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2024 – O Ano de todas as Edições (Parte 2)

A confirmar a tendência nos últimos anos, novo relatório da APEL e de empresas internacionais de sondagem indicam que o mercado livreiro português de facto cresceu mais ainda no passado ano, em 9%, assim comprovando a saúde observada no sector e consagrando 2024 como o ano recordista de edições de Banda Desenhada em Portugal – até agora!…

2024 – O Ano de todas as Edições de BD

No final de 2024, publiquei um artigo – em versão resumida no Central Comics e integral no meu blogue – em que sintetizei o apreciável crescimento do mercado de banda desenhada em Portugal desde os anos da pandemia mundial, que traça um considerável aumento da produção e comércio no sector, principalmente motivado pela expressiva procura por romances gráficos e por obras manga, acompanhadas de perto pelo segmento de BDs infantil/juvenil.

O somatório de edições apurado indicou um total de 520 títulos editados, porém informações adquiridas posteriormente elevaram-no para 527 BDs; nesta soma constam livros profissionais, edições independentes (i.e. sem distribuição nacional ou de micro-tiragens), fanzines e reedições; comparativamente, o anterior ano recordista, em 2005, teve 490 títulos, considerando os mesmos critérios.

Na altura fiz também a ressalva de que a actual prática editorial de compilar várias obras num volume integral elevaria a contagem para 551 BDs, o que agora também sobe para 558 obras. Faltam à contagem algumas potenciais dezenas de fanzines mais clandestinos que são complicados de aferir à distância, sem se frequentar todas as feiras e festivais, os quais ainda mais iriam aumentar a contagem final, razão para ter optado por desconsiderá-los, dado serem de menor relevância no panorama editorial.

2024 – O Ano de todas as Edições de BD

Dividindo o total de 2024 em subgrupos, existem 306 títulos estrangeiros, 112 dos quais manga e 50 juvenis, mais 27 reedições neste grupo, e 177 obras são de origem portuguesa, criadas por autores nacionais ou em parceria com artistas estrangeiros, sendo 52 delas obras de edição profissional, 40 são independentes e 27 são fanzines, mais 17 reedições neste grupo.

Em relatório disponibilizado pela APEL (Agência Portuguesa de Editores e Livreiros) em 19 de Fevereiro de 2025, é aferido que o mercado livreiro português cresceu 9,4% no ano passado, superando os 205 milhões de euros em receita, o que equivale aproximadamente a 14 milhões de unidades vendidas. Esta análise representa cerca de 80% do mercado, o que reforça o comentário online do editor José de Freitas (A Seita), que refere que os dados de retalhistas que informam estes estudos não incluem vendas em festivais e feiras, ou vendas resultantes doutras fontes fora do painel das consultoras, como portais das editoras ou lojas especializadas, canais de comércio estes que, pela maior parte, representam uma substancial quota dos pontos de acesso dos leitores às edições e uma fonte directa de receita para os editores.

Embora seja falacioso fazer estimativas com base em dados incompletos, atendendo a que o sector da BD é apontado pela APEL representar 22-25% do mercado livreiro português, é razoável presumir que a receita desta área ronde os 45-51 milhões de euros e que englobe aproximadamente 3-3.500 milhões de álbuns vendidos. Fora, claro, a expressiva quantidade de lançamentos independentes e de álbuns vendidos em feiras e festivais, que arriscaria dizer representam no mínimo 1/4 de todas as compras de BD no país. Ou seja, o total de vendas do mercado de BD poderá chegar a totalizar de 4 milhões a 4.500 milhões de títulos(!).
Importa frisar que boa parte desta soma se deverá à venda de obras importadas, que o relatório salientou estar também em franco crescimento, nomeadamente em 20%, o dobro da taxa de aumento do mercado no seu todo.

2024 – O Ano de todas as Edições de BD

Portugal continua a ser, assim, uma referência para a Europa, pelas receitas superarem em termos percentuais as observadas em países como Alemanha, Bélgica, Espanha, França, Países Baixos e Suíça, embora tal se deva em boa parte aos custos superiores de P.V.P. cobrados por cá.

O novo presidente da APEL, Miguel Pauseiro, comenta que este crescimento continuado “constitui um sinal muito positivo para o sector do livro, mas que acima de tudo é auspicioso para o futuro do nosso país”, pois as vendas são principalmente atribuídas a leitores mais jovens. Porém, refere ainda que embora o balanço seja positivo, carece de consolidação, motivo pelo qual aproveitou a ocasião para indicar ser oportuno se “equacionar medidas de apoio à instalação de novas livrarias em muitas zonas do país onde há uma maior dificuldade de acesso ao livro, rever a Lei do Preço Fixo do Livro, e apoiar autores de língua portuguesa, de cuja capacidade criativa depende a existência de novas obras e para reforçar os orçamentos para aquisição de livros para bibliotecas municipais e escolares.”

2024 – O Ano de todas as Edições de BD

Podes ler a primeira parte na integra, aqui.

Daniel Maia

Artista de The Boy in the Bot vol1 e CoBrA: Operação Goa, e editor das antologias Abril, Cravos MilAurora Boreal em Reflexos Partilhados e Outras Bandas.

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