Cinema: Crítica – John Wick 4
A viagem de Johnatan Wick em busca de respostas para o seu luto aproxima-se do fim.
Foi em 2014 que conhecemos este Baba Yaga de Keanu Reeves, num intenso filme que procurava redefinir o cinema de acção ao focar-se na mesma.
A cinematografia e a coreografia complementavam-se numa obra que deu aso ao franchise de série B mais reconhecido do cinema moderno.
Mais que isso, o argumento cativava o espectador. John era o nosso guia para um cativante submundo de intriga e crime, Contudo, obrigado a sair da reforma, o próprio deparava-se também com o desconhecido, com mudanças no status quo, servindo como um excelente guia para o público e partilhando, com o mesmo, alguma da surpresa e fascínio que o filme oferecia.
Em 2019 o Tiago atribuiu a Wick 3 (Vulgo Implacável) “brilhantes coreografias de luta filmadas por vezes em surpreendentes longos takes“, resumindo perfeitamente a oferta de todos os filmes da série. A verdade é que o cliente sabe ao que vai, e voltamos para mais do mesmo da mesma forma que se volta a um restaurante mais carote duas ou três vezes ao ano: A qualidade está lá.
A narrativa oferece-nos Donnie Yen e Bill Skarsgård para andarem à chapada com Reeves. O talento do astro das artes marciais para construir icónes multifacetados não se perde aqui:
Caine é divertido e aterrorizante, fomentado um nível de empatia no público necessário para dar o devido peso ao seu personagem.
Por sua vez, Skarsgård faz o oposto; a sua arrogância e violência cria no espectador um profundo desdém, mais que ver Wick ganhar, queremos ver o Marquês de Gramont perder.
É necessário parabenizar novamente McShane, Fishbourne e o inesquecível Reddick.
O seu legado como ator é extenso, mas dadas as circunstâncias não podia deixar de o homenagear neste texto. O seu papel na franquia foi crucial para o crescimento da mesma, e será lembrado como Charon entre tantos outros magníficos desempenhos que teve durante a sua prolífera carreira. Os nossos sinceros agradecimentos por tudo o que nos deu!
É importante ainda dar os parabens a Shamier Anderson, que ao longo do filme acompanha a acção, bem como Hiroyuki Sanada, Clancy Brown, Natalia Tena e Scott Adkins.
A fotografia de Dan Laustsen, que entrou na franquia logo durante a sua primeira continuação, atinge aqui o seu exponente máximo. A luz e os enquadramentos, com um jeito quase que poético, complementam a narrativa e os textos, transmitindo tensão e emoção, grandiosidade nas mais amplas salas e nos mais subtis movimentos.
Os longos takes regressam melhores que nunca; sentimos todos os impactos, não através de desastrados cortes e shaky-cam, desenhados para esconder falhas sob pretexto de “imersão”, aqui, como nos westerns de outros tempos, sentimos cada golpe através do trabalho dos atores que tão bem os “vendem”.
Isso deve-se principalmente ao trabalho de Chad Stahelski, realizador e coreógrafo que, durante toda esta série, tem criado fantásticos combates e set-pieces.
Os cenários merecem particular destaque. Osaka, Berlim e Paris oferecem à plateia festins visuais, o mundo cresceu, a opulência toma foco principal, o resultado é fascinante.
Se tivesse de apontar defeitos ao filme falaria do desuso da personagem de Rina Sawayama. Compreendo que muito provavelmente prepara-se para um spin-off neste mesmo universo, mas a sua saída e, em geral toda a sua participação na longa-metragem, é demasiado súbita. Acaba por limitar-se a um cameo, uma enorme pena dado a prestação da mesma.
Ao sair da sala pensei que este seria um 10/10, e não me interpretem mal. É sem dúvida o auge de Wick no cinema, merecedor desse valor como filme de ação. No entanto, como crítico tenho de o associar a todo um panorama de cinema, e seria injusto para com este filme atribuir-lhe um valor perfeito quando sei que não o será para todos. Mesmo na sua competência, este Capítulo 4 desenvolve alguns defeitos, mas não deixa de estar entre as melhores longas metragens que tive o prazer de ver este ano.
A luta e o luto de John Wick continuam nesta que é a sua mais empolgante aventura até à data.
9/10
Mais opiniões de Ricardo Lopes e Hugo Jesus, aqui:
Jovem dos 7 ofícios com uma paixão enorme por tudo o que lhe ocupe tempo.
Jedi aos fins-de-semana!