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Crítica – Não te Preocupes Querida

Em “Não te Preocupes Querida”, Alice (Florence Pugh) e o seu marido Jack (Harry Styles) vivem felizes num bairro idílico chamado Victory, um oásis privado no meio do deserto onde o sonho americano suburbano de meados do século 20 está em pleno vigor.

Todas as manhãs, as mulheres despedem-se dos seus maridos com um enorme sorriso, pois enquanto estes trabalham arduamente para suprir todas as necessidades, as suas únicas responsabilidades passam por manter a casa impecavelmente limpa e preparar um jantar elaborado ao cair da noite para receber os homens de braços abertos. Afinal, é graças a eles que têm o privilégio de morar num dos agregados habitacionais mais seguros do país. Um paraíso rodeado de palmeiras onde o verão parece não ter fim.

No entanto, a aparente tranquilidade e segurança da comunidade, liderada pelo carismático e enigmático Frank (Chris Pine), começa a desmoronar lentamente quando Alice vê a queda de um avião nos arredores do complexo habitacional. Preocupada, a protagonista decide quebrar as rígidas regras impostas pela comunidade para prestar socorro aos passageiros, mas, ao explorar as terras áridas que cercam Victory, começa a experienciar uma série de visões e pesadelos cada vez mais aterradores.

Convencida de que Frank esconde um grande segredo que ameaça as mulheres do bairro, Alice embarca numa perigosa busca que desencadeará o caos e a levará a descobrir o lado sombrio do suposto Éden onde mora.

Não te Preocupes Querida

Com uma premissa interessante, Não te Preocupes Querida é um drama repleto de mistério que, infelizmente, se perde ao revelar os enigmas que se escondem por detrás da falsa fachada de progresso e felicidade. Na sua segunda longa-metragem como realizadora, a também atriz Olivia Wilde cria um mundo fantástico saturado de cores pastel cuja artificialidade contrasta com as mentiras escondidas neste paraíso desértico, que idealiza um período caracterizado pelo boom da indústria no final da Segunda Guerra Mundial.

A atriz Florence Pugh, que já havia demonstrado a sua capacidade e talento para liderar um elenco, tanto em Midsommar como em Lady Macbeth, é quem carrega todo o peso do filme, consolidando o seu estatuto como uma das novas estrelas da indústria cinematográfica. Pugh leva o espectador da felicidade ao terror graças à sua interpretação intensa e extraordinária, superando os seus colegas de elenco, Harry Styles e Chris Pine, que cumprem nos seus papéis, mas não conseguem elevar o material ao mesmo nível de Florence. KiKi Layne, Gemma Chan e Nick Kroll completam o elenco desta história de mistério.

Sem entrar em spoilers, Não te Preocupes Querida tem uma mensagem importante que deve ressoar diante do crescente fervor patriótico, que muitas vezes lembra as décadas de 1950 e 1960 como uma época de glória para os Estados Unidos, esquecendo que, naquele período, a desigualdade de género e a injustiça racial eram dois dos muitos problemas que afligiam o país que estava longe de ser o suposto paraíso que, atualmente, muitos americanos lutam para reconstruir. Houve grandes trunfos em matéria de igualdade nos últimos 70 anos, pelo que idealizar tal estilo de vida é sinónimo de retrocesso social, não de progresso.

Não te Preocupes Querida

Infelizmente, a história demora muito tempo para decifrar os mistérios que Wilde apresenta e constrói no início do filme, pelo que, quando começam a ser revelados, a nossa paciência já se esgotou. Na tentativa de surpreender, Não te Preocupes Querida acaba por se tornar uma versão maior e mal sucedida de um episódio da série Black Mirror, onde as suas histórias incisivas e enigmáticas nos mostram o lado sinistro da humanidade. No entanto, aqui a mensagem é diluída num desenvolvimento letárgico e uma conclusão que deixa mais perguntas e pontas soltas do que respostas, descartando as ideias interessantes da sua premissa.

Embora a atuação de Florence Pugh e a realização de Olivia Wilde sejam merecedores de todos os elogios, Não te Preocupes Querida é um filme que será mais recordado pelos escândalos de bastidores, que chamaram a atenção dos tabloides nos últimos meses, do que pela experiência cinematográfica ou pela eficácia da sua mensagem no atual clima de divisão política e social nos Estados Unidos.

Nota Final: 6/10

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