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Cinema: Crítica – “Nana Nana Meu Menino”

A estreia de Carlos Moreira na realização cinematográfica traz-nos Nana Nana Meu Menino, um thriller psicológico que se distingue no panorama do cinema português pela sua intensidade dramática e abordagem minimalista.

Com uma narrativa centrada em dois profissionais de saúde cujos passados se entrelaçam de forma inesperada, o filme mantém o espectador numa tensão crescente, explorando a dinâmica entre as personagens.

A história ganha profundidade ao transformar o encontro entre Eduardo e Teresa num verdadeiro acto de contrição. À medida que segredos vêm à tona, ambos são forçados a confrontar as suas culpas e a procurar, de alguma forma, o perdão pelo passado. Este elemento confere ao filme uma carga emocional ainda mais intensa, transformando a “dor lombar de Teresa” em tensão psicológica e moral.

Nana Nana Meu Menino

A escolha de um cenário limitado para a acção demonstra a confiança do realizador na força do argumento e das interpretações. Adélia Pereira e Carlos Moreira sustentam – com a competência que lhes é possível – a atmosfera de mistério e inquietação que permeia a obra. A narrativa é habilmente conduzida, revelando aos poucos as camadas emocionais e os dilemas internos das personagens.

No entanto, um dos desafios do filme reside exatamente em apostar na simplicidade. Embora a narrativa consiga prender a atenção, a evolução da “consulta de fisioterapia” que está na origem da trama e a forte dependência do diálogo tornam algumas sequências com aspecto teatral. Além disso, a fusão entre drama e thriller psicológico por vezes gera um tom ambíguo, onde a tentativa de inserir momentos paralelos à história principal pode comprometer a tensão cuidadosamente construída.

A fotografia de Maria João Ribeiro oferece pormenores capazes de reforçarem a atmosfera claustrofóbica, enfatizando a incerteza e os conflitos internos das personagens. Já a banda sonora, também assinada por Carlos Moreira, intensifica a sensação de desconforto à medida que a história avança.

Um dos maiores desafios de Nana Nana Meu Menino não está apenas na sua produção, mas na própria dificuldade em garantir espaço para o cinema português nas salas de exibição. Num mercado dominado por produções de Hollywood e grandes distribuidoras, filmes independentes, como este, enfrentam obstáculos significativos para alcançar um público mais vasto. Apesar do interesse gerado no circuito natal do realizador, que acumula também os papéis de produtor, argumentista, ator, editor e compositor da banda sonora, é lamentável que obras nacionais com propostas inovadoras tenham dificuldades em obter a visibilidade que merecem.

Nana Nana Meu Menino

Em suma, Nana Nana Meu Menino é um projecto promissor que evidencia o talento emergente de Carlos Moreira. O filme mergulha habilmente nas complexidades do perdão e da redenção, oferecendo ao público uma experiência intrigante e emocionalmente densa, que merece atenção dos espectadores.

Nota: 6/10


Ricardo Lopes

Começou a caminhar nos alicerces de uma sala de cinema, cresceu entre cartazes de filmes e película. E o trabalho no meio audiovisual aconteceu naturalmente, estando presente desde a pré-produção até à exibição.

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