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Porque são canceladas tantas séries de TV?

Hoje em dia quando falamos em séries pensamos logo nas plataformas de streaming. Mas nem sempre foi assim e as mudanças nem sempre foram boas.

streaming tv

O aumento de qualidade das séries

Está nos olhos de todas a gente que nos últimos anos, as séries de TV experimentaram uma notável evolução em termos de qualidade. Mas isso não apareceu por acaso.

É visível que houve um substancial aumento nos investimentos em produção. Primeiro foi o aumento de canais de cabo, cada um a tentar superar o outro, mas depois chegou o streaming e “guerra” pelo melhor conteúdo aumentou exponencialmente fazendo com que a televisão, os estúdios e as plataformas passassem a direccionar cada vez mais orçamentos maiores, viabilizando melhorias significativas na cinematografia, efeitos especiais e elenco.

Além disso, as narrativas das séries tornaram-se mais complexas e maduras, muitas vezes equiparáveis aos guiões cinematográficos, o que atrai não apenas um público mais amplo, mas também espectadores mais envolvidos com enredos mais profundos e personagens mais complexas.

A entradas do streaming

A competição entre plataformas de streaming também impulsionou uma maior diversidade de conteúdo, levando à produção de séries únicas em termos de enredos, géneros e representatividade (embora esta pode ser uma faca de dois gumes, pois o movimento woke levanta outras questões), atendendo assim a uma ampla gama de interesses.

Com a maior liberdade criativa concedida aos criadores e argumentistas, principalmente em plataformas de streaming, assim como orçamentos maiores, permitiu a exploração de temas e conceitos mais ousados, uma maior capacidade de fazer maiores cenários, guarda-roupas mais minuciosos, efeitos especiais topo de gama, etc, etc.

Para não falar que, o acesso global às plataformas de streaming, tem permitido e facilitado que séries de diferentes culturas e regiões do mundo sejam compartilhadas e apreciadas, enriquecendo não só a oferta de conteúdo para os espectadores como também como fonte de conhecimento mutuo entre culturas, de forma que as produções vão bebendo aqui e ali e aperfeiçoando as suas técnicas.

E nem precisamos de ir muito longe. Quando olhamos para a qualidade técnica de séries portuguesas como Glória e Rabo de Peixe, ambas da Netflix ou até mesmo a recente nova temporada de Morangos Com Açucar, uma coprodução TVI com a Prime Video, apercebermos que estas ficam muito distantes para a grande maioria das produções portuguesas até então.

A frustração

Mas vivemos num tempo em que nunca estamos a salvo de ficarmos com a história a meio, com um grande gancho no último episódio de uma temporada, para poucas semanas depois termos a triste noticia que a série não foi renovada para uma nova temporada.

Não é fácil digerir, mas as séries nas plataformas de streaming podem ser canceladas por uma variedade de motivos, uns mais óbvios que os outros.

As razões mais obvias dos cancelamentos

A recepção crítica é importante. Críticas negativas, tanto dos espectadores quanto de especialistas, podem afetar a popularidade de uma série e levar ao seu cancelamento, especialmente se a plataforma preza pela qualidade e reputação de suas produções.

Mudanças na estratégia da plataforma são outra razão. Às vezes, uma plataforma altera o seu foco ou estratégia de conteúdo, cancelando séries para abrir espaço para novos tipos de programas que se alinhem melhor com seus objectivos.

E numa altura em que já só se pode pensar no agora, nos resultados imediatos, qualquer desleixo pode dar vantagem a outra plataforma da concorrência. Daí que a competição acirrada e as mudanças constantes no mercado de entretenimento também contribuem para essas decisões

Por isso, a constante busca por novas ideias e conteúdos originais é uma realidade no mundo do streaming. Isso muitas vezes significa sacrificar uma série em prol de uma nova produção que possa ser mais promissora em termos de atrair e reter assinantes.

Questões contratuais, licenciamento de propriedade intelectual e negociações entre os produtores, estúdios e plataformas também desempenham o seu papel no cancelamento de uma série.

