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Um olhar sobre as duas primeiras BD de “Quaresma o Decifrador”

“Fernando Pessoa tinha grande consideração pelo género policial, pois, segundo afirma, trata-se de um dos «poucos divertimentos intelectuais que ainda restam ao que resta de intelectual na humanidade».

Para além de um leitor entusiasta de todas as novidades que as editoras inglesas publicavam nesta área, Pessoa foi também, ao longo da sua vida literária, escritor de histórias policiais, dedicando a esta vertente da sua obra muito tempo e atenção.

Quaresma, Decifrador é o título geral que atribuiu ao conjunto das novelas policiárias. O fio condutor de todas elas é a figura de Abílio Fernandes Quaresma, médico sem clínica e decifrador de charadas, das do Almanach de Lembranças, sua leitura preferida, e das da vida real, uma figura paradoxal pelo contraste criado entre a debilidade física e o fulgor do raciocínio dedutivo. Raciocinador minucioso e analítico, tal como o autor, Quaresma é apresentado no «Prefácio» das novelas como um amigo de longa data, recentemente falecido, alguém que realmente conduz os seus passos pelas Ruas de Lisboa, tal como outros alter-egos pessoanos.”

Aqui apresentamos dois livros:

Em Quaresma, o Decifrador – O Caso do Quarto Fechado, somos apresentados a Abílio Quaresma, um médico sem clínica e ávido decifrador de charadas da vida real, que é chamado a consultar um cenário insólito, onde está em causa o suicídio aparente, mas difícil, por degolação, por alguém cuja personalidade ninguém suspeitaria capaz de tal e num quarto fechado por dentro.

Quaresma é uma personagem criada por Fernando Pessoa (1888-1935) há cerca de cem anos, protagonista de novelas policiárias desenvolvidas pelo poeta, um género muito popular nas primeiras décadas do século XX, que era, secretamente, o seu favorito. A escrita das mesmas deu-se durante várias décadas, num conjunto de treze contos – uns mais concluídos e longos do que outros, nos quais a personagem foi transformada numa figura complexa, digna do seu panteão de alter egos.

Em Quaresma, o Decifrador – Crime, o médico sem clínica, participa numa investigação realizada pelo seu amigo, o Inspector-Chefe Guedes, em que a morte – aparentemente acidental – de um indivíduo no cais, por afogamento, conta apenas com o testemunho do seu melhor amigo na facultação de dados para solucionar o enigma. Estará o raciocínio dedutivo de Quaresma à altura da dedução infalível do improvável desfecho?… Quaresma não julga – decifra. Caso encerrado!

Sobre o autor:

“Mário André é enfermeiro desportivo aposentado e dedica-se à banda desenhada desde 2015.

Em 2017, cria o selo editorial Kustom Rats e publica os fanzines Doce Êmese Canibal #1 e #2, A Garra e Comic Pamphlet, colaborando também nos títulos antológicos Venham +5 #10, Ponte #1 e vários Outras Bandas, este último editado pelo colectivo informal Tágide, que co-fundou em 2019. No mesmo ano, idealizou a Fanzineteca de Alpiarça, que coordena em regime de voluntariado.

Foi distinguido com duas menções honrosas nos concursos da BDteca: Salão de Banda Desenhada de Odemira, em 2017 e 2019, e foi nomeado na categoria Melhor Obra Curta do 2º Prémio Bandas Desenhadas ‘2020.

Com muito espaço para evoluir o seu traço, Mário André apresenta um desenho simples com um preto e branco coerente, capaz de transmitir carisma a estas obras clássicas de Fernando Pessoa que certamente muitas pessoas não devem conhecer nesta vertente do género policial, com um personagem que transmite uma aura de Dr. Watson com o intelecto de Holmes.

Com efeito, não restam dúvidas que Fernando Pessoa era fã de Sir Arthur Conan Doyle o que o terá inspirado a fazer obras deste género.

No primeiro volume podemos ver todo o raciocínio inteligente que Quaresma elabora para desvendar o crime do quarto fechado embora para quem for fã do género o mistério não seja muito difícil de desvendar. No segundo volume, o mistério é mais interessante, mas o conceito da reflexão, introspecção e pensamento elaborado do personagem principal mantém-se e caracteriza o estilo de obra.

O traço de Mário André é extremamente amador e como já referi, tem ainda muito caminho para evoluir sendo que se denota esta mesma evolução do primeiro para o segundo volume, nomeadamente no uso dos cinzas. No entanto, é de louvar a coragem do autor de se determinar a lançar uma obra desta envergadura, ou não estivéssemos a falar de algo que pertence ao maior poeta português de sempre, junto com Camões.

Sendo eu um grande apreciador da banda desenhada, imagino muitas vezes se estes poetas imortais tivessem feito bd.

Será que liam e gostavam de banda desenhada?
O meu pensamento leva-me a fantasiar parvoíces como, o pai do Fernando Pessoa dizer algo como:
– Oh Fernando! Deixa-te lá de poemas e faz umas tiras de jornal como este Calvin e Hobbes que é muito mais engraçado ohh!
– Pai, já te disse para não me chamares Fernando, sou Ricardo!
– Está bem Alberto, desculpa lá!

Já com o Camões deve ter sido mais grave e trágico, algo que a Mãe disse do género:
– Oh Camões bota um olhinho nestes dois artistas Goscinny e Uderzo, isto sim é que é leitura!
Levando assim à perda do seu querido olho e nunca querer ter nada a ver com banda desenhada.

Enfim …

Boas leituras

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