Análise BD: Blue Lock Vol. 4
Blue Lock é um mangá de futebol bastante fora do comum, porque mistura competição desportiva com psicologia, ego e tensão extrema. Não é só “jogos de futebol” — há bastante exploração interior, tensão entre personagens e drama pessoal.
O Volume 4 marca a reta final da primeira fase de seleção, com a equipa Z a enfrentar a equipa V, que tem Seishiro Nagi, um jogador extremamente promissor.
Este volume apresenta novamente uma elevada tensão competitiva e consegue manter o ritmo altíssimo porque há muito em jogo: derrotas implicam eliminação, e isso cria stakes reais, que mantêm o leitor agarrado.
Personagens como Isagi mostram evolução não apenas técnica, mas mental, e percebem fraquezas, tentam estratégias diferentes.
(Spoiler) — A traição de Kuon, por exemplo, adiciona conflito interno à equipa e obriga a reflexões e adaptação.
Há a introdução de novos talentos com brilho. O personagem Nagi, que joga futebol há relativamente pouco tempo, traz uma frieza e talento que surpreendem — não só pelos feitos, mas pela postura. Isso enriquece o elenco e amplia o leque de comparações e conflitos. Temos um suspense muito bem construído.
Mesmo sabendo que há probabilidades muito grandes de vitória da equipa V, o mangá não deixa isso relaxar. Isto porque há muitas surpresas, contra-ataques e reviravoltas, o que mantém o leitor incerto e investido.
Em alguns momentos, a tensão é tão alta que certas cenas de diálogo ou reflexão podem parecer um pouco alongadas, a expor demais os processos internos dos personagens (medos, inseguranças). Para quem prefere mais ação, isso pode dar uma sensação de “paragem”.
Há um risco de repetição de fórmulas de “ego vs ego” ou “super técnica vai salvar”. O mangá caminha nessa direção, que funciona, mas se houver demasiadas cenas desse tipo sem variabilidade, pode cansar.
Artisticamente, o desenho de Yusuke Nomura é expressivo, e funciona muito bem para retratar emoções fortes, expressões de esforço e paixão. Nos momentos de impacto, como golos, dribles ou jogadas decisivas, há dinamismo considerável.
As cenas de ação futebolística são visualmente limpas o bastante para se perceberem bem os movimentos, trajetórias da bola e esforços físicos. Isto é crucial num mangá desportivo — se o leitor ficasse confuso, perdia-se o impacto. Blue Lock evita isso.
O design dos personagens tende a diferenciá-los bem, tanto visualmente (postura, expressão, estilo corporal) como no contraste entre os seus vizinhos em campo. Isso ajuda a criar empatia ou antipatias, e a identificar rapidamente “quem é quem” em momentos de caos ou multidão. Eu gosto muito disso.
Parece-me, no entanto, que em certas cenas muito carregadas de emoção ou tensão interna, o estilo “exagerado” das expressões ou efeitos visuais (sweat drops, distorções, closes extremos) pode parecer um pouco over the top — o que pode ou não ser desejável, dependendo do gosto. Mas faz parte do género shōnen competitivo que Blue Lock está a explorar.
Temos também os backgrounds, que às vezes são sacrificados para destacar o personagem ou a ação; há momentos em que se tornam um pouco genéricos, nomeadamente para manter o foco nos rostos ou nos gestos. É compreensível, mas visualmente menos impressionante nesses momentos, pelo menos para mim.
Acho que um dos grandes pontos fortes deste volume é a tensão ética e psicológica: o ego, a traição, o medo de falhar.
Não é só ganhar o jogo; é ganhar a si mesmo. Isagi, por exemplo, está constantemente a enfrentar dúvidas sobre as suas habilidades e a sua estratégia mental, não só a performance física. O mangá também explora a ideia de “reprodutibilidade” de golos — não basta um momento de sorte ou de talento único; há uma busca por consistência, por poder repetir com precisão. Isso é interessante porque leva o futebol do terreno puro do instinto para uma quase ciência de desempenho.
Posto isto, diria que Blue Lock Vol. 4 se firma como um dos melhores volumes iniciais da série até ao momento, porque cumpre o que promete em termos de emoção, ação e tensão.
Aumenta o elenco de personagens com qualidade, sem diluir o foco. Isagi continua protagonista efetivo, mas os outros também têm os seus momentos. O equilíbrio entre ação em campo e conflito interno é muito bem conseguido.
Venha rapidamente a continuação, porque é uma leitura aditiva que ganharia muito se já tivesse mais volumes publicados.

O Carlos gosta tanto de banda desenhada que, se a Marvel, a DC, os mangas, fummeti, comic americano e Franco-Belga fundissem uma religião, ele era o primeiro mártir. Provavelmente morria esmagado por uma pilha de livros do Astérix e novelas gráficas 😞 Dizem que cada um tem um superpoder; o dele é saber distinguir um balão de pensamento de um balão de fala às três da manhã, depois de seis copos de vinho e um debate entre o Alan Moore e o Kentaro Miura num café existencial em Bruxelas onde um brinde traria um eclipse tão negro quanto dramático, mas em que a conta era paga pelo Bruce Wayne enquanto o Tony Stark vai mudar a água às azeitonas.