É normal que os custos de produção desempenham um valor significativo. Se os gastos para produzir uma série excedem o retorno financeiro que ela gera, a plataforma pode decidir encerrá-la para evitar prejuízos. E o que regula estes valores é a audiência!

Esta é um ou “o” fator crucial, pois se as séries não conseguem atrair um número suficiente de espectadores, estas poderão começar a abandonar a plataforma e sem isso não há forma de cobrir os custos de produção. Resultado? Cancelamento! Não interessa se a história não tenha ficado finalizada, se os fãs venham barafustar para as redes sociais ou até que criem petições para a salvar. Os canais ou plataformas não perdoam (salvo raríssimas excepções).

E as menos obvias?

Bom, isto está relacionado com as audiências e foi algo que tenho vindo a notar há algum tempo. No entanto, ao assistir à série “O Clube da Meia-Noite” na Netflix, foi o que realmente me fez refletir sobre isto. Porquê? Bem, é uma série muito bem realizada, com uma cinematografia belíssima e um elenco jovem que, embora não seja excepcional, cumpre bem o seu papel. A premissa, baseada numa obra literária, também é bastante interessante. Portanto, tem todos os ingredientes principais para cativar o público.

No entanto, surge um problema: o primeiro episódio começa bem, estabelecendo o ambiente e permitindo que as personagens sejam gradualmente desenvolvidas para que o espectador crie uma ligação com elas. São 58 minutos de duração, mas nestas circunstâncias até é compreensível.

O desafio surge nos restantes 9 episódios da temporada, todos com durações entre 50 e 59 minutos, sem história suficiente para preencher quase 9 horas de exibição. O enredo é esticado num ritmo lento que, eventualmente, começa a tornar-se cansativo.

Antigamente, as séries concebidas para canais de televisão convencionais tinham uma duração aproximada de 40 minutos, com dois intervalos nos EUA, preenchendo uma hora de emissão. Além disso, era comum terem episódios autocontidos, com narrativas independentes em cada capítulo.

Atualmente, a tendência é para histórias contínuas, em episódios muito mais longos. O exemplo que referi anteriormente nem é dos mais extremos; é habitual encontrar séries com episódios entre 55 minutos e 1 hora e 15 minutos. Embora agora sejam mais curtas em número de episódios por temporada, pois de 20 a 24 episódios antigamente, o normal é agora vermos com 8 ou 10 episódios.

O cerne da questão é que não há enredo suficiente para manter o interesse durante tanto tempo. É normal chegar a meio de um episódio e perceber que praticamente nada aconteceu, o que cansa o espetador. Após terminar estes longos 65 minutos (por exemplo), que poderiam facilmente ser reduzidos para 40, a vontade de ver o próximo episódio não é muita. No dia seguinte, estreia uma nova série ou filme vibrante e acabamos por querer dar uma espreitadela neles, esquecendo um pouco a série que estávamos a acompanhar.

O abandono

Consequentemente, muitas destas séries acabam por ser deixadas para trás. Acabamos por removê-las da nossa lista porque, apesar de até gostarmos, quando vemos que o próximo episódio tem 70 minutos, quase como um filme, perdemos o interesse imediato.

Vivemos numa sociedade que consome conteúdos de forma rápida: Shorts, Reels, TikToks, tudo vídeos extremamente curtos. Se analisarmos as estatísticas, em vídeos de, por exemplo, 30 segundos, metade dos espetadores já desistiu quando chega a meio e passa para o próximo. Agora imaginem isso em epísódios de 1 hora!

Não entendo como é que as grandes redes televisivas em todo o mundo ainda não perceberam esta ‘pandemia’ dos episódios excessivamente longos sem conteúdo suficiente para justificar tal duração.

Um exemplo contrário a esta moda de episódios longos é Upload, da Prime Video. Aqui temos tudo bem compacto entre 30 a 40 minutos, num ritmo rápido e com alto poder de engajamento porque é quase impossível ver só um episódio isolado.

Conclusão

Ora com esse abandono das séries a meio, voltamos à questão das audiências, porque o que conta é quantos expectadores viram a temporada até ao fim, e não quantos viram o primeiro episódio. Por isso, e por muito que nos doa, a politica de cancelamentos das séries nas plataformas streaming vão continuar implacáveis.

