustadoras, porque estão a participar sabendo o que se passa. Perguntamo-nos qual será o limite de tudo isto, e é bastante interessante esta perspetiva.
Com um cenário atmosférico de chuva no meio das montanhas, o autor cria um ambiente bonito, que se revela angustiante mas realista, e que nos encanta visualmente.
Todos são bastante assustadores sob o seu traço, desde as velhinhas e os velhotes que espiam de todo o lado com os seus grandes olhos negros vazios, até ao clássico canibal, mas também os atrasados mentais da aldeia, que são provavelmente vítimas de consanguinidade.
Todos têm caras assustadoras, pois o desenho de Ninomiya revela-se muito apropriado para este género de mangá, como já referi nos volumes anteriores.
É nesta atmosfera e neste cenário opressivo e assustador que continuamos a ter o protagonista da história a remoer cada vez mais nas trevas e profundezas sombrias dos segredos distorcidos dos habitantes da aldeia fantasmagórica recriada neste mangá, para nos causar tensão constante.
Sem dúvida nenhuma, este mangá é muito aditivo e viciante, e espero que a editora não se atrase muito na continuidade das publicações, pois a vontade após ler cada livro é de pegar imediatamente no próximo.
O formato é o do mangá clássico, com boa encadernação, capas muito atraentes que identificam a temática em questão, e um preço muito convidativo.
Venha o próximo tomo.