É revelada a capa do novo álbum do ASTÉRIX!
A 21 de Outubro de 2021, Astérix, Obélix e Ideiafix estarão de volta para uma 39ª aventura , e a capa do novo álbum “Astérix e o Grifo” acaba de ser revelada!
O Central Comics já tinha revelado alguns detalhes, aqui!
Jean-Yves Ferri adianta mais alguns pormenores:
“Pela minha parte, no que diz respeito ao novo álbum Astérix e o Grifo, tudo começou com uma representação escultórica da Tarasca: um animal aterrador das lendas celtas… Será que os nossos antepassados acreditavam realmente na existência destes monstros bizarros?
É preciso dizer-se que, na Antiguidade romana, os exploradores eram raros e o mundo era em grande parte terra incognita. Todavia, a verdade é que elefantes ou rinocerontes, animais verdadeiramente extraordinários para um europeu daquela época, já tinham sido exibidos em Roma. Porque haveriam então os romanos de duvidar da existência de criaturas tão improváveis?
Não tinham já algumas delas (górgonas, centauros…) sido, antes deles, meticulosamente descritas pelos gregos antigos?
Tratava-se portanto de percorrer o bestiário mitológico e escolher o animal que iria estar no centro da trama. Metade águia, metade leão (e com orelhas de cavalo), enigmático q.b., acabei por optar pelo grifo!
Os romanos iriam a marchar, disso não havia dúvidas. Mas… e os gauleses? Como é que Astérix, Obélix e Ideiafix, acompanhados pelo druida Panoramix, iriam juntar-se à demanda épica e repleta de armadilhas em busca deste animal fantástico?
É o que ficarão a saber quando lerem este álbum. Não achavam que eu ia fazer como a deusa Wikipédia e contar já tudo, pois não?…”
O título do novo álbum é: Astérix e o Grifo
O anúncio deste novo álbum chegou um ano após o desaparecimento de Albert Uderzo. A esse propósito, Jean-Yves e Didier declaram:
O Albert confiou em nós para respeitarmos os valores das personagens que ele criou com René Goscinny, fazendo-as viver novas aventuras. É com muita emoção que, na sua ausência, prosseguimos a missão que ele nos confiou com este novo álbum, que esperamos venha a fazer as delícias dos leitores.
UM DESAFIO DE MONTA PARA QUEM DESENHA AS AVENTURAS DE ASTÉRIX DESDE 2013
Eis o que nos revela Didier Conrad:
«Cada novo álbum é um novo desafio! Em Astérix e a Transitálica (2017), por exemplo, foi o grande número de páginas com cavalos, de que o Albert tanto gostava. Para esta 39ª aventura, o meu colega Jean-Yves Ferri lançou-me o desafio de desenhar o frio!
Como não ser monótono quando se lida com paisagens completamente brancas? Um verdadeiro quebra-cabeças e muitas noites… em branco! A primeira vinheta do álbum em que essas paisagens espetaculares aparecem foi a vinheta mais fácil de desenhar e constitui um piscar de olhos simpático à coleção
(ver A Grande Travessia!): é completamente branca e descreve “uma estepe imensa e gelada coberta de nevoeiro”! Foi depois disso que a coisa se complicou!!»
UMA EXPEDIÇÃO AO TERRITÓRIO DOS… SÁRMATAS! QUEM ERAM OS SÁRMATAS?
No Ocidente europeu, Roma e a sua civilização bem instalada (apesar de uma certa aldeia gaulesa que resiste ainda e sempre ao invasor!). A Leste, o Barbaricum, esse vasto território desconhecido, selvagem e inexplorado, ocupado por povos de nomes estranhos. Entres esses, OS SÁRMATAS!
Os Sármatas eram um povo nómada que viveu a norte do Mar Negro entre o século VII a.C e o século VI da nossa era, substituindo-se aos Citas na Ucrânia, ocupando a planície húngara e dominando todas as estepes entre o Ural e o Danúbio. O que faz deles os antepassados dos Eslavos.
SÁRMATAS! QUEM ERAM OS SÁRMATAS?
baseado em Astérix, les peuples antiques expliqués, de Bernard-Pierre Molin, Éditions EPA (2020)
Os Sármatas são um povo nómada mencionado pela primeira vez no século V a.C. por Heródoto! Povos guerreiros, excelentes cavaleiros, dominavam todas as estepes entre o Ural e o Danúbio no dealbar da nossa era. Já presentes em algumas vinhetas de Astérix e a Transitálica, em 2017 (envolvidos na corrida juntamente com outros concorrentes), os Sármatas viviam nas estepes do extremo oriental da Europa e combateram os Persas aliando-se, numa primeira fase, aos seus primos Citas.
Mais tarde, no século II a.C., fizeram nova investida para suplantar estes últimos e dominar uma parte da Europa central. Hoje em dia, aliás, Polacos e Russos reivindicam uma herança «sarmática». Cultural e linguisticamente próximos dos Citas – ambos falam uma língua indo-iraniana –, os Sármatas partilham também com estes preocupações de paridade, razão por que as suas mulheres, vestidas e armadas como os homens, participam nos combates com grande determinação e furor.