 

Hoje em dia quando falamos em séries pensamos logo nas plataformas de streaming. Mas nem sempre foi assim e as mudanças nem sempre foram boas.

streaming tv

O aumento de qualidade das séries

Está nos olhos de todas a gente que nos últimos anos, as séries de TV experimentaram uma notável evolução em termos de qualidade. Mas isso não apareceu por acaso.

É visível que houve um substancial aumento nos investimentos em produção. Primeiro foi o aumento de canais de cabo, cada um a tentar superar o outro, mas depois chegou o streaming e “guerra” pelo melhor conteúdo aumentou exponencialmente fazendo com que a televisão, os estúdios e as plataformas passassem a direccionar cada vez mais orçamentos maiores, viabilizando melhorias significativas na cinematografia, efeitos especiais e elenco.

Além disso, as narrativas das séries tornaram-se mais complexas e maduras, muitas vezes equiparáveis aos guiões cinematográficos, o que atrai não apenas um público mais amplo, mas também espectadores mais envolvidos com enredos mais profundos e personagens mais complexas.

A entradas do streaming

A competição entre plataformas de streaming também impulsionou uma maior diversidade de conteúdo, levando à produção de séries únicas em termos de enredos, géneros e representatividade (embora esta pode ser uma faca de dois gumes, pois o movimento woke levanta outras questões), atendendo assim a uma ampla gama de interesses.

Com a maior liberdade criativa concedida aos criadores e argumentistas, principalmente em plataformas de streaming, assim como orçamentos maiores, permitiu a exploração de temas e conceitos mais ousados, uma maior capacidade de fazer maiores cenários, guarda-roupas mais minuciosos, efeitos especiais topo de gama, etc, etc.

Para não falar que, o acesso global às plataformas de streaming, tem permitido e facilitado que séries de diferentes culturas e regiões do mundo sejam compartilhadas e apreciadas, enriquecendo não só a oferta de conteúdo para os espectadores como também como fonte de conhecimento mutuo entre culturas, de forma que as produções vão bebendo aqui e ali e aperfeiçoando as suas técnicas.

E nem precisamos de ir muito longe. Quando olhamos para a qualidade técnica de séries portuguesas como Glória e Rabo de Peixe, ambas da Netflix ou até mesmo a recente nova temporada de Morangos Com Açucar, uma coprodução TVI com a Prime Video, apercebermos que estas ficam muito distantes para a grande maioria das produções portuguesas até então.

A frustração

Mas vivemos num tempo em que nunca estamos a salvo de ficarmos com a história a meio, com um grande gancho no último episódio de uma temporada, para poucas semanas depois termos a triste noticia que a série não foi renovada para uma nova temporada.

Não é fácil digerir, mas as séries nas plataformas de streaming podem ser canceladas por uma variedade de motivos, uns mais óbvios que os outros.

As razões mais obvias dos cancelamentos

A recepção crítica é importante. Críticas negativas, tanto dos espectadores quanto de especialistas, podem afetar a popularidade de uma série e levar ao seu cancelamento, especialmente se a plataforma preza pela qualidade e reputação de suas produções.

Mudanças na estratégia da plataforma são outra razão. Às vezes, uma plataforma altera o seu foco ou estratégia de conteúdo, cancelando séries para abrir espaço para novos tipos de programas que se alinhem melhor com seus objectivos.

E numa altura em que já só se pode pensar no agora, nos resultados imediatos, qualquer desleixo pode dar vantagem a outra plataforma da concorrência. Daí que a competição acirrada e as mudanças constantes no mercado de entretenimento também contribuem para essas decisões

Por isso, a constante busca por novas ideias e conteúdos originais é uma realidade no mundo do streaming. Isso muitas vezes significa sacrificar uma série em prol de uma nova produção que possa ser mais promissora em termos de atrair e reter assinantes.

Questões contratuais, licenciamento de propriedade intelectual e negociações entre os produtores, estúdios e plataformas também desempenham o seu papel no cancelamento de uma série.

É normal que os custos de produção desempenham um valor significativo. Se os gastos para produzir uma série excedem o retorno financeiro que ela gera, a plataforma pode decidir encerrá-la para evitar prejuízos. E o que regula estes valores é a audiência!

