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Crítica: Laranjas Sangrentas (2020)

Toda a gente odeia os franceses. Perguntem a qualquer pessoa, e estará no Top 5 de respostas. Melhor ainda, perguntem a um francês quem odeiam, chances são que respondam outro francês. É neste ódio de estimação que o mais recente filme de Jean-Christophe Meurisse, Laranjas Sangrentas, assenta num sentimento mútuo e universal, ao demonstrar numa comédia satírica a humanidade – e a falta dela – deste povo Europeu.

Seguimos as vidas de várias pessoas, desde um casal idoso que irá tentar saldar uma dívida das finanças ao vencerem uma competição de dança; o Ministro das Finanças, em água quente por fuga ao fisco; um advogado a tentar-se vingar na vida; e uma adolescente que simplesmente está preocupada com a transformação do seu corpo e o que isso significa. Para todos os efeitos, são pessoas relativamente comuns, que encontramos em qualquer sociedade. Apenas aqui, meramente por serem Franceses, estão integrados no seu próprio inferno, criado pelos seus compatriotas.

É assustadoramente fácil como nos deixamos levar pela narrativa, com um misto de sentimentos por todo o mal que está a acontecer a estas pessoas. Enquanto temos torcemos pelos idosos, esperamos que justiça seja feita e que o Ministro seja descoberto o quanto antes. Tudo enquanto temos nojo pela sociedade que criou as oportunidades para este desequilíbrio de classes.

Laranjas Sangrentas transforma-se diante dos nossos olhos, oferecendo uma visão da realidade de muitos que apenas tentam sobreviver com as condições que têm. Eventualmente, tudo o que sabemos sobre a vida vai ao ar, Se ao inicio parecia simplesmente um acompanhar da vida de um conjunto de pessoas com muito pouco em comum, o filme dá-nos um soco na barriga por acreditarmos na possibilidade de finais felizes, ao abrir uma ferida e esfregar sal nela, tirando prazer no choque que nos dá.

É aqui que encontramos a beleza da obra cinematográfica, na sua capacidade de mudar de géneros a um estalar de dedos, e rapidamente mudar a perspectiva sobre as personagens que conhecemos até este momento. É absolutamente aterrador o que o ser humano é capaz de fazer quando posto nas situações certas, ou erradas, para todos os efeitos; e é por isso que Jean-Christophe Meurisse demonstrou uma certa coragem neste filme. Porque ele, tal como toda a gente, também deverá odiar franceses. Mas o ódio é justificado, ao saber o que esta sociedade implacável é capaz de fazer àqueles mais vulneráveis, tentando o seu melhor.

Nota Final: 9/10

Laranjas Sangrentas foi o filme vencedor do Prémio do Público MOTELX em 2021, e está em exibição no Cinema Ideal.

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