Elas estão, aliás, na origem do mito das Amazonas, descrito por Heródoto. Os Sármatas tiveram um papel fundamental na Europa central e oriental, tanto em termos políticos como militares. Foram também importantes atores no domínio das trocas culturais, tecnológicas, comerciais e militares. Admiradores das técnicas de guerra dos Sármatas (entre outras coisas eram excelentes cavaleiros, sendo os Cossacos os herdeiros atuais desta grande tradição de cavaleiros-soldados), os Romanos vão utilizar vários Sármatas como mercenários e vão inclusivamente representar as suas cavalgadas na Coluna de Trajano, inaugurada em Roma em 113 d.C. Cem anos mais tarde, no século II, o exército sármata, composto por guerreiros de ambos os sexos, será subjugado pelos Godos, mas irá vingar-se apoiando o desembarque dos Hunos.
O grifo na Antiguidade
Por Hélène Bouillon, conservadora do Museu Louvre-Lens e doutorada em egiptologia. Especialista em relações entre o Egipto e o Próximo Oriente Antigos, é atualmente co-comissária da exposição Les Tables du Pouvoir e está a preparar um projeto em torno dos animais fantásticos.
Com que se parece um grifo? Onde encontramos os seus primeiros vestígios
O grifo é uma criatura mitológica envolta em mistério. E isto já dura há 5000 anos!
Tem corpo de leão e garras, asas e bico de ave de rapina. Os seus primeiros vestígios foram encontrados no Irão, impressos em argila: trata-se de impressões de selos que remontam a cerca de 3500 a.C. Na ausência de textos mitológicos, ninguém conhece o significado exato dessas imagens; mas sabe-se que elas circulavam pois, por volta da mesma época, há leões alados com cabeça de águia que são também representados no Egito, em paletas cosméticas esculpidas. Os especialistas pensam – sem certeza – que nessa época o grifo representa as forças brutas da natureza, uma vez que aparece a desfilar lado a lado com outros animais, quer selvagens (leões, touros) quer fantásticos (criaturas metade serpente, metade pantera).
No segundo milénio a.C., imagens do grifo aparecem no Levante (Anatólia e Chipre), nomeadamente em placas de marfim esculpidas a ornamentar tronos e leitos reais. O grifo é aí representado em posição sentada, com as asas abertas e exibindo um pequeno tufo nas penas. No mesmo período, viaja ao sabor das trocas comerciais em barcos da região de Canaã (costas das atuais Palestina, Síria e Líbano) e mais tarde, no primeiro milénio a.C., também em barcos fenícios e gregos, chegando às imediações do Mar Negro, onde passa a decorar as armas e o mobiliário de povos nómadas como os Citas. Para os Gregos, os grifos são os guardiões dos tesouros de Apolo e de Dioniso. Na mesma altura, o grifo é utilizado como elemento decorativo em vários palácios dos Persas Aqueménidas. Encontra-se ainda em tronos e louça cerimonial dos Frígios e dos Lídios, na Anatólia.
Qual o seu papel, o seu simbolismo, na mitologia?
O simbolismo do grifo evoluiu ao sabor das suas viagens, ao ser adotado por povos de civilizações tão distintas. Simboliza ao mesmo tempo a força (o corpo de leão), a vigilância (os olhos perscrutadores de águia) e a ferocidade (as garras e o bico pontiagudo de ave de rapina). Para os Egípcios, simboliza o rei vitorioso: os arqueólogos encontraram-no sobretudo em locais ligados à esfera real, nomeadamente em templos contíguos às pirâmides do terceiro milénio a.C. Certos peitorais (joias em ouro) do início do segundo milénio a.C. representam igualmente o rei sob a forma de um grifo a chacinar os estrangeiros. Por fim, é do grego que vem a nossa palavra “grifo” (séc. V a.C.), que significa “aquele que tem garras”.
Sob que forma o podemos encontrar no pós-Antiguidade? Qual o seu legado na Arte e na História contemporâneas?
O interessante é que, desde os seus primeiros vestígios no Irão, o grifo tem sempre
a mesma cabeça mas, à medida que vai sendo adotado por outros povos, tem tendência para mudar de penteado. Durante o primeiro milénio a.C., o grifo passa assim a exibir orelhas pontiagudas, à semelhança dos demónios mesopotâmicos. E é precisamente assim que aparece representado nos bestiários da Idade Média. Nesta época, e bem assim durante o Renascimento, surge em diversos brasões de armas. Em relatos de viagens como as de Marco Polo, lê-se que na Índia e na Etiópia foram avistados enormes grifos e que estes eram capazes de levantar elefantes com as suas garras para depois os largar contra o solo antes de os devorar.
O denominador comum de todas estas lendas é, pois, que o grifo é um animal mitológico forte e perigoso, temido e respeitado. Quanto à estátua de grifo representada na imagem de Astérix e o Grifo, esta corresponde perfeitamente à sua representação durante o primeiro milénio, adotada pelos Gregos e por todos os povos mediterrânicos até aos nossos dias, já que herdou duas pequenas orelhas pontiagudas. E – surpresa! – dir-se-ia que estamos aqui perante a maior representação escultórica conhecida do grifo!
A Capa:
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Co-criador e administrador do Central Comics desde 2001. É também legendador e paginador de banda desenhada, e ocasionalmente argumentista.