Análise BD: As Crónicas de Enerelis volumes 4 e 5
A autora portuguesa Patrícia Costa trouxe até nós, uma história formidável, excelentemente bem contada e de uma narrativa de aventura espectacular com um estilo manga que remete muito para séries como Naruto, My Fairy Tail ou Seven Deadly Sins.
O mundo criado de Enerelis é cativante e repleto de “lore”, imaginação, criatividade e totalmente inventado pela autora, que além de construir continentes, diferentes terras e personagens de espécies diferentes, cria também cultura, linguagens, civilizações, unidades de tempo e espaço diferentes, o que faz desta BD, o trabalho de uma vida de Patrícia Costa.
Nos 5 volumes já publicados podemos ver mapas de divisões continentais, conceitos, figuras e calendário, as diferentes raças existentes em Enerelis, e as páginas entre capítulos trazem ainda além disso, muita história e mitos de Enerelis, o que torna este projecto de uma grandeza imensurável e de grande qualidade.
Naquilo que eu considero ser uma leitura mais para o público juvenil, encontrei uma história muito agradável de seguir e extremamente divertida e entretida.
O desenho é muito bom, com muita qualidade, sendo a preto e branco, vê-se que a autora vai aperfeiçoando ao longo da série vários elementos essenciais, como o jogo de luzes e sombras, a profundidade, os contrastes, a arte sequencial, a desmistificação das vinhetas entre o estilo manga e algo mais ocidental assim como, os cenários e ocupação de fundos apresentam-se cada vez mais desenvolvidos e preenchidos a cada livro.
É muito interessante ver a evolução do desenho da autora nos diferentes livros, e provando muitas vezes como o menos é mais e como o detalhe aprimorado faz a diferença, seja nas splash pages ou nas vinhetas sequenciais.
Temos um protagonista que vai beber muito da sua personalidade de um Naruto, Son Goku ou Saitama, onde vemos inocência, infantilidade, força, caráter forte e determinação, resiliência assim como coragem e facilidade em criar fortes elos de ligação com os seus amigos . Os personagens secundários são muito bem trabalhados e desenvolvidos, muito diferentes uns dos outros, conseguindo um equilíbrio e contrapontos perfeitos na narrativa eficiente, de ritmo acelerado e de mistérios bem delineados e pensados de antemão para o culminar de reviravoltas bem empregues e satisfatórios assim como interessantes.
Originalidade e divertimento naquilo que se pretende numa saga de aventuras e de auto-descoberta.
Como sinopse do 4ª volume apelidado Cicatrizes temos:
“Enerelis é um dos três mundos paralelos à Terra. Em paz há 14 anos, é povoado por diversas raças e criaturas que nasceram graças a existência de duas forças opostas, Nox e Aether, atribuindo aos seus habitantes capacidades extraordinárias.
Após os eventos que culminaram na pausa da formação de maegian, Eyren ruma a Maduncar para o treino que Sebeth lhe prometeu. Nessa busca, descobre que nem todas as suas feridas interiores estão saradas. No entanto, não é apenas Eyren que se encontra com cicatrizes antigas; todos os seus companheiros deparam-se com espectros do passado.
De que modo encararão as suas cicatrizes mais profundas? Serão eles, os mesmos após as suas batalhas pessoais? E até onde vai o perdão com o passado, se este parece mais presente do que nunca…”
Na sequência do que foi acontecendo nos volumes anteriores (1-Prelúdio, 2-Sangue, 3-Sombras), o nosso protagonista principal de seu nome Eyren Caeli parte agora para um treino a fim de poder controlar a sua magia, sendo que no volume anterior, este apresentava muitas dificuldades até em recorrer aos seus kagi de terra, fogo, água entre outros.
Como já tem sido recorrente na série, a autora, utiliza flahbacks arbitrariamente para demonstrar vários acontecimentos, e aqui ficaremos a conhecer um pouco mais do passado dos três companheiros de Eyren, que são eles o elfo Sebeth, o interesse amoroso Liriah e ainda Dária que conheceram mais tarde e se juntou a eles, mas que guarda um rancor a Eyren devido a este ser filho de Caeli.
As diferentes missões que o grupo protagonista tem enfrentado para atingir o nível 5 de maegian tem sido o fio condutor da história, mas todas as histórias circundantes e personagens secundários originam cada vez mais curiosidade nos acontecimentos futuros e na resolução de problemas e conflitos.
Como sinopse do volume 5 Ilusões temos:
“No rescaldo do trágico encontro com Ària e Zendian, Eyren e os seus companheiros são surpreendidos com a decisão dos Echeron em suspender todos os estágios devido ao súbito aparecimento de maegian mortos em formação.
Forçados a manter ocultas as suas identidades para sobreviver à ameaça que paira sobre os quatro, a vida real torna-se num desafio que porá à prova a resistência das suas cicatrizes.
Em que se irão tornar os quatro companheiros, se não podem ser quem realmente são? Como será que vão ultrapassar a bruma de ilusões que mergulhou todas as Divisões no caos e no medo?
E como conseguirão as defesas enerelianas encontrar um inimigo tão discreto quanto insidioso, que porá em causa uma paz que se julgava duradoura?”
Sem poder contar muito mais do que a sinopse já diz sobre o risco de estragar a leitura de quem já está a seguir esta aventura, posso apenas dizer que a história continua num ritmo intenso apesar de pausado, pois as camadas de desenvolvimento dos personagens são muito bem construídas. Todos os personagens têm características muito específicas e é fácil escolher os nossos preferidos.
Seja Eyren e os seus pássaros mágicos, Liriah e o seu demónio interior, o humor mordaz e as fortes cordas do elfo Sebeth ou o talismã com vários animais de sombras de Zendian, a criatividade brota de forma inesgotável e fluida. Todo o mundo de Enerelis é sem dúvida uma construção magnífica e idealizada de forma soberba pela autora.
Parabéns a Patrícia Costa por esta maravilhosa criação.
Quanto à edição, posso dizer que me agrada bastante, os livros são em capa mole, tendo uma boa generosidade de páginas, o papel escolhido foi acertado, apresentando boa gramagem e um ligeiro brilho que faz sobressair os negros do desenho.
As capas são coloridas assim como algumas páginas no interior por vezes apresentam vinhetas a cores, dando imediatamente a sensação de como seria esta aventura em anime, o visual é fantástico, mas desengane-se quem achar que o preto e branco de Patrícia Costa carece de cor.
O próximo livro, volume 6 saiu em Novembro de 2024 como nome Asas, dando início ao segundo ciclo das crónicas que vou certamente seguir a leitura com atenção, pois este mundo já me conquistou.