Esta é um ou “o” fator crucial, pois se as séries não conseguem atrair um número suficiente de espectadores, estas poderão começar a abandonar a plataforma e sem isso não há forma de cobrir os custos de produção. Resultado? Cancelamento! Não interessa se a história não tenha ficado finalizada, se os fãs venham barafustar para as redes sociais ou até que criem petições para a salvar. Os canais ou plataformas não perdoam (salvo raríssimas excepções).

E as menos obvias?

Bom, isto está relacionado com as audiências e foi algo que tenho vindo a notar há algum tempo. No entanto, ao assistir à série “O Clube da Meia-Noite” na Netflix, foi o que realmente me fez refletir sobre isto. Porquê? Bem, é uma série muito bem realizada, com uma cinematografia belíssima e um elenco jovem que, embora não seja excepcional, cumpre bem o seu papel. A premissa, baseada numa obra literária, também é bastante interessante. Portanto, tem todos os ingredientes principais para cativar o público.

No entanto, surge um problema: o primeiro episódio começa bem, estabelecendo o ambiente e permitindo que as personagens sejam gradualmente desenvolvidas para que o espectador crie uma ligação com elas. São 58 minutos de duração, mas nestas circunstâncias até é compreensível.

O desafio surge nos restantes 9 episódios da temporada, todos com durações entre 50 e 59 minutos, sem história suficiente para preencher quase 9 horas de exibição. O enredo é esticado num ritmo lento que, eventualmente, começa a tornar-se cansativo.

Antigamente, as séries concebidas para canais de televisão convencionais tinham uma duração aproximada de 40 minutos, com dois intervalos nos EUA, preenchendo uma hora de emissão. Além disso, era comum terem episódios autocontidos, com narrativas independentes em cada capítulo.

Atualmente, a tendência é para histórias contínuas, em episódios muito mais longos. O exemplo que referi anteriormente nem é dos mais extremos; é habitual encontrar séries com episódios entre 55 minutos e 1 hora e 15 minutos. Embora agora sejam mais curtas em número de episódios por temporada, pois de 20 a 24 episódios antigamente, o normal é agora vermos com 8 ou 10 episódios.

O cerne da questão é que não há enredo suficiente para manter o interesse durante tanto tempo. É normal chegar a meio de um episódio e perceber que praticamente nada aconteceu, o que cansa o espetador. Após terminar estes longos 65 minutos (por exemplo), que poderiam facilmente ser reduzidos para 40, a vontade de ver o próximo episódio não é muita. No dia seguinte, estreia uma nova série ou filme vibrante e acabamos por querer dar uma espreitadela neles, esquecendo um pouco a série que estávamos a acompanhar.

O abandono

Consequentemente, muitas destas séries acabam por ser deixadas para trás. Acabamos por removê-las da nossa lista porque, apesar de até gostarmos, quando vemos que o próximo episódio tem 70 minutos, quase como um filme, perdemos o interesse imediato.

Vivemos numa sociedade que consome conteúdos de forma rápida: Shorts, Reels, TikToks, tudo vídeos extremamente curtos. Se analisarmos as estatísticas, em vídeos de, por exemplo, 30 segundos, metade dos espetadores já desistiu quando chega a meio e passa para o próximo. Agora imaginem isso em epísódios de 1 hora!

Não entendo como é que as grandes redes televisivas em todo o mundo ainda não perceberam esta ‘pandemia’ dos episódios excessivamente longos sem conteúdo suficiente para justificar tal duração.

Um exemplo contrário a esta moda de episódios longos é Upload, da Prime Video. Aqui temos tudo bem compacto entre 30 a 40 minutos, num ritmo rápido e com alto poder de engajamento porque é quase impossível ver só um episódio isolado.

Conclusão

Ora com esse abandono das séries a meio, voltamos à questão das audiências, porque o que conta é quantos expectadores viram a temporada até ao fim, e não quantos viram o primeiro episódio. Por isso, e por muito que nos doa, a politica de cancelamentos das séries nas plataformas streaming vão continuar implacáveis.

 